Economistas elogiam eleição de Ilan, mas temem descompasso com governo eleito
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O anúncio de que o economista Ilan Goldfajn irá comandar o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) foi recebido com otimismo pela maior parte dos economistas ouvidos pela Folha ou que se manifestaram em suas redes sociais neste domingo (20).
Ao mesmo tempo, há uma preocupação com um possível descompasso entre a futura gestão do economista na instituição e o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nascido em Israel e radicado no Brasil, ele é formado em economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com doutorado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e foi indicado ao posto ainda pelo governo Jair Bolsonaro.
Em razão disso, houve pressão contra a sua candidatura por parte do PT após a eleição de Lula. O ex-ministro petista da Fazenda Guido Mantega chegou a enviar um email à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, no qual que o pleito fosse adiado por 45 a 60 dias. Na quinta-feira (17), Mantega renunciou ao seu cargo na equipe de transição do governo.
Ainda assim, Goldfajn foi eleito em primeiro turno, com votos que representam 80% do capital da entidade e assume o cargo em 19 de dezembro.
Após o anúncio, o também ex-presidente do BC Arminio Fraga disse que ficou muito contente com o resultado. "É bom para o BID e um luxo para o Brasil ter uma pessoa tão qualificada para indicar."
Para Pedro Paulo Zahluth Bastos, da Unicamp, no entanto, ainda que se comemore a escolha de um brasileiro para presidir a instituição, não é possível esquecer que havia uma resistência à candidatura, que não era um consenso entre os economistas.
"Isso se explica por ele não ser um nome vinculado aos bancos públicos de desenvolvimento, ao contrário, sempre fez parte do grupo ligado aos bancos privados e que criticava a oferta de crédito com juros subsidiados, vendo equivocadamente essa política como algo que provocava inflação."
Também na avaliação do professor, Goldfajn se comportou como "falcão" na presidência do BC, ao determinar taxas de juros extremamente elevadas em 2016 e aumento da recessão, mesmo após a estabilização do dólar, o que teria postergado a recuperação do país.
"Em terceiro lugar, Guedes antecipou a indicação sem dialogar com a equipe petista. Essa pressa levanta uma desconfiança sobre o tipo de política que Goldfajn pretende implementar no BID", complementa.
Já na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, além do fato histórico de ser o primeiro brasileiro a presidir a instituição, ele é um dos melhores economistas do país.
"Já demonstrou isso na passagem com sucesso pelo BC e fará uma grande gestão, não vejo nenhuma dificuldade entre o futuro governo Lula e ele. O erro teria sido manter a postura anterior contra Ilan", afirma.
Sobre o episódio com Mantega, Vale diz que o ocorrido poderia ter causado um grande estrago, mas a força do nome de Ilan conseguiu se sobrepor ao atrito.
"A saída de Mantega da equipe auxiliar é um sinal de que, talvez, possa haver um caminho fiscal mais positivo a ser construído, apesar de isso ainda não ter acontecido. De qualquer maneira, certamente é algo superado."
A escolha de Goldfajn também foi comentada por alguns de seus pares, em seus perfis no Twitter.
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, felicitou o colega. "Sua eleição, com mais de 80% dos votos, é um reconhecimento de sua extrema capacidade e da experiência de quem serviu a diversos governos e organismos internacionais. É uma vitória para o país inteiro."
Após o anúncio de que o brasileiro irá liderar a instituição nos próximos cinco anos, a economista Monica de Bolle escreveu, em um post em inglês, que "ele foi eleito apesar da grosseira incompetência política do [ministro da Economia] Paulo Guedes, em indicar alguém dois dias antes do segundo turno no Brasil".
O secretário da Fazenda do estado de São Paulo, Felipe Salto, também parabenizou o economista pelo anúncio. "A conquista da presidência do BID coroa a carreira de um profissional impecável, que é referência para todos nós. Motivo de orgulho para o Brasil."
"Excelente notícia para a América Latina que Ilan Goldfajn, um tecnocrata altamente competente, foi escolhido como o novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento", escreveu Michael Reid, colunista especializado em América Latina da revista The Economist.
Além dos economistas, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), aproveitou para aparar as arestas e também parabenizou Goldfajn em um post na rede social. Ele reforçou "a disposição do Brasil em estreitar os laços com o banco pelo desenvolvimento econômico e social da nossa região".
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) Fundado em 1959 Seus recursos vêm dos seus 48 países membros e de captações nos mercados financeiros, entre outras fontes O poder de voto é proporcional ao capital subscrito pelo país Os EUA são o país com maior poder de voto na instituição, 30%, Brasil e Argentina têm 11,4% ambos Cada país membro indica um governador, geralmente, o ministro da Fazenda ou Economia US$ 23,4 bilhões foi o valor da carteira de financiamento do banco para projetos em 2021 Países membros Alemanha, Argentina, Áustria, Bahamas, Barbados, Bélgica, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Croácia, Dinamarca, El Salvador, Equador, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Israel, Itália, Jamaica, Japão, México, Nicarágua, Noruega, Países Baixos, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Reino Unido, República da Coreia, República Dominicana, Suécia, Suíça, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela
Presidente do BID Eleito pela Assembleia de Governadores Responsável pela condução do dia a dia Nas sessões da diretoria executiva não vota, exceto em caso de empate Fonte: BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)