BB aposta em consignado e redução da exposição a grandes empresas para 2023

Por RENATO CARVALHO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O BB (Banco do Brasil) aposta no aumento da participação do crédito consignado na sua carteira e na redução da exposição a grandes empresas para melhorar a relação entre o risco dos empréstimos que concede e o retorno oferecido pela operações.

Segundo a presidente do BB, Tarciana Medeiros, será importante a instituição crescer em segmentos em que o banco já é forte, como aposentados e pensionistas do INSS, mas a ideia também é buscar outros públicos para impulsionar o consignado.

A fala da executiva, durante entrevista a jornalistas sobre os resultados nesta terça-feira (14), está em linha com declaração recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que quer o BB como um "campeão de crédito consignado".

O lucro ajustado do BB no quarto trimestre de 2022 foi de R$ 9 bilhões, e no acumulado do ano, chegou a quase R$ 32 bilhões. A projeção para 2023 é de lucrar entre R$ 33 bilhões e R$ 37 bilhões.

Para atingir esses objetivos, o banco aposta no crescimento das receitas com prestação de serviços, e em uma composição da carteira de crédito com riscos menores.

"Podemos crescer mais no consignado, e para isso apostamos principalmente na diversificação, tanto dos canais de atendimento quanto do tipo de cliente que atendemos hoje", afirma Tarciana.

José Ricardo Forni, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores do BB, diz que a participação do consignado no total do crédito concedido a pessoas físicas bateu os 40% em 2022. O crescimento deste tipo de empréstimo em 12 meses foi de 7,8%. Este ritmo é menor que o avanço do cartão de crédito e empréstimo pessoal, que cresceram 14,5% e 18%, respectivamente.

O principal objetivo do BB com essa estratégia é estabilizar a inadimplência, que dobrou em 2022, passando de 1,75% em dezembro de 2021 para 2,51% no fim do ano passado.

O BB projeta um crescimento de até 37% nas provisões contra crédito de liquidação duvidosa para este ano. Segundo Francisco Lassalvia, vice-presidente de Negócios e Atacado, a projeção acompanha o ritmo de crescimento esperado para o crédito.

AMERICANAS

A nova diretoria do BB explicou o provisionamento de 50% da sua exposição à Americanas, com uma reserva de quase R$ 800 milhões.

A opção do banco neste momento é aguardar por mais detalhes sobre a inconsistência contábil exposta na varejista, para depois revisar a estratégia.

"Podemos chegar a provisionar 100% da exposição. Mas para este momento, este montante é suficiente, e nosso balanço está bem protegido", diz o executivo.

Lassalvia conta que a exposição menor do BB à Americanas, na comparação com os grandes bancos privados, deve-se à estratégia de não direcionar tanto crédito para grandes empresas. "Nós preferimos atuar mais no mercado de capitais, ajudando as empresas a captar."

Em 2022, a carteira de crédito para grandes empresas cresceu 15,7%. Em comparação, os financiamentos para micro, pequenas e médias companhias avançou 21%.

NÚMEROS SURPREENDEM POSITIVAMENTE

Os analistas do mercado receberam bem os números do BB no quarto trimestre de 2022. Raphael Figueredo e Carlos Daltozo, da Eleven, afirmam que o banco apresentou "mais um forte e surpreendente resultado". A casa recomenda compra para as ações do banco, com preço-alvo de R$ 65, que representa uma valorização potencial de quase 55% para o papel.

Para a equipe de análise da Levante Investimentos, a ação do BB está muito barata, principalmente por causa da percepção de risco político pelos investidores.

"Acreditamos que parte desse desconto em relação aos pares privados superestima o real poder de interferência estatal no desempenho do banco, que tem potencial de impacto muito maior no BNDES e Caixa Econômica Federal", diz a Levante.