Bolsonaro se diz preocupado com desabastecimento e nega envolvimento em protestos, afirma presidente de associação

Por MÔNICA BERGAMO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) classificou as manifestações bolsonaristas que promovem bloqueios em estradas de todo o país como "orgânicas" e disse não ter nenhuma participação em sua realização, afirma o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi.

Os dois conversaram por telefone nesta terça-feira (1º), antes que o mandatário fosse a público fazer o seu primeiro pronunciamento após as eleições. O resultado do pleito, que deu vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é contestado por seus apoiadores e motiva os protestos.

Na noite de segunda-feira (31), Galassi havia enviado uma mensagem ao presidente pedindo apoio ao setor, que já começava a enfrentar dificuldades de abastecimento por causa das paralisações.

"Primeiro, ele comentou que as manifestações foram orgânicas, que ele não tem nenhuma participação. E [disse] que ele queria saber, estava preocupado com abastecimento, [queria saber] como que estava [a situação]. Eu comentei que íamos fazer um balanço no final do dia", relata o presidente da Abras sobre a ligação.

Segundo João Carlos Galassi, Jair Bolsonaro teria perguntado ainda se a população estava sendo atendida. "Ele sempre teve um movimento de se preocupar", afirma ele à reportagem.

O presidente da República quebrou nesta terça-feira um silêncio de 45 horas após o resultado do segundo turno. Durante seu pronunciamento, ele atribuiu a existência de atos de teor golpista "à indignação e injustiça com a eleição".

"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral", afirmou o mandatário. Bolsonaro evitou classificar como violentos os movimentos ou mesmo usar palavras negativas para descrevê-los.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", completou.

Para o presidente da Abras, a fala, ainda que sucinta, foi explícita e importante. "A mensagem do presidente foi clara. Ele falou que ele não apoia manifestações que proíbam o livre deslocamento", afirma Galassi.

"Todos têm direito de se manifestar, independentemente de qualquer que seja o tipo de manifestação, desde que seja tranquila e que não afete o abastecimento", continua. "Me deixou mais tranquilo."

Um levantamento da Abras apontou que mais de 70% dos supermercados nas regiões mais afetadas pelos bloqueios nas rodovias enfrentam problemas de abastecimento, e até sexta-feira (4), consumidores de todo o país podem ter dificuldade para comprar frutas, verduras e legumes.

Carnes, laticínios e produtos de padaria também estão entre os que mais sofrem com os bloqueios, porque estragam no caminho.

De acordo com Marcio Mila, vice-presidente da associação, mesmo que o fluxo de veículos esteja praticamente normalizado, os bloqueios feitos por em mais de 300 estradas brasileiras vai refletir em desabastecimento dentro de três dias.

"Nos preocupa também porque os movimentos de consumidores se intensificaram nos supermercados na tarde de hoje", afirma o representante da Abras.

João Galassi diz que é preciso aguardar as próximas horas para saber quais serão os efeitos da fala do presidente Jair Bolsonaro sobre as interdições que dificultam o abastecimento. "Precisamos ter um pouquinho mais de tempo para saber se realmente as coisas estão se acalmando ou não", diz.