Dólar fecha no menor patamar em 3 meses após desaceleração de alta de juros nos EUA

Por ANA PAULA BRANCO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou no menor patamar em cerca de três meses e a Bolsa conseguiu reduzir perda registrada na manhã desta quarta-feira (1º) após decisão do Fed, o banco central americano, de reduzir o ritmo de alta dos juros no país ?mas prometendo "aumentos contínuos".

Nesta quarta, a autoridade monetária dos EUA anunciou uma alta de 0,25 ponto em sua taxa de juros. Embora seja a oitava elevação consecutiva, ela representa uma desaceleração do ritmo de aperto monetário da instituição ?é a menor desde que o ciclo de alta foi iniciado, há dez meses. Na reunião anterior, a alta havia sido de 0,5 ponto.

O dólar comercial à vista recuou 0,25%, cotado a R$ 5,0610. É o patamar mais baixo frente ao real desde 4 de novembro do ano passado, quando era vendida a R$ 5,05.

O Ibovespa fechou em queda de 1,20%, a 112.073 pontos. A queda do índice foi atenuada pelo fluxo de capital externo após a divulgação do Fed.

A queda dos indicadores reflete ainda uma reação positiva do mercado ao discurso mais duro do chefe do BC americano, Jerome Powell.

Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3, afirma que a decisão do BC americano ficou dentro das expectativas, mas que chama a atenção a sinalização de que, apesar do alívio recente, a inflação permanece alta nos EUA.

No comunicado que acompanhou a decisão, o Fed afirmou que "a inflação diminuiu um pouco, mas continua elevada". A autoridade monetária americana disse ainda que a economia do país está desfrutando de "crescimento modesto" e ganhos "robustos" de empregos e que as autoridades do banco permanecem "altamente atentas aos riscos de inflação".

"O Comitê [de política monetária] antecipa que os aumentos contínuos na meta serão apropriados para atingir uma postura de política monetária que seja suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2% ao longo do tempo", acrescentou o Fed, que elevou a taxa para uma faixa entre 4,50% e 4,75%.

Os principais índices de Wall Street perderam terreno imediatamente após o comunicado do Fed e ficaram voláteis por um tempo até o discurso de Powell, quando começaram a se recuperar.

O S&P 500 ganhou 1,05%, para 4.119,49 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 2,00%, para 11.816,44 pontos. O Dow Jones subiu 0,05%, para 34.101,79 pontos.

"Não houve nenhuma surpresa na redução de juros, para intervalo de 4,50% a 4,75% ao ano. Embora o discurso do Powell ainda tenha tido apontamento duros no sentido do combate à inflação, essa redução na magnitude nessa elevação de juros indica que o Fed está bem próximo do fim da elevação de juros nos Estados Unidos", afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

A analista ressalta que o chefe do Fed deixou claro que a porta ficou aberta para uma elevação residual na próxima reunião, que acontece em fevereiro.

"Um ponto importante que o Fed deverá ter no radar é a inflação de serviços, pois ela é bastante impactada pelo mercado de trabalho. Este continua bastante aquecido com uma taxa de desemprego girando em torno de 3,5% há alguns meses. Caso o mercado de trabalho continue nessa trajetória é possível termos uma leve pressão sobre os preços de serviços pela frente", diz o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

"Em nosso cenário, a taxa de juros norte-americana deve encerrar o ciclo de alta ainda neste ano em 5,0%-5,25% a.a.", afirma Sung.

BANCOS, VALE E AMBEV PRESSIONAM IBOVESPA PARA BAIXO

No Brasil, investidores operaram atentos à primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocorreu após o fim do pregão. O Banco Central brasileiro decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano.

Na expectativa para a reunião, os juros fecharam em leve alta. Os contratos para 2024 subiram dos 13,52% do fechamento desta terça-feira (31) para 13,53%. Para 2025, os juros recuaram de 12,79% para 12,78%. Para 2027, a taxa ficou em 12,77%.

A aposta na manutenção da Selic também puxou para baixo as ações de bancos, em pregão marcado por cautela e aversão ao risco e com Vale, Ambev e BTG pressionando a queda.

A Vale liderou as perdas em meio a resultados de produção abaixo do esperado no quarto trimestre, segundo análise da Bloomberg. Já os papéis do BTG caíram em meio a atritos com a Americanas ?o banco é credor da varejista, em recuperação judicial após revelação de um escândalo contábil.

As ações da Ambev, por sua vez, caíram 3,59% após uma entidade de concorrentes da cervejaria acusar a existência de uma dívida tributária bilionária. A notícia foi publicada pela revista Veja. A Ambev nega qualquer irregularidade.

A empresa é controlada pelos sócios da 3G Capital ?Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira?, que também são acionistas de referência da Americanas.