Josué foi antidemocrático na assembleia e no manifesto, diz diretor da Fiesp

Por FERNANDA BRIGATTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva, tem todo o direito de contestar o resultado da assembleia que decidiu por sua destituição, mas, na avaliação de Andre Sturm, delegado no conselho de representantes da entidade, a votação foi legítima e só aconteceu porque o dirigente manteve, ele próprio, uma postura antidemocrática e até tirânica no comando da instituição.

Presidente do Siaesp (Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo) e um dos 92 diretores da federação da indústria, Sturm rebate a afirmação de que a decisão tomada na segunda (16) tenha sido um golpe ou mesmo uma reação ao manifesto pela democracia liderado pela Fiesp, como disse o advogado Miguel Reale Jr, que representa Josué Gomes.

"Esse ato [a divulgação do manifesto] foi a gota d'água de uma relação ruim, mas não foi por conta disso que ele foi destituído, não foi pelo conteúdo", diz Sturm.

O dirigente afirma que a elaboração de um documento pelo Estado Democrático de Direito foi aprovada em reunião da diretoria da Fiesp. O problema, segundo ele, foi o texto não ter sido discutido antes da divulgação.

A carta que acabou sendo divulgada só foi assinada por 14 dos mais de 100 sindicatos ligados à federação. O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) também não assinou.

"Ele tinha que ter mandado para nós e que a gente pudesse refazer. Evidente que nós somos a favor da democracia. Sou contra dois parágrafos, não contra o manifesto. Essas coisas vão sendo esquecidas e o Josué fica como um democrata enquanto age de maneira tirânica", afirma.

O dirigente defende também a legitimidade da assembleia, com base do edital publicado em 15 de dezembro por Josué Gomes. No item 2 da pauta, o presidente da Fiesp diz que trataria do "direito a ampla defesa e contraditório, nos termos do artigo 27, parágrafo 2º, do Estatuto Social."

O dispositivo citado pelo dirigente diz que "toda suspensão ou destituição dos cargos que ocupem deverão ser precedidas de notificação, que assegure ao interessado amplo direito de defesa".

Na interpretação de Sturm, como o estatuto fala em caso de destituição, Gomes deveria ter aberto votação ?ele se defendeu com base nesse artigo e, por isso, teria também que passar pelo escrutínio dos demais dirigentes.

O diretor da Fiesp contesta também a pecha de entidade bolsonarista, devido, principalmente, à proximidade de Paulo Skaf, que antecedeu Josué Gomes, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Eu fico muito ofendido [com essa afirmação]. Podem ter lideranças que sejam [bolsonaristas] e existe uma diferença entre votar no Bolsonaro e ser bolsonarista, mas a Fiesp tem que ser uma entidade independente, também não pode ser lulista."

Josué Gomes é próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O pai dele, José Alencar (morto em 2011), foi vice do petista nos dois primeiros mandatos.

Miguel Reale Jr disse ao jornal Folha de S.Paulo, na terça, que Gomes ainda avaliava que tipo de medida seria tomada em relação ao resultado da assembleia. A votação que decidiu pela destituição foi realizada quando Josué Gomes já tinha deixado o prédio da Fiesp, pouco depois de 19h.

Delegados de 50 sindicatos votaram, dos quais 47 foram favoráveis à destituição, 2 se abstiveram e 1 votou contra. No início da reunião, às 14h30, 89 delegados de 80 sindicatos estavam presentes. Quando Josué Gomes deixou o prédio, muitos foram embora.

Os sindicatos de oposição consideraram que poderiam continuar a plenária com base em dois argumentos: a assembleia não tinha sido devidamente encerrada e a existência de um outro edital de convocação, publicado por eles, para a mesma data.

Josué Gomes está sob pressão desde o início de sua gestão na presidência da Fiesp. Dirigentes sindicais o acusam de ser ausente do dia a dia da federação.