Ação do Credit Suisse afunda 25% e contagia outros grandes bancos internacionais
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As ações do banco Credit Suisse caíram quase 25% nesta quarta-feira (15), e contagiou as cotações de outros grandes bancos na Europa e nos Estados Unidos. O cenário pode ser amenizado nos mercados nesta quinta-feira (16), já que o Swiss National Bank (SNB, o banco central suíço) admitiu que pode dar ajuda financeira à instituição financeira, se necessário.
Pela manhã, os papéis do Credit Suisse chegaram a cair mais de 30%, e na parte da tarde, ensaiaram recuperação. Mas a situação voltou a piorar, apesar das tentativas do presidente do segundo maior banco da Suíça de tranquilizar os investidores, que já vinham de dias tensos com a crise do setor bancário nos Estados Unidos.
No fechamento da Bolsa de Zurique, a queda foi de 24,24%, com uma capitalização de pouco menos de 6,7 bilhões de francos suíços (em torno de US$ 7,2 bilhões).
O presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann, descartou uma eventual ajuda governamental. "Não é um tema", afirmou ele, durante uma conferência do setor bancário na Arábia Saudita. "Temos índices financeiros sólidos, um balanço sólido".
Abalado por vários escândalos, o Credit Suisse registrou um prejuízo líquido de quase 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,917 bilhões) em 2022.
Este foi o pior resultado de um banco suíço desde a crise financeira de 2008, quando a instituição registrou prejuízo superior a 8 bilhões de francos. Isso acendeu um alerta no mercado, já que o banco tem enfrentado
"Parece que cada vez mais investidores estão olhando para o CS (Credit Suisse) como o próximo dominó mais provável de cair", disse Neil Wilson, analista da Finalto. Mas "é realmente grande demais para quebrar", acrescentou.
A crise do Credit Suisse começou ainda em 2022, quando o banco perdeu cerca de 30% do seu valor de mercado. Com problemas de liquidez em seus ativos, houve uma série de boatos que levaram a uma corrida dos correntistas para tirar seus recursos.
O banco conseguiu levantar mais de US$ 4 bilhões, com ajuda do banco central suíço, e acalmou momentaneamente os investidores.
Ao contrário do americano Silicon Valley Bank, o Credit Suisse é um dos 30 bancos internacionais considerados "grandes demais" para quebrar, o que também resulta em regras mais rígidas para resistir aos momentos mais turbulentos.
A preocupação se estende para além da Suíça, e o Tesouro americano declarou que estava "vigiando a situação e em contato com seus homólogos internacionais".
A situação arrastou as bolsas europeias, que fecharam com fortes perdas nesta quarta.
A Bolsa de Paris perdeu 3,58%; a de Frankfurt, 3,27%; e a de Londres, 3,83%. Já a de Milão recuou 4,61%, e a de Madri, 4,37%. O Índice do Setor Bancário Europeu (Stoxx 600 Banks) caiu quase 7%.
O colapso das ações do banco suíço se acelerou, após a recusa de seu principal acionista, o Banco Nacional Saudita, a ampliar sua participação no capital.
Questionado pela Bloomberg TV se o banco saudita poderia investir mais dinheiro, seu presidente, Amar Al Judairy, disse: "A resposta é absolutamente não, por várias razões cada vez mais simples, que são regulatórias e estatutárias".
Os sauditas possuem, hoje, 9,8% do banco suíço. "Se passarmos de 10%, uma série de novas regras entra em vigor", alegou.
Os sauditas se tornaram os primeiros acionistas da CS durante um aumento de capital lançado em novembro para financiar uma grande reestruturação da entidade.
A legislação suíça prevê que as pessoas físicas, ou jurídicas, que detenham, direta ou indiretamente, pelo menos 10% do capital, ou do direito de voto, de um banco devem dar "a garantia de que sua influência não é suscetível de ser exercida em detrimento de uma gestão prudente e sã" do estabelecimento.
Superar esse limite de 10% no segundo maior banco suíço pode causar alvoroço no país, depois que seus acionistas já viram sua participação se reduzir após o aumento de capital e assistem à queda de seu valor.
O banco está em dificuldades há dois anos, após a falência da empresa financeira britânica Greensill, que marcou o início de uma série de escândalos que enfraqueceram sua imagem no mercado. Desde março de 2021, a ação perdeu mais de 83% de seu valor.
Alguns acionistas acabaram jogando a toalha, como a empresa de investimentos americana Harris Associates, que era um acionista relevante e revelou, na semana passada, ter vendido toda sua participação.
Para Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, há ainda um potencial efeito colateral desta ajuda dos bancos centrais para salvar instituições como o Credit Suisse e o SVB.
"Se for necessário injetar dinheiro em grandes bancos, haverá uma pressão inflacionária. A partir daí, as autoridades monetárias teriam que aumentar os juros ainda mais. Isso enfraqueceria o mercado de ações em todo o mundo", diz Martins.
Nesta quarta-feira, os efeitos na Bolsa brasileira e em Nova York foram sentidos mais na parte da manhã. À tarde, houve uma recuperação, mas os índices fecharam, na sua maioria, em baixa.
O Ibovespa fechou em baixa de 0,25%, a 102.675 pontos. Na mínima do dia, o índice bateu em 100.692 pontos, pior patamar desde julho de 2022.
Em Nova York, os índices de ações seguiram a tendência de melhora na parte da tarde. O Dow Jones fechou em baixa de 0,87%, e o S&P 500 caiu 0,70%. O índice Nasdaq conseguiu reverter a tendência vista em todo o dia, e encerrou em alta de 0,05%
Entre as ações, os efeitos foram sentidos principalmente pelas exportadoras. Os bancos brasileiros fecharam o dia em alta ou próximos da estabilidade.
A ação ordinária da Vale caiu quase 3%. Os papéis ordináris e preferenciais da Petrobras fecharam com baixas superiores a 1%. Destaque também para as ações de CSN e Gerdau, com quedas de 5% e 4%, respectivamente.