Renda fixa mantém vantagem com Selic a 13,75%

Por EDUARDO CUCOLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A renda fixa segue como opção atrativa de investimento com a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano, anunciada pelo Banco Central nesta quarta-feira (1º).

Levantamento do buscador de investimentos Yubb mostra que o rendimento de baixo risco no título público Tesouro Selic, que acompanha a variação da taxa de juros, é de 4,90% ao ano, considerado o retorno real descontado pela inflação de 5,74% estimada pelos economistas consultados pelo BC no relatório Focus.

Tendo o atrativo de oferecerem a isenção do Imposto de Renda aos investidores, os títulos privados com isenção tributária, como as LCAs (Letras de Crédito Agrícola), as LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e as debêntures incentivadas, também se destacam no levantamento, com retornos estimados de 7,22%, 7,61% e 9,29%, respectivamente.

Com um rendimento de 6,17% ao ano, a poupança, investimento mais popular entre os brasileiros, deve entregar um retorno descontada a inflação de 0,41% em 2022, segundo o levantamento.

Embora tenha voltado a entregar rentabilidade real positiva após completar dois anos no campo negativo, planejadores financeiros assinalam que o retorno da aplicação é menos da metade do entregue pela Selic.

O retorno real dos CDBs é calculado de 2,32% a 6,45%, dependendo do percentual do CDI pago nessas aplicações, que costuma ser maior nos bancos de menor porte.

POUPANÇA

Com a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, as aplicações em renda fixa, como os fundos de investimento, têm mais atratividade e ganham da poupança na maioria das situações, diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade).

Entretanto, as cadernetas vão continuar interessantes em relação a fundos de renda fixa com taxas de administração superiores a 2,50% ao ano. "Com a Selic atual, a poupança perde para os fundos cujas taxas de administração sejam inferiores a 2,50% ao ano", afirma Oliveira.

Por lei, a poupança tem ganho garantido de TR mais 6,17% ao ano quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, como atualmente. A poupança é isenta de Imposto de Renda. Os fundos são tributados com alíquotas de 15% a 22,5% (quanto menor o prazo da aplicação, maior o imposto).

Para uma aplicação de R$ 10 mil pelo prazo de 12 meses, por exemplo, a poupança vai render R$ 770 (7,70% ao ano).

Em um fundo com taxa de administração de 0,50% ao ano, o ganho é de R$ 1.043 (10,43% ao ano). Com taxa de 1,50% ao ano, o valor cai para R$ 925 (9,25% ao ano).

Há praticamente um empate para uma taxa de administração de 2,50% ao ano, que gera um ganho de R$ 796 (7,96% ao ano). Com 3%, o valor já fica abaixo da poupança, em R$ 744 (7,44% ao ano), calcula da Anefac.

Considerando uma aplicação em CDB, também tributada pelo IR, o investidor teria que obter uma taxa de juros de cerca de 85% do CDI para atingir o mesmo ganho obtido pela poupança, diz o executivo.

RISCOS DE CURTO PRAZO

A equipe de economia da XP vê como provável a manutenção da Selic no atual patamar nas próximas três reuniões do Copom, em março, maio e junho. Caso esse cenário se concretize, não se espera mudanças relevantes nos ativos de renda fixa.

"Continuamos com visão positiva para a renda fixa de maneira geral, visto que as taxas de juros permanecem elevadas e o IPCA continua a ser um tema de monitoramento. Recomenda-se, no entanto, cautela, uma vez que os riscos relacionados ao cenário fiscal têm tornado mais alta a volatilidade dos títulos", afirma a instituição em relatório.

Dados do Tesouro Direto mostram que a alta dos juros futuros impactou alguns títulos do governo. A maioria dos papéis prefixados ou indexados à inflação com prazo de vencimento superior a seis anos apresenta rentabilidade negativa no ano. Investidores que carregam a aplicação até seu vencimento, no entanto, sempre garantem um resultado positivo, aquele contratado no momento da compra do título.

"A volatilidade vai ficar por conta de todas essas incertezas em relação à política fiscal", diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. "Temos declarações polêmicas em relação à independência do BC e possíveis mudanças em relação à meta de inflação. Tudo isso tem interferência na dinâmica da curva de juros.

Jaiana Cruz, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, indica títulos indexados ao IPCA, que estão cada vez mais atrativos, visto que estão pagando um juro real em torno de 6% acima da inflação.

"O ideal é o investidor optar por títulos do Tesouro Direto que tenham vencimentos nos vértices intermediários da curva de juros, entre 2028 e 2033. Vale considerar também investimentos em títulos de crédito privado que não são tributados, como as debêntures incentivadas, por exemplo, ou os certificados de recebíveis, tanto do agronegócio quanto do setor imobiliário."