Bloqueios golpistas provocam atrasos, bate-bocas e transtornos para viajantes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Viagens de ônibus canceladas ou durando muito mais do que o previsto, horas em rodovias sem sinal de celular e nem banheiro, troca de roupa às pressas, voos perdidos e até o parto de um bebê. As manifestações golpistas iniciadas por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) após o resultado das eleições, em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso, trouxeram transtornos principalmente para quem foi pego no meio do caminho.
Na região de Caruaru (PE), a PRF (Polícia Rodoviária Federal) relatou o atendimento a uma mulher em trabalho parto. Ela estava presa em um bloqueio na BR-232 e precisou ser escoltada até um hospital.
Em outra ponta do país, no Paraná, o gerente comercial Fernando K. Weber, 35, teria passado mais de 24 horas na estrada não fosse a empresa em que trabalha enviar um carro para resgatá-lo. O pai dele, Fernando Weber, 59, conta que o filho embarcou em Porto Alegre (RS) na segunda, às 19h, e chegaria a Curitiba no início na manhã.
Cerca de três horas antes de chegar ao destino, o ônibus em que estava ficou parado na BR-116. "O sinal de celular é horrível onde está, a empresa de ônibus não está dando assistência, como alimentação e hospedagem, e eles ficaram sem nenhuma notícia de quando ocorrerá esse desbloqueio."
No interior do Rio Grande do Sul, em Bom Jesus, a professora Marines dos Santos Becker, 56, voltava para a cidade com mais três pessoas, quando foi barrada por cerca de 20 manifestantes com carros e caminhonetes. "Ficamos uns dez minutos ali, discutimos com dois senhores, até que um disse para 'deixar a petezada passar'."
No Rio de Janeiro, na altura do município de Duque de Caxias, o professor Danilo Marques de Magalhães, 38, e a mulher viveram momentos de tensão na noite de segunda (31). Ambos usavam roupas que que permitiam identificar que haviam votado em Lula.
Mineiros, os dois foram para Belo Horizonte para votar e voltavam para o Rio de Janeiro (RJ), onde moram. Por volta de 20h, perceberam dois bloqueios na BR-040, na altura de Duque de Caxias. Ao volante, Magalhães vestiu uma blusa de frio, e a mulher correu para trocar a peça que usava.
"Eram todos homens, predominantemente jovens adultos, entre 18 e 40 anos, bebiam, gritavam palavras hostis, agiam de modo agressivo e empunhavam bastões de ferro e madeira."
A vigilante Maiara Alorrainy de Azevedo, 24, conta ter precisado "entrar no meio de um matagal" para fazer xixi, durante a espera de dez horas na serra da Garuva, entre Curitiba e Joinville (SC). Segundo ela, depois de cerca de seis horas na estrada, a PRF liberou o retorno para Curitiba. A "meia volta" não resolveu o problema.
"Pagamos pedágios nos dois sentidos para ficarmos parados", diz. "Foi um terror, tenho minha mãe idosa sozinha em casa precisando de mim."
Em Florianópolis (SC), o marinheiro Ivan Sacha, 25, esperava retornar para Itajaí (SC) na segunda (31), quando descobriu que as duas empresas de ônibus que operam as linhas para a cidade estão fora de operação por causa das interdições nas rodovias. "Fui na rodoviária e só dizem que não há previsão. Preciso trabalhar."
Em São Paulo, o designer de acessórios e sapatos Leo Sgotti, 44, passou por situação semelhante. Chegou à rodoviária do Tietê à meia-noite, na expectativa de embarcar para Franca, no interior do estado, mas não conseguiu. Precisou cancelar reuniões agendadas para o decorrer da semana.
"Disseram que já havia passageiros há mais de 20 horas parados dentro dos ônibus nas estradas e que não poderiam se responsabilizar por colocar mais gente nessa situação. Nos deram a previsão para os dias 2 e 3."
Em Belo Horizonte (MG), o psicólogo Roberto Patrus Mundim Pena, 55, levou duas horas para fazer um percurso que, em situações normais, leva cerca de 45 minutos. Chegou ao aeroporto de Confins com o embarque já encerrado.
Acomodado em um voo para o início da manhã de terça (1º), optou por uma diária em um hotel nos arredores. "Dei a sorte de ter esse voo de manhã, só fiquei com o prejuízo de pagar o hotel."