Bolsa cai quase 2% após ata do banco central dos EUA apontar juros altos por mais tempo

Por ANA PAULA BRANCO E RENATO CARVALHO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa fechou em baixa nesta quarta-feira (22), na volta do feriado de Carnaval, enquanto o dólar ficou mais próximo da estabilidade. Houve uma piora no humor dos investidores após a divulgação da ata da última reunião de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que aponta um cenário de juros altos por mais tempo.

O Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,85%, a 107.152 pontos, pior patamar desde o dia 04 de janeiro. Na mínima do dia, o índice chegou a ficar abaixo dos 107 mil pontos.

O dólar fechou em alta de 0,07%%, a R$ 5,168. A moeda americana chegou a atingir a máxima de R$ 5,21 durante o pregão desta quarta, que teve início às 13h00.

No mercado de juros, a ata do Fed intensificou o movimento de alta. Nos contratos com vencimento em janeiro de 2024, as taxas subiram de 13,24% do fechamento da última sexta-feira (17) para 13,39% ao ano. Para janeiro de 2025, os juros avançaram de 12,52% para 12,66% ao ano. Para janeiro de 2027, a taxa variou de 12,83% para 12,93%.

A ata do comitê que decide sobre os juros nos Estados Unidos mostra que o Fed vai manter uma política mais dura "até os dados passarem maior confiança de que a inflação esteja numa trajetória consistente em direção à meta de 2% ao ano."

A grande maioria dos membros do comitê é favorável a uma alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, marcada para março, mas alguns apoiam um aumento de 0,50 ponto. Atualmente, a taxa de juros nos Estados Unidos está no intervalo entre 4,50% e 4,75%.

Para Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, tudo indica que os juros nos Estados Unidos vão subir a um patamar acima do que era esperado. "Na minha visão, o Fed pode chegar a taxa de 6% no fim do ano."

O mercado de trabalho aquecido é um dos principais fatores que levam o Fed a tomar essa postura cautelosa, afirma Enrico Cozzolino sócio e head de análise da Levante Investimentos.

No início do mês, foram divulgados os dados de emprego nos Estados Unidos, com criação de vagas acima do esperado e desemprego no menor patamar em décadas.

"O Fed parece não querer cometer erros já cometidos por outros banco centrais, de evitar novas altas ou até cortar juros antes da hora. A discussão agora é se a taxa vai subir para um patamar acima de 5%", afirma Cozzolino.

Guilherme Zanin, analista da Avenue, afirma que o desempenho da economia americana é outro dado que reforça a política de alta de juros pelo Fed.

"A atividade está mais no caminho de uma desaceleração suave que de uma recessão. Poderia ser uma notícia boa, mas leva a uma preocupação adicional com a inflação", diz Zanin.

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, afirma que a alta dos juros pode ter um efeito colateral importante nos Estados Unidos. "O período prolongado de alta dos juros pode elevar nível de dívida do país. E as altas têm sido agressivas, podendo provocar impactos importantes na atividade econômica", explica Gonçalvez.

No caso da Bolsa, o desempenho dos índices de ações em Nova York na última terça-feira (21) levou a um ajuste no mercado brasileiro. "Lá, houve um movimento de correção em função, principalmente, das expectativas de mercado com relação a juros nos Estados Unidos", afirma Paulo Luives da Valor Investimentos.

O clima de maior aversão a risco afeta também as commodities. O petróleo do tipo Brent recuava mais de 3% perto das 17h30. Assim, as ações da Petrobras recuaram mais de 2%.

"Tudo isso pela percepção de que os juros vão permanecer altos nos Estados Unidos por mais tempo, o que deve frear a economia e a demanda global por commodities", afirma Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Os principais índices americanos operavam próximos da estabilidade antes da divulgação da ata do Fed, e passaram a cair minutos depois.