Dólar sobe e Bolsa cai após inflação acima do esperado nos EUA

Por ANA PAULA BRANCO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou esta terça-feira (14) em alta, reagindo a expectativas em relação à inflação nos EUA e no Brasil ?com novos ruídos entre governo federal e Banco Central.

O dólar comercial encerrou o dia com valorização de 0,48%, a R$ 5,2010 à vista na venda.

A moeda americana inverteu a trajetória de queda que vinha mantendo no começo do dia. Pela manhã, o mercado reagiu positivamente às declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, negando ter proposto mudar a meta de inflação durante entrevista ao programa Roda Viva na véspera. O dólar caiu, chegando a ser vendido por R$ 5,12 na mínima do dia.

Nesta terça-feira, o presidente do BC voltou a comentar o tema em evento do BTG Pactual, reforçando que reconhece as iniciativas na área fiscal do governo e que é preciso ter boa vontade com a nova gestão.

"A nosso ver, ficou claro que o objetivo de Campos Neto era reduzir a tensão entre a autoridade monetária e o governo. Acreditamos que ele usou a linguagem correta para atingir esse objetivo", afirmou a XP Investimentos, em nota a clientes.

"Dito isso, acreditamos que as políticas fiscais e parafiscais se tornarão mais expansionistas daqui para frente; e que as expectativas de inflação permanecerão acima da meta. Assim, vemos pouco espaço para cortes de juros nos próximos trimestres. Isso significa que as tensões podem diminuir por ora, mas podem aumentar novamente adiante."

Na visão de Victor Hugo Israel, especialista em renda variável da Blue3, Campos Neto adotou um tom "apaziguador", o que ele considerou positivo, principalmente porque se trata do primeiro presidente do BC após a aprovação da autonomia da autoridade monetária e que está transitando entre dois governos.

A moeda americana passou a subir após rumores de que o presidente Luís Inácio Lula da Silva defende um aumento de 1 ponto percentual na meta da inflação.

De acordo com a Bloomberg, um assessor de alto escalão do governo afirma que Lula ainda não decidiu se aumentará a meta da inflação nesta semana.

Pedindo anonimato, o assessor disse à reportagem que o líder brasileiro discutiu o tema com integrantes de sua equipe econômica, mas não ordenou o aumento da meta de inflação de 3,25% para este ano.

As metas devem ser discutidas nesta quinta-feira (16), durante reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional). É responsabilidade do conselho fixar as metas de inflação a serem perseguidas pelo Banco Central.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que forma o CMN com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou no início da noite desta terça que a meta de inflação não está na pauta da reunião do conselho desta semana.

A Bolsa fechou em queda de 0,91%, aos 107.848 pontos, acompanhando o cenário internacional.

A divulgação dos dados de inflação americana pelo Departamento do Trabalho afetou as bolsas de todo o mundo e fez o Ibovespa fechar em forte queda. Para analistas, a desaceleração de preços veio abaixo do esperado. Isso mostra que a pressão inflacionária ainda não arrefeceu a ponto de permitir que o Fed (o banco central americano) afrouxe a política monetária.

"O mercado norte-americano está em processo de redução da inflação, porém o mercado está mais otimista do que deveria. A gente consegue ver isso pelos dados, que vieram acima do esperado. Quando foi divulgado, S&P subiu e logo na sequência já ficou no zero a zero. Dólar subiu na hora da divulgação e logo depois despencou. Ou seja, mercado totalmente instável", afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.

O Ibovespa abriu esta terça-feira oscilando ao redor dos 109 mil pontos, mas, de tarde, se firmou em queda.

A Petrobras caiu acompanhando queda do petróleo. A Eletrobras recuou, afetada por anúncio da AGU (Advocacia-Geral da União) estudar questionar pontos da privatização, segundo informações da Agência Brasil.

A ação da AGU atente a pedido de Lula, que afirmou recentemente que o processo de privatização teria sido "errático" e "quase que uma bandidagem". Neste ano, a ação acumula queda de mais de 16%.

O destaque positivo na Bolsa ficou com o Banco do Brasil, após reportar lucro recorrente de outubro a dezembro de R$ 9 bilhões, acima das expectativas, e projetar lucro ajustado de R$ 33 bilhões a R$ 37 bilhões para 2023.

"Poucos setores se destacam. Setores ligados ao dólar sobem, já que a moeda sobe hoje. Alguns exemplos são Suzano e Klabin. Setores ligados a mineração e siderurgia também se destacam como Vale, CSN e Gerdau", afirma Cohen.

O título de juros futuros com vencimento em 2024 recuou de 13,51% no fechamento anterior para 13,43% ao ano, enquanto o contrato para 2025 cedeu de 12,95% para 12,82%. No vencimento em 2027, a taxa subiu de 13,08% para 13,09%.

No exterior, os principais índices de Wall Street caíram nesta terça-feira, em um pregão de início volátil que via, de um lado, ganhos em ações de crescimento, como Tesla e Nvidia, e de outro reflexos de preocupações de que o Fed mantenha sua trajetória de alta de juros neste ano, depois que dados apontaram para a inflação ainda elevada.

O Dow Jones fechou com queda de 0,46%. O S&P 500 caiu 0,03%%, enquanto o Nasdaq Composite avançou 0,57%.

As ações europeias fecharam em alta modesta nesta terça-feira, impulsionadas por atualizações corporativas otimistas, mas reduziram a maior parte dos ganhos iniciais do pregão conforme investidores digeriram dados mistos de inflação nos Estados Unidos.

O índice pan-europeu STOXX 600 fechou com variação positiva de 0,08%, a 462,40 pontos, após ter atingido um pico de um ano mais cedo na sessão.