Dólar inicia em alta com nomeações da equipe econômica no radar do mercado

Por CLAYTON CASTELANI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar inicia a sessão nesta quarta-feira (14) em alta, com os investidores reagindo a nomeações consideradas menos próximas da economia de mercado, como a do petista Aloizio Mercadante para o BNDES, e a declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra privatizações.

Os investidores também aguardam novos nomes para a equipe econômica do futuro governo. A preocupação é que uma alta de gastos na nova gestão possa levar ao descontrole da dívida pública, o que provocaria alta de juros e queda de investimentos, entre outras consequências.

A decisão de política monetária pelo banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve), que deve aumentar novamente a taxa de juros americana, embora em menor intensidade na comparação com os últimos meses, também atrai a atenção dos agentes financeiros.

Às 9h09, o dólar à vista avançava 0,60%, a R$ 5,3416 na venda. Na B3, no mesmo horário, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,87%, a R$ 5,3610.

O Banco Central fará neste pregão leilão de até 16 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de janeiro de 2023.

Na véspera, depois de chegar a registrar queda acima de 1% frente ao real no período da tarde, o movimento de enfraquecimento do dólar perdeu força após o presidente eleito confirmar o nome de Aloizio Mercadante para o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A moeda encerrou os negócios na terça-feira (13) com leve queda de 0,03%, a R$ 5,3100 para venda.

a Bolsa de Valores brasileira, que teve alta em torno de 1% durante a tarde de terça, na esteira de dados de inflação nos Estados Unidos abaixo do esperado, inverteu de tendência perto do final do pregão para fechar com queda acima de 1%.

O índice Ibovespa, que chegou a subir cerca de 1% durante o dia, recuou 1,71% no fechamento de terça-feira (13), aos 103.539 pontos, menor patamar de fechamento desde o início de agosto. Com a queda, o Ibovespa passou a acumular queda de 1,2% no ano.

No mercado de juros futuros, que embute as expectativas dos investidores sobre a condução da política monetária pelo BC (Banco Central), as taxas registraram forte alta. O título com vencimento em janeiro de 2024 avançou de 13,97% para 14,05%, enquanto o contrato para 2025 passou de 13,41% para 13,64%.

A indicação de nomes de políticos petistas vistos como mais favoráveis à expansão de gastos públicos para comandar áreas estratégicas da economia tem causado descontentamento entre investidores -na sexta, Lula já havia confirmado Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda.

"Aloizio Mercadante, vi algumas críticas sobre você, sobre boatos que você vai ser presidente do BNDES. Eu quero dizer para vocês que não é mais boato: o Aloizio Mercadante será presidente", disse Lula.

O presidente também declarou que "vai acabar a privatização nesse país".

Na segunda-feira (12), temores de que o governo adotará uma política econômica mais intervencionista do que era esperado até então pelo mercado, aumentando a preocupação com a sustentabilidade fiscal, levaram a uma forte baixa na Bolsa e alta do dólar e dos juros.

Após a reação negativa do setor financeiro, Haddad afirmou na noite de segunda que deve "compor uma equipe plural". "Não quero uma escola de pensamento comandando a economia", disse Haddad. O ex-presidente do Banco Fator Gabriel Galipolo aceitou nesta terça o convite para assumir a secretaria-executiva do ministério da Fazenda.

"Embora a intenção de Haddad com isso seja tornar Galípolo um intermediário com o mercado financeiro, o viés ideológico dele é muito mais ligado ao núcleo duro do PT do que à economistas do mercado. Tanto em seus trabalhos acadêmicos como em declarações públicas, Galípolo mostrou-se contra algumas medidas caras para o mercado, como a independência do Banco Central e a manutenção do Teto de Gastos", apontam os analistas da Guide Investimentos em relatório.

