Credit Suisse financiou ferrovias na Suíça e administra fortunas no Brasil
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Afundado em uma crise que fez suas ações despencarem nesta quarta-feira (15), o banco Credit Suisse foi criado na Suíça em 1856 e chegou ao Brasil pouco mais de cem anos depois, em 1959.
O banco foi fundado em Zurique, ainda no século 19, para financiar a construção de ferrovias suíças. Depois, atuou em outros projetos de investimento na Europa, vários deles ligados a indústrias, e estendeu sua atuação para os Estados Unidos, onde investiu no banco de investimentos First Boston.
Atualmente, tem presença em mais de 50 países e 50,5 mil funcionários. Em abril do ano passado, era apontado como o 45º maior banco do mundo, o 17º da Europa e o segundo da Suíça, de acordo com um ranking do S&P Global Market Intelligence.
Seu maior investidor atualmente é o Saudi National Bank, que adquiriu uma fatia de quase 10% da instituição no ano passado e se comprometeu a investir até 1,5 bilhão de francos suíços (R$ 7,8 bilhões) no negócio.
Foi a impossibilidade de o banco saudita fornecer mais assistência financeira, por alegadas questões regulatórias, que levou as ações para patamares historicamente baixos nesta quarta.
Os últimos anos já tinham sido marcados por desconfiança generalizada em relação à saúde financeira do Credit Suisse, principalmente a partir do segundo semestre de 2022.
Entre setembro e outubro do ano passado, a instituição se viu no meio de uma tempestade, depois de sinalizar que precisaria de um aumento de capital. À época, as ações do Credit Suisse caíram mais de 25%. As retiradas de recursos pelos clientes no quarto trimestre aumentaram para mais de 110 bilhões de francos suíços (R$ 628,7 bilhões).
No balanço de 2022, divulgado na terça-feira (14), o banco disse que identificou distorções em demonstrações financeiras e que ainda não conteve a saída de clientes de sua base.
O ano passado havia começado com uma troca de comando. O atual presidente, Axel Lehmann, assumiu o conselho de administração do banco em janeiro de 2022, após outra crise.
O antigo presidente da instituição, António Horta-Osório, renunciou ao cargo depois de ficar sob pressão por, entre outras coisas, violar regras de quarentena imposta pela pandemia de Covid-19. Uma investigação interna apontou que ele viajou a Londres em 2021 para assistir às finais do torneio de tênis de Wimbledon e também usou um jato particular do banco para férias nas ilhas Maldivas.
CREDIT SUISSE NO BRASIL
Recentemente, a instituição vinha olhando para o país como um mercado importante para ajudá-la a se recuperar das tormentas recentes.
Em fevereiro deste ano, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do conselho de administração do banco, Axel Lehmann, adotou um tom otimista.
"O quarto trimestre [de 2022] foi muito difícil, muito desafiador para nós. Sofremos saídas significativas devido a rumores infundados nas mídias sociais. Felizmente, isso basicamente parou. Realmente vemos agora aumentarem as atividades comerciais. Vemos influxos acontecendo, na Ásia, na Suíça, mas também aqui no Brasil", disse.
Lehmann negou que houvesse planos de vender a operação brasileira para capitalizar o banco e destacou que o país é um mercado chave para o crescimento da gestão de fortunas. "Queremos crescer o negócio aqui. Estamos aqui há muitos anos, é uma grande oportunidade. O Brasil tem perspectivas interessantes em termos de empresas de tecnologia e de energia renovável."
A presença do Credit Suisse no Brasil ganhou mais peso depois de 1998, com a aquisição do Banco Garantia, que tinha como sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Os três, hoje envolvidos no escândalo da Americanas, se tornariam alguns dos homens mais ricos do Brasil nos anos seguintes.
Em 2007, o Credit comprou a Hedging-Griffo e ampliou sua presença no gerenciamento de patrimônios. A atuação no Brasil inclui ainda assessoria para IPO (oferta