L'Oréal abandona 'extra clara' e 'morena mais' em nomes de protetor solar
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A multinacional de cosméticos e maquiagens L'Oréal decidiu abolir definições como "extra clara", "clara", "morena" e "morena mais" nos seus protetores solares, nomes que costumam ter conotação racista. Outras nomenclaturas que deixam de ser usadas são "pele clara a média clara" e "pele média a negra".
Os produtos passam a ostentar uma escala numérica de cores, que vão de 1.0 a 6.0. Além disso, a empresa acaba de desenvolver 11 novas fórmulas de proteção solar com cor, que ampliam de 32 para 43 a oferta de tons para a pele brasileira.
A novidade chega às linhas Anthelios (marca La Roche-Posay), Solar Expertise (L'Oréal Paris) e Capital Soleil (Vichy), todas elas marcas do grupo L'Oréal -multinacional francesa que faturou 18,3 bilhões de euros (R$ 94 bilhões) no primeiro semestre deste ano, alta de 21% na comparação anual. No Brasil, as vendas avançaram 15% no período.
Uma campanha com as atrizes Taís Araújo e Larissa Manoela, que deve estrear em breve, vai anunciar as novidades para a linha Solar Expertise. Os investimentos não são revelados.
"Me causava certo desconforto, como consumidora negra, ver a denominação por tons de pele", disse à Folha a cientista Lívia Ferreira, do Laboratório Proteção Solar da L'Oréal Brasil e líder da rede de afinidades AfroSou, que está à frente do projeto da nova nomenclatura dos protetores com cor.
A AfroSou é uma das quatro redes de afinidades criadas entre colaboradores da L'Oréal Brasil (as demais são gênero, pessoas com deficiência e LGBTQIA+). Fundada em 2020, hoje conta com mais de cem integrantes e participa ativamente das discussões de negócio e marketing por meio dos conselhos consultivos -grupos de colaboradores que trazem a perspectiva dos consumidores à companhia.
"Com os lançamentos, passamos a atender melhor a gama de cor de pele das brasileiras", diz Humberto Martins, diretor da divisão Cosmetic da L'Oréal Brasil, ressaltando que o objetivo é representar a sociedade local, na qual 56% se autodeclaram negros ou pardos.
Para auxiliar a consumidora na hora da compra, foi criada uma escala indicativa na embalagem para sinalizar a tonalidade que o produto abrange e qual o nível de cobertura da fórmula. Os preços variam entre R$ 39,90 (Solar Expertise Anti Oleosidade, da L'Oréal Paris) e R$ 99,90 (Capital Soleil UV-Age Daily Fluido SPF50+, da Vichy).
"Existe um grande mito em torno da pele negra, de que ela seria mais resistente ao sol e, portanto, dispensaria o uso de proteção solar", diz Lívia. "Na verdade, na pele branca os efeitos da radiação ultravioleta são muito mais visíveis, esta é a diferença". Além disso, segundo Lívia, fototipos mais escuros também sofrem com manchas e fotoenvelhecimento sem a proteção adequada.
"O produto com FPS alto e que controla a oleosidade pode deixar a pele esbranquiçada -daí o desafio de fabricar um produto com cor que atendesse aos diferentes tons de pele da brasileira", afirma Martins.
A motivação para a nova nomenclatura surgiu de estudo feito pelo Estúdio Nina (agência especializada em consumidores negros), que ouviu dermatologistas, maquiadores, consumidores e outros especialistas negros, em parceria com a AfroSou. A pesquisa procurou entender como eram percebidos os antigos nomes adotados nos protetores com cor e quais as propostas para uma nova nomenclatura.
Brasil é o 3º maior mercado mundial em protetor solar, atrás de China e EUA A escala de cores, por sinal, já é usada nas maquiagens da L'Oréal Brasil. O país é o quarto maior mercado de beleza do mundo e onde está situado um dos sete centros globais de pesquisa e inovação da empresa.
Entre maquiagens, cosméticos e produtos de beleza, o grupo francês trabalha com 21 marcas no país, entre elas, L'Oréal Paris, Maybelline, Garnier, Niely, Colorama, Kérastase, L'Oréal Professionnel, RedKen, La Roche-Posay, Vichy e SkinCeuticals.
A L'Oréal é uma das líderes no mercado de protetores solar no Brasil, dominando com folga o segmento de protetores com cor.
De acordo com a consultoria Euromonitor, o Brasil é o terceiro maior mercado mundial de protetores solares (com ou sem cor), só atrás de China e Estados Unidos. A diferença de tamanho dois dois primeiros para o Brasil, no entanto, é grande: em dólar, as vendas de protetores solares no ano passado somaram US$ 2,4 bilhões (R$ 12,3 bilhões) na China, US$ 2,1 bilhões (R$ 10,8 bilhões) nos Estados Unidos e US$ 641 milhões (R$ 3,3 bilhões) no Brasil.
No passado, as marcas que mais venderam no Brasil foram Sundown (da Johnson & Johnson), com 20,3% de participação; Nivea Sun (da Beiersdorf), com 14,3%, e a La Roche-Posay (L'Oréal), com 13,7%.
A pele negra tem sido foco da atenção das multinacionais de beleza, como resposta às críticas por tratamentos que respeitem e valorizem os diferentes biotipos. Foi assim que a multinacional alemã de beleza Beiersdorf, dona da Nivea, lançou, em agosto, a linha Beleza Radiante, de hidratantes voltados à pele negra.
Segundo a Nivea, a linha foi desenvolvida a partir de pesquisas feitas com mais de 500 mulheres negras em diferentes países, como Brasil, África do Sul e Nigéria. Algumas das principais queixas deste público era pele seca, incômodo com estrias e tom de pele irregular.