'Fui o 1º prefeito a conseguir grau de investimento no país', rebate Haddad sobre desconfiança do mercado

Por NATHALIA GARCIA E DANIELLE BRANT

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Nomeado futuro ministro da Fazenda pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Haddad usou sua trajetória enquanto prefeito de São Paulo, de 2013 a 2016, para rebater as desconfianças do mercado financeiro.

"Olha o 'investment grade' [espécie de nota de bom pagador dada por consultorias] da Prefeitura de São Paulo: fui o primeiro prefeito a conseguir grau de investimento no país. Se você não olhar para a trajetória da pessoa, vai cair em fake news. Para que mais fake news? A etapa da fake news já acabou", afirmou Haddad, em resposta sobre o que diria a quem teme um "ministro gastador", como é visto por uma ala de analistas do mercado.

Nesta quinta (8), em evento do Itaú, economistas como Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, afirmaram que a nota de crédito do Brasil pode sofrer um novo rebaixamento diante da expectativa de aumento de gastos com a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição e de uma política econômica focada em aumento de crédito via bancos públicos.

Stuhlberger afirmou que o novo presidente sinaliza com uma política econômica que vai resultar em juros e inflação mais altos e baixo crescimento. Em carta a investidores, ele já havia chamado a PEC da transição de "PEC da Gastança".

À frente da pasta econômica, Haddad diz que a retomada de acordos internacionais, a definição de um novo arcabouço fiscal (regras para evitar o aumento da dívida pública em relação ao PIB), em substituição ao teto de gastos, e a reforma tributária são prioridade para a nova administração.

"O importante é a gente ter uma agenda para 2023 forte, recuperar os acordos internacionais que estão parados, sobretudo União Europeia, a questão do arcabouço fiscal e a questão da reforma tributária, como grandes movimentos nossos", disse.

O futuro ministro da Fazenda se disse aberto a receber propostas para o novo arcabouço fiscal, dizendo que não é uma "regra de uma pessoa", mas da "sociedade brasileira". Hoje, com o teto de gastos, o limite de despesas é corrigido pela inflação.

"Pretendo receber propostas, claro, e não só da transição. Vou ouvir técnicos do Tesouro, a academia, os economistas em quem confio", disse.

Nos últimos meses, já foram divulgadas ao menos três propostas de nova regra fiscal, uma do Tesouro, outra do secretário da Fazenda do estado de São Paulo, Felipe Salto, e colaboradores e uma terceira dos economistas e colunistas da Folha Armínio Fraga e Marcos Mendes.