Selic precisa cair abaixo de 10% para impulsionar investimento de maior risco, diz BlackRock
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um cenário de alta dos juros que atraiu a demanda dos investidores para a renda fixa, uma das maiores gestoras de recursos do mercado em escala global, a BlackRock viu o volume de ativos no mercado brasileiro cair drasticamente no mercado local nos últimos meses.
O patrimônio dos BDRs de ETFs, instrumentos negociados na Bolsa brasileira por meio dos quais os investidores conseguem se expor a ativos no exterior sem precisar mandar o dinheiro para fora do país, chegou a R$ 2,7 bilhões em novembro de 2022, contra cerca de R$ 5,4 bilhões no final de 2021, uma queda de aproximadamente 50%.
"Com a Selic quase a 14%, esses resgates foram comuns na indústria de investimentos como um todo", afirmou Karina Saade, executiva responsável pelas operações da BlackRock no Brasil, durante encontro com jornalistas nesta quarta-feira (30) em São Paulo.
Ela acredita que, para que o investidor volte a buscar mais risco para os investimentos em carteira, é preciso que a taxa Selic recue, de modo a diminuir o apelo do retorno na aplicação de baixo risco na renda fixa.
"Para vermos um volume maior na indústria de fundos e nos BDRs como um todo, precisamos ver a taxa de juros cair. A gente acredita que esse será o caso, que ela não vai permanecer tão elevada para sempre, mas o timing disso é incerto", afirmou Karina.
A executiva estima que a taxa básica de juros precisa cair a um patamar abaixo de 10% para que investimentos de maior risco voltem a atrair a atenção dos investidores.
"Enquanto a Selic estiver alta, a propensão de assumir risco é baixa."
Gestora acredita que Brasil pode se tornar protagonista na agenda ESG com mudança política A executiva da BlackRock disse ainda que, com uma mudança na prioridade do governo brasileiro a partir de 2023 em relação à política ambiental, o país e o mercado local têm potencial de se tornarem um importante destino para investidores que adotam o ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) em suas políticas de investimento.
"O Brasil tem um potencial grande de ser um protagonista nessa agenda [ESG] e de ser o maior destino para o investimento de estrangeiros, porque a gente se destaca em várias áreas de sustentabilidade e tendo uma narrativa mais clara global, podemos atrair mais investimentos de estrangeiros em ativos brasileiros sustentáveis", afirmou a executiva.
"Acho que isso pode mudar de maneira significativa [com o resultado das eleições]."
Recentemente, a BlackRock encerrou um fundo global focado em ESG, o BSF Style Advantage Screened, por conta da baixa demanda dos investidores. A Folha apurou que a prática de encerrar produtos é algo regular dentro dos negócios da gestora, não tendo sido relevante o foco em ESG para a decisão. O produto não era ofertado no mercado brasileiro.
De todo modo, levantamento da plataforma de dados financeiros TradeMap mostra que os fundos ESG no mercado brasileiro também tiveram uma queda expressiva de demanda por parte dos investidores nos últimos meses, na esteira de um aumento da atratividade da renda fixa local.
Os dados da plataforma indicam que a base de ativos sob gestão dos fundos ESG no país caiu de R$ 10,3 bilhões em dezembro de 2012 para R$ 7 bilhões em novembro deste ano, uma queda de 32%. Já a base de cotistas desses fundos passou de 100,9 mil para 61,3 mil, baixa de 39,2%.
"A BlackRock acredita com bastante convicção que a demanda por ESG é uma demanda estrutural, vai continuar crescendo, mas obviamente não é linear", afirmou a executiva da gestora.