Grupo põe fogo em barricadas e pede intervenção federal em Balneário Camboriú
BALNEÁRIO CAMBORIÚ, SC (FOLHAPRESS) - A PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina conseguiu desfazer 16 pontos de bloqueios em estradas federais. Segundo balanço das 13h50 desta terça-feira (1º) do órgão, há ainda 34 pontos de bloqueio e um de concentração e segue sendo o estado com maior número de pontos interditados. No Estado, o número de interrupções em estradas federais chegou a 51 desde a noite de segunda-feira (31). Em alguns pontos, após os agentes deixarem o local, a rodovia foi novamente fechada.
Um dos pontos ainda bloqueados fica em Balneário Camboriú, a 86 km de Florianópolis. Os manifestantes fecharam os dois sentidos da BR-101, próximo do km 138. O local fica a poucos metros da saída de um túnel -para quem vem de Florianópolis- considerada uma das entradas da cidade.
Na pista principal e nas secundárias foram feitas barricadas com pneus e pedaços de madeira. Em diversos pontos foi colocado fogo nesses materiais. O grupo também despejou terra no meio da estrada, formando pequenos montes. A reportagem presenciou quando um carro parou ao lado da terra e depositou mais pneus para reforçar a barricada.
Um furgão foi colocado na transversal da rodovia -na pista do sentido Balneário Camboriú a Florianópolis- e a poucos metros frente dele foi fixada uma faixa gigante com o pedido de "intervenção federal" em letras garrafais. Algumas pessoas usam camisetas da seleção e outras empunham a bandeira do Brasil. Desse lado, havia quatro caminhões parados no acostamento da rodovia - do outro lado havia cerca de 10, concentrados.
Poucos veículos são liberados para seguir viagem. "Apenas gestantes e ambulâncias são liberadas", grita um homem para um motorista de um carro. "Mas você pode ver se eles deixam passar", disse o homem, pedindo para o condutor seguir até o segundo ponto de abordagem. No outro sentido, um outro manifestante diz que carros de prefeituras também podem passar.
Durante o tempo que a reportagem ficou no local, não visualizou nenhum agente da PRF ou alguma tentativa de negociação para liberar o trecho. Numa roda de conversa, um homem diz para outro que, pela quantidade de pessoas que estavam ali, a polícia não iria intervir. "Uns 10 eles conseguem parar (retirar do local), mas 300 não.
"No local, um carro com uma caixa de som tocava desde o hino do Brasil até um funk, que, durante a campanha, foi utilizado por inúmeros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
E, em pelo menos três pontos do protesto, há barracas com alimentos para os manifestantes. "É só chegar e pegar", contou uma religiosa integrante da Igreja Católica Conservadora. Nesses pontos, é possível encontrar predominantemente água mineral engarrafada, mas também há bolo e outros alimentos.
Na conveniência de um posto de combustíveis próximo, um grupo de manifestantes aproveitava para se alimentar. Entre uma mordida e outra no lanche, comentam o que está circulando na imprensa: "E o Augusto Nunes que foi demitido da Jovem Pan?", relata uma mulher, vestida com a camisa do Brasil.
No caixa, a atendente garante que o movimento pouco mudou na conveniência desde domingo, quando iniciou o bloqueio no local. "Continua a mesma coisa, só tem mais gente do lado de fora."
AUTÔNOMO PERCORRE MAIS DE 6 KM PARA IR A PROTESTO
O autônomo Eduardo Nunes, 47, pegou a bicicleta da esposa e percorreu mais de 6 quilômetros para chegar até o ponto de bloqueio em Balneário Camboriú. "Não vim de carro porque achei que não teria onde deixar. Minha esposa está no trabalho, mas eu larguei meus compromissos para estar aqui."
Ele votou em Bolsonaro e chama de "mentira" o resultado do segundo turno das eleições, no qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente. "Não está sendo a realidade que a gente esperava. Então, eu estou aqui me manifestando".
"O presidente Bolsonaro fez tudo que pode pelo povo. E acredito que está fazendo. Eu respeito a opinião dele e estou com ele", complementa.
"Espero cumprir ordem sem uso da força", diz comandante da PM.
Em Santa Catarina, foi montado um gabinete de crise para tratar da situação nas rodovias. "O gabinete será presidido pelo Colegiado Superior de Segurança Pública e Perícia Oficial e contará com representantes de outros órgãos", disse o governo estadual em nota à imprensa.
Em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (1º), o comandante geral da PMSC (Polícia Militar de Santa Catarina), coronel Marcelo Pontes, disse que espera que as estradas sejam liberadas sem o uso da força.
"Espero que, ao longo do dia, a adesão voluntária e diante dessa negociação a gente consiga cumprir ordem sem uso da força. Em último caso faremos (uso da força) se for necessário", disse o coronel.
O oficial disse que a corporação está agindo desde a madrugada, quando foi emitida ordem judicial para liberação das rodovias. "Orientamos todos os nossos policiais rodoviárias que se façam presente em barreiras de posse do documento, da ordem, no sentido de sensibilizar os manifestantes, de liberar os pontos", disse Pontes.
Além disso, o coronel destaca que as negociações seguem um protocolo. Primeiro, começa com uma conversa e que, sem avanços, pode ocorrer o uso da força que será utilizada "em último momento", segundo Pontes."Visto que nesse movimento, diferente do de 2018, há crianças, mulheres e idosos. E a gente tem um cuidado do uso da força", destacou o comandante.