Dólar dispara e Bolsa cai 2,5% após alta inesperada da inflação

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar disparava frente ao real nesta quinta-feira (10) refletindo temores domésticos sobre a agenda fiscal do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto investidores digeriam os dados do IPCA de outubro, que mostravam uma aceleração da inflação doméstica.

Por volta das 12h, o dólar comercial à vista disparava 2,56%, cotado a R$ 5,3170. O Ibovespa, índice referência da Bolsa de Valores brasileira, tombava 2,74%.

Após três meses consecutivos de deflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a subir em outubro, informou nesta quinta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Puxado pelos alimentos, o indicador oficial de inflação do país teve alta de 0,59% no mês passado. A taxa ficou acima das projeções de analistas consultados pela agência Bloomberg, que esperavam avanço de 0,49%.

Nesta quarta-feira (9), a frustração de investidores internacionais com o desempenho abaixo do esperado do Partido Republicano nas eleições de meio de mandato provocou alta global do dólar e tirou força dos mercados de ações, incluindo o brasileiro.

No câmbio doméstico, o dólar comercial à vista fechou em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,1840.

Na Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa recuou 2,22%, aos 113.580 pontos. O tombo de quase 18% das ações do Bradesco, após um resultado trimestral que desapontou investidores, também contribuiu para o desempenho negativo do índice.

O banco sofreu a sua maior queda diária na Bolsa em mais de duas décadas e perdeu quase R$ 31 bilhões em valor de mercado nesta sessão.

Nos Estados Unidos, o sentimento de aversão ao risco interrompeu uma sequência de três altas da Bolsa de Nova York e gerou maior procura por investimentos de renda fixa ligados ao Tesouro, o que consequentemente tornou o dólar mais caro no resto do mundo. O índice que compara a moeda americana a outras divisas subiu mais de 0,70%.

Parâmetro para o mercado acionário dos EUA, o indicador S&P 500 perdeu 2,08% nesta sessão. As ações da Walt Disney mergulharam 13%, o maior tombo desde setembro de 2001, devido ao balanço trimestral que desagradou investidores. Na contramão, as ações da Meta subiram 5,18% após a empresa dona do Facebook ter anunciado a demissão de mais de 11 mil trabalhadores.

Apesar dos impactos dos resultados empresariais nos mercados do Brasil e dos EUA, analistas apontaram a eleição americana como o evento com maior influência sobre os negócios nesta quarta.

Investidores locais também seguem acompanhando especulações sobre quem será o ministro da área econômica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta terça-feira (8), a equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou que contará com os economistas Persio Arida e André Lara Resende. Financistas cobravam da nova gestão nomes técnicos e mais alinhados ao mercado.

Além de Arida e Resende, também farão parte da transição o economista Guilherme Mello, professor da Unicamp e ligado ao PT, e Nelson Barbosa, que foi ministro da Fazenda e do Planejamento no governo de Dilma Rousseff.

Com isso, há uma divisão da área entre dois economistas com histórico liberal (Arida e Resende) e dois representantes diretos do partido (Barbosa e Mello), que defendem a flexibilização do teto de gastos para atender demandas sociais.

A perspectiva de inclusão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na transição, conforme adiantou o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), também gerou reclamações entre participantes do mercado.

Alguns disseram, porém, que a desconfiança pode ser amenizada caso o novo governo apresente um "waiver", que nesse contexto significa licença para gastar acima do teto de gastos, de R$ 170 bilhões, abaixo dos R$ 200 bilhões inicialmente estimados.