Decisão de Lula para visto de estrangeiro é retrocesso, diz CEO do Bondinho Pão de Açúcar
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A decisão do governo Lula de reverter a isenção de vistos para viajantes vindos da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão foi "um retrocesso" na opinião de Sandro Fernandes, CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar, uma das atrações turísticas brasileiras mais populares entre os estrangeiros no Rio de Janeiro.
O executivo afirma que a liberação dos vistos oferecida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019 tem potencial de atração de visitantes, mas a pandemia barrou seus efeitos a partir de 2020.
"Há uma conjunção de fatores para inferir que essa isenção de visto não surtiu efeito. Me desculpe, ela teve efeito sim. E não foi pouco. Foi muito positivo", diz ele.
Segundo Fernandes, a nova decisão do governo preocupou o setor turístico como um todo. "Em vez de fechar a porta para quatro nacionalidades, a gente deveria estar discutindo quais são as próximas quatro para liberar isenção de visto", afirma.
**PERGUNTA - Como o sr. avalia a iniciativa do governo de reverter a isenção de vistos para viajantes desses quatro países? Tem impacto para vocês?**
SANDRO FERNANDES - Se realmente acontecer isso, é um retrocesso para o turismo brasileiro. É uma pena o presidente tomar uma decisão dessas no momento em que o Brasil está fazendo o oposto.
A Embratur voltou com o slogan Brasil, que é lindo e que todo mundo no turismo estava vendo como positivo. Agora, se o presidente voltar mesmo com essa necessidade de vistos, vai contra a própria campanha do Ministério do Turismo e da Embratur.
Em vez de fechar a porta para quatro nacionalidades, a gente deveria estar discutindo quais são as próximas quatro para liberar isenção de visto. E depois mais quatro. Essa deveria ser a pauta do governo.
**P. - Os números do Ministério das Relações Exteriores mostram que a isenção do visto para esses países não provocou necessariamente um aumento no fluxo de visitantes. Faz sentido manter mesmo assim?**
SF - Eu posso explicar isso tranquilamente. Quando se compara 2018 com 2019 teve aumento no fluxo porque em 2019 foi liberado o visto para as quatro cidadanias. Já se viu um impacto positivo dos americanos vindo para o Brasil.
Mas em 2020 veio a pandemia. O ano de 2021 também foi afetado pela pandemia. Em 2022, não podemos nos esquecer de que o primeiro trimestre foi afetado pela ômicron. Foi muito pesado para o turismo brasileiro e mundial. Nem tinha como chegar no Brasil nesses últimos anos. Se até hoje a malha não está completa, imagine há um ano.
Há uma conjunção de fatores para inferir que essa isenção de visto não surtiu efeito. Me desculpe, ela teve efeito sim. E não foi pouco. Foi muito positivo. Quando ela começou, era gritante a quantidade de americanos andando pelo Pão de Açúcar comparado ao período em que se exigia o visto. Com os japoneses foi a mesma coisa.
Temos de acreditar que o turismo gera emprego, renda e desenvolvimento muito mais rápido do que uma fábrica, por exemplo. Se uma fábrica tem o poder de levar 200 empregos para uma cidade, a cadeia do turismo tem vários segmentos beneficiados.
Quando um turista, junto com a sua família, fica mais um dia no destino, é mais um dia de hotel, de restaurante, de táxi, de atração turística. Ele move toda a cadeia do turismo. Me deixa muito triste ver um retrocesso como esse. Temos que facilitar o visto e não dificultar.
**P. - Qual é a importância da participação desses turistas australianos, canadenses, japoneses e americanos na visitação do Bondinho?**
SF - Para o estrangeiro, os atrativos no Brasil são relativamente baratos por causa da taxa de câmbio. O estrangeiro paga preço cheio e consome mais. E não é só para o Bondinho. É para tudo o que ele faz na cadeia do turismo. E ele também exige um aperfeiçoamento maior e ajuda indiretamente no desenvolvimento do nosso turismo. Tem um círculo virtuoso.
**P. - Vocês pretendem individualmente ou com alguma entidade do setor de turismo mandar essa mensagem para o governo e pedir que seja repensada essa reciprocidade?**
SF - Várias entidades estão se movendo, as secretarias estaduais, o grupo das 20 maiores associações do turismo. Estão todos realmente muito preocupados com essa decisão do governo.
**P. - Há outras ações que o governo poderia tomar para impulsionar o turismo e atrair visitantes, como a melhoria da infraestrutura e o combate à criminalidade? Quais devem ser as prioridades?**
SF - Acho que a gente deveria estar tocando uma pauta para melhorar a conectividade, porque não adianta chamar as pessoas para que venham nos visitar se não dermos as condições. O Brasil é um país muito rico em belezas naturais em todas as regiões de Norte a Sul. Então, precisamos pensar nessa conectividade.
Temos de pensar em infraestrutura para que a pessoa possa pegar um carro e ter placas indicativas compreensíveis internacionalmente. É preciso ter investimento em treinamento de inglês para a mão de obra no turismo. As pessoas não falam inglês e têm dificuldade para atender um turista estrangeiro.
Temos que adotar o turismo como uma veia de crescimento, desenvolvimento, geração de emprego e renda no país. Temos que amar o Brasil e ter políticas que ataquem de maneira perene essa percepção de falta de segurança.
Raio-X
Com graduação em engenharia de produção pela USP (Universidade de São Paulo) e MBA na Vanderbilt University, nos EUA, o executivo teve passagens por empresas como Iguatemi, Tiffany&Co e Loungerie Intimates, antes de assumir a posição de CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar em 2018