Jovens de escola pública vão fazer imersão de empreendedorismo nos EUA

Por TATIANA CAVALCANTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o objetivo de formar novos empreendedores e estimular a economia regional, 50 estudantes de escolas públicas brasileiras vão passar por um intercâmbio de 19 dias nos EUA. A iniciativa é da embaixada americana e conta com a participação de 25 estados brasileiros e o Distrito Federal.

O programa Jovens Embaixadores, que esse ano completou 20 anos, busca estudantes criativos que já exerçam algum tipo de liderança em seu bairro, para que eles voltem da experiência com uma ideia ou produto que beneficie a comunidade.

A embaixada incentiva os candidatos, que passam por prova escrita e oral de inglês, a participarem de ações com foco em inclusão social, educação, cultura, crédito comunitário, mobilidade urbana, igualdade de gênero e raça, ambiente e empoderamento, entre outros temas.

Nathaly Shige Silva, 17, foi uma das selecionadas do estado. Ela é estudante do 3º ano do ensino médio com habilitação profissional de técnico em administração na Etec (Escola Técnica Estadual) Martin Luther King, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Presidente e fundadora de uma instituição sem fins lucrativos voltada a promover a equidade de gênero, ela pretende voltar do intercâmbio com mais experiência para ajudar mulheres ao seu redor a conquistarem mais espaços de liderança.

Um dos projetos a que se dedicou, diz, foi um movimento para a aprovação do programa Dignidade Íntima, do governo estadual, que distribui absorventes gratuitamente na rede pública de ensino.

"[O intercâmbio] É uma forma de abrir as portas para outros jovens de baixa renda. Quero compartilhar essa experiência com a minha comunidade e que essa oportunidade inspire meus colegas e meus irmãos mais novos", afirma Nathaly, que pretende cursar economia na Universidade Stanford.

Para o diretor da Etec Martin Luther King, Valdir Ferri Ross, há muitos alunos com potencial na rede pública, mas que, às vezes, precisam de um "empurrãozinho" para colocar essa habilidade em prática.

"Há muitos talentos, é só deixar aflorar, como nesse intercâmbio. A gente tem estrutura boa, principalmente dentro do Centro Paula Souza, que hoje é referência ao lidar com desenvolvimento dos alunos para que eles sejam protagonistas dos projetos", afirma Ross.

Todos os alunos selecionados já tiveram uma experiência social nas suas comunidades, de acordo com Todd Miyahira, adido cultural da embaixada americana. Durante a viagem, eles vão visitar escolas da região e farão apresentações sobre o Brasil.

"Essa [questão do social] foi uma das perguntas que estávamos fazendo nas entrevistas, para entender mais da experiência e da visão daquele jovem e de como ele pode melhorar sua comunidade", afirma.

Miyahira cita Jean Pereira dos Santos, 17, que cursa o 2º ano da rede estadual de Goiás. Sem um lugar para aprender, o jovem tem aulas em uma escola emprestada pelo município, dentro da comunidade quilombola Kalunga Engenho 2, em Cavalcante (GO), onde ele vive com a família.

Jean teve que percorrer 200 quilômetros para fazer a prova escrita online, porque a qualidade da internet no quilombo não é boa e há quedas constantes de luz, diz. Ele já pensou em ser médico, mas estudar inglês para se preparar para o intercâmbio despertou nele o desejo de ser diplomata.

"Farei um projeto empreendedor voltado para a educação, com o objetivo de formar guias. Em Cavalcante, muita gente trabalha com turismo por nossas belezas naturais e cachoeiras. Se todo mundo tivesse a segunda língua, poderíamos receber mais visitantes", afirma Jean.

"A gente quer trabalhar e fortalecer as habilidades deles para que consigam deslanchar e crescer como jovens cidadãos, conscientes, e que queiram fazer a diferença em suas comunidades. Quando os dois países caminham juntos, eles crescem juntos", diz Márcia Mizuno, assessora cultural da embaixada.

Dara Emanuelle Ataíde Oliveira, 15, estudante do 1º ano de um instituto público em Teresina (PI), afirma que gostaria de conhecer o presidente americano, Joe Biden. "Vamos à Casa Branca. Eu estou ansiosa, pois vamos conhecer uma autoridade do governo, uma incrível oportunidade."

Escolhido do Acre, o estudante do 2º ano do ensino médio Jeferson Nascimento, 16, dá aulas virtuais de inglês e também deseja desenvolver um projeto voltado à educação.

"Criei um centro de línguas que fornece curso online a quem não pode pagar. Quero expandir para o presencial quando eu voltar com a experiência do intercâmbio. Sem apoio à educação, o país não vai para frente", diz.

Os estudantes selecionados serão separados em grupos e distribuídos entre os estados americanos da Flórida, Alabama, Michigan e Carolina do Norte.

No retorno, os 50 alunos vão receber monitoria de ex-participantes do programa para prosseguir com os projetos, segundo Miyahira.