Dólar cai após tom conciliador de Lula, mas tombo do petróleo faz Bolsa cair
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar permanecia em queda na tarde desta segunda-feira (21), apesar da força da moeda americana no exterior e do viés de baixa do mercado global de ações.
Enquanto investidores reagiam positivamente a falas recentes mais conciliadoras do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a política fiscal do país, a expectativa de retomada de restrições de combate à Covid na China e notícias de provável aumento na produção de petróleo pela Opep (cartel de países produtores) apagavam os ganhos das primeiras horas do dia na Bolsa de Valores brasileira.
Às 13h45, o dólar à vista recuava 0,76%, a R$ 5,3370 na venda. O Ibovespa, referência para a Bolsa, caía 0,13%, aos 108.728 pontos.
As ações da mineradora Vale e da petrolífera Petrobras recuavam 2,36% e 0,86%, respectivamente. Grandes exportadoras de matérias-primas para a China, essas empresas têm grande peso no Ibovespa.
O petróleo Brent, que é parâmetro para os preços praticados pela Petrobras, afundava 5,39%, a US$ 82,90 (R$ 481) por barril. É o menor valor desde janeiro.
Nos Estados Unidos, os principais indicadores do mercado de ações recuavam. O S&P 500, parâmetro da Bolsa de Nova York, perdia 0,56%.
No início do dia, porém, o Ibovespa chegou a subir mais de 1%. Investidores se mostravam aliviados após declarações do presidente eleito no último sábado. Lula disse, durante um evento em Lisboa, que a responsabilidade fiscal é importante, mas que o investimento para melhorar a economia e o bem-estar no país também é.
"Nós sabemos que temos de ter responsabilidade fiscal. Não podemos gastar mais do que a gente ganha. Mas nós sabemos também que a gente pode gastar para fazer alguma coisa que tenha rentabilidade, para fazer o país crescer, melhorar", comentou.
Na quinta-feira (17), críticas do presidente eleito à regra que limita gastos públicos trouxeram turbulências aos negócios.
Na semana passada, o dólar fechou com uma alta semanal de 0,99%, enquanto a Bolsa de Valores do país sofreu uma baixa de 3%.
Revelando que o mercado espera mais inflação diante da pressão por gastos públicos, a taxa de juros DI (depósitos interbancários) para 2024, uma referência para o crédito de curto prazo, subiu pelo terceiro dia consecutivo na sexta-feira (18), chegando perto dos 14,4% ao ano. Nesta segunda, esse indicador recuava para 14,2%.
Lula defendeu, na quinta, durante um discurso na COP27, furar o teto de gastos para conseguir financiar programas sociais.
"Se eu falar isso vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência", disse Lula na conferência do clima da ONU que ocorre em Sharm el-Sheikh, no Egito. O petista afirmou ainda que a flutuação dos índices não acontece "por causa das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que ficam especulando todo santo dia".
Participantes do mercado já discutem a possibilidade de que a taxa básica de juros possa avançar a 15% no próximo ano, a depender dos rumos do debate fiscal, segundo Rafael Marques, economista da Philos Invest.
Parte do mercado, porém, conta com a possibilidade de que a PEC da Transição, que amplia os gastos, seja enxugada no Congresso.
Fontes envolvidas nas negociações da PEC ouvidas pela agência Reuters disseram que aliados do novo governo admitem que terão de ceder durante as negociações do texto e definir um prazo da exceção ao teto para que a proposta avance a tempo de ser promulgada pelo Congresso ainda neste ano.
Em um aceno do novo governo à responsabilidade fiscal, o ex-ministro Aloizio Mercadante, que coordena os grupos técnicos da transição de governo, indicou que isenções fiscais estão sob análise e essa pode ser uma maneira de elevar as receitas futuras da administração federal, sem aumento da carga tributária.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou na quinta que a reação do mercado à PEC da Transição é momentânea e será superada, e garantiu que o governo Lula vai discutir um novo arcabouço fiscal com o tempo.
PARANÁ QUER PRIVATIZAR COPEL E AÇÕES DISPARAM
A elétrica paranaense Copel informou nesta segunda-feira que recebeu do governo do Paraná, seu controlador, um comunicado sobre a intenção do Estado de transformar a elétrica em companhia de capital disperso, sem acionista controlador, o que levou a ações a dispararem 24% nesta segunda-feira.
Na prática, a mudança societária para um modelo de "corporation", a exemplo da operação da Eletrobras, significa uma privatização da elétrica, uma vez que o governo deixaria de ser controlador, o que exige aprovação do legislativo local.
O anúncio ocorre três semanas após o Estado ter divulgado planos de estudar uma potencial operação para "otimizar investimentos" na elétrica, o que foi interpretado por agentes de mercado como um sinal de que, pela primeira vez, o governo olhava para a possibilidade de privatizar a Copel.