Um terço da dívida da Americanas é com bancos públicos
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os bancos públicos e instituições estatais de fomento concentram um terço da dívida da Americanas e, diante desse volume de crédito disponibilizado, a Advocacia-Geral da União (AGU) pretende ingressar como parte interessada no processo de recuperação que a companhia deve mover na próxima semana (até 24 de janeiro), no Rio de Janeiro.
Como noticiou a Folha de S.Paulo, a companhia pedirá o "congelamento" de aproximadamente R$ 20 bilhões em dívidas à Justiça, procedimento padrão adotado até que ela apresente um plano de recuperação.
O valor ainda pode mudar, a depender da avaliação do juiz sobre o pedido e da negociação com os credores.
Do total da dívida, as instituições públicas firmaram 19 contratos com a varejista no valor de R$ 6,4 bilhões, o que representa um terço do total de operações de crédito fechadas pela varejista.
A cifra, no entanto, se refere ao valor de face e não considera os juros atrelados às operações.
Procurada, a AGU não se manifestou até a publicação deste texto.
Com mais de 1.800 lojas físicas, um dos maiores grupos varejistas do país está envolvido em um escândalo bilionário desde que seu presidente pediu demissão por ter encontrado "inconsistências" de R$ 20 bilhões no balanço da companhia.
Emprestaram para a Americanas Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES (Banco Econômico de Desenvolvimento Econômico e Social), Banco da Amazônia, Banco do Nordeste e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
Coube à Caixa o empréstimo mais recente, no valor de R$ 450 milhões. Ele foi concedido em 21 de dezembro de 2022, menos de três semanas antes de o ex-presidente Sergio Rial comunicar ao mercado que havia inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões no balanço da companhia.
Rial deixou o cargo dez dias depois de assumir o cargo. O diretor de relações com investidores, André Covre, também se desligou.
A lista de credores consta na petição apresentada à Justiça em que a companhia pediu a suspensão de exigibilidades (como o pagamento da dívida) previstas em contratos por 30 dias e que foi contestada primeiramente pelo BTG Pactual.
AÇÃO DO GOVERNO
Pessoas que participam das discussões afirmam que, além dos representantes dos bancos públicos, o governo Lula, por meio da AGU, deve tomar parte do processo diante do volume de créditos e do risco de descontos exagerados no momento das negociações em torno de um plano de recuperação que a companhia deverá apresentar.
Esse plano será submetido ao juiz e, posteriormente, votado por uma assembleia de credores. Em geral, os descontos no valor das dívidas são incluídos no plano de recuperação. Quem opta por receber em menos parcelas, acaba acatando um desconto maior.
O procedimento é comum e ocorreu durante a recuperação de empresas como as empreiteiras da Lava Jato, Rede Energia, Sete Brasil e Oi ?alguns dos processos mais vultosos do país.
Somente a Oi registrou, inicialmente, dívidas de R$ 65 bilhões (R$ 85 bilhões em valores corrigidos pela inflação até esta quarta-feira). Seis anos depois ?prazo que durou o processo?, essa dívida foi renegociada com descontos e hoje a companhia ?que deixou a recuperação judicial? tem uma dívida bruta de cerca de R$ 22 bilhões.
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R$ 6,4 BILHÕES COM ESTATAIS
A lista dos bancos credores e o valor de cada dívida
Banco da Amazônia
Tomador: Americanas S/A
Valor: R$ 100 milhões
Data: 01/11/2022
Banco do Nordeste
Tomador: Lojas Americanas
Valor: R$ 165,9 milhões
Data: 05/12/2013
Banco do Brasil
Tomador: Uni.Co Comércio S/A (grupo Americanas)
Valor: R$ 5 milhões
Data: 14/09/2022
Tomador: Uni.Co Comércio S/A (grupo Americanas)
Valor: R$ 45,8 milhões
Data:31/08/2022
Tomador: ST Importações Ltda (grupo Americanas)
Valor: R$ 20 milhões
Data: 28/11/2014
Tomador: ST Importações Ltda (grupo Americanas)
Valor: R$ 46,3 milhões
Data: 17/05/2019
Tomador: Americanas S/A
Valor: R$ 2 bilhões
Data:11/02/2020
Tomador: Americanas S/A
Valor: R$ 713,6 milhões
Data: 19/12/2019
Tomador: Americanas S/A
Valor: R$ 100 milhões
Data: 24/05/2021
Tomador: B2W Companhia Digital (grupo Americanas)
Valor: R$ 100 milhões
Data:31/03/2017
BNDES
Tomador: Lojas Americanas
Repassador: Banco Itaú BBA S.A.
Valor: R$ 24,7 milhões
Data: 16/12/2013
Tomador: Lojas Americanas
Valor: R$ 1,5 bilhão
Data: 13/04/2018
Tomador: B2W Companhia Digital (grupo Americanas)
Valor: R$ 913,7 milhões
Data: 30/05/2018
Caixa Econômica Federal
Tomador: Americanas S/A
Valor: R$ 450 milhões
Data: 21/12/2022
Tomador: Hortigil Hortifruti S.A. (grupo Americanas)
Valor: R$ 45,2 milhões
Data: 09/2022
Tomador: Hortigil Hortifruti S.A. (grupo Americanas)
Valor: R$ 45,2 milhões
Data: 06/2021
Tomador: Hortigil Hortifruti S.A. (grupo Americanas)
Valor: R$ 50 milhões
Data: 29/06/2020
Tomador: Hortigil Hortifruti S.A. (grupo Americanas)
Valor: R$ 50 milhões
Data: 29/06/2020
FINEP
Tomador: Lojas Americanas
Valor: R$ 84,1 milhões
Data: 08/08/2018