Notícias de que o governo discute modificar a Lei das Estatais para permitir nomeações políticas, como a de Aloizio Mercadante para o BNDES e do senador petista Jean Paul Prates para a Petrobras, estão no centro dessas preocupações, em um cenário em que o mercado busca pistas sobre a definição da equipe da gestão Lula 3 e qual será a política fiscal a ser adotada.

"A principal preocupação que o mercado vem demonstrando é a entrada de alguém com perfil ideológico direcionado à proteção da industrialização, com utilização intensiva de recursos públicos para investimentos dentro das estruturas das empresas públicas", comentou Igor Cavaca, chefe de gestão de investimentos da Warren.

Durante a campanha, Lula já defendeu um papel mais ativo para o BNDES durante seu novo mandato. Na semana passada, o próprio Mercadante defendeu que o banco precisa voltar a atuar fortemente no processo de reindustrialização.

Nesta segunda, porém, durante encontro com o presidente da Febraban (federação dos bancos), Isaac Sidney, o petista teria afirmado que o futuro governo não repetirá uma política de subsídios.

Os rumores sobre a composição da equipe econômica provocam forte quebra da expectativa de que a gestão Lula 3 apresentaria nomes historicamente comprometidos com uma política fiscal mais restritiva.

Mercadante, por sua vez, afirmou que desconhece "qualquer iniciativa" por parte do governo eleito de alteração na Lei das Estatais. Como o petista atuou na campanha de Lula, sua indicação para uma estatal poderia entrar em conflito com a legislação.

Isso porque a lei diz que "é vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral".

O economista e ex-ministro Nelson Barbosa, um dos coordenadores do grupo técnico (GT) de Economia, disse não ter opinião sobre uma mudança na Lei das Estatais, e acrescentou que o assunto não chegou a ser discutido no GT. Ele afirmou, no entanto, que o tema vai ser avaliado pelo comitê do Ministério do Planejamento, que é onde está a secretaria das empresas estatais.

Barbosa também criticou nesta segunda a reação do mercado à possibilidade de Mercadante ocupar uma vaga no novo governo.

O ex-ministro disse que o setor financeiro reage mal "a qualquer nome do PT", mas que precisa aceitar que o partido venceu as eleições presidenciais.

Na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada divulgada nesta terça, o BC (Banco Central) afirmou que o impacto de "estímulos fiscais significativos" tende a ser maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica em um ambiente de baixa ociosidade.

O documento alerta ainda que o fiscal pode afetar a taxa neutra de juros do país.

"O Comitê julgou que há ainda muita incerteza sobre o cenário fiscal prospectivo e que o momento requer serenidade na avaliação de riscos. O Comitê reforça que seguirá acompanhando os desenvolvimentos futuros da política fiscal e seus potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva", afirmou.

BOLSAS NOS EUA SOBEM COM INFLAÇÃO AMERICANA ABAIXO DO ESPERADO EM NOVEMBRO

Nos Estados Unidos, o dia foi de alta nas principais Bolsas, após dados de inflação abaixo do esperado animarem os investidores.

Os preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentaram 0,1% em novembro, abaixo da previsão de 0,3% dos economistas consultados pela Reuters.

Nos 12 meses até novembro, o índice subiu 7,1%, menor taxa desde dezembro de 2021, mostrando desaceleração em relação ao aumento de 7,7% visto em outubro.

Uma menor pressão inflacionária aumenta as chances de o banco central americano (Federal Reserve) diminuir o ritmo de alta dos juros já a partir da reunião prevista para esta quarta-feira (14), trazendo alívio para os preços das ações.

Após quatro altas de 0,75 ponto percentual, levando os juros para uma faixa entre 4% e 4,25% ao ano, a expectativa dos agentes financeiros, reforçada pelos dados de inflação divulgados hoje, é a de um aumento de 0,50 ponto.

Nesse cenário, o Nasdaq, com maior concentração de empresas de tecnologia, avançou 1,01%, o S&P 500 teve valorização de 0,73%, e o Dow Jones subiu 0,30%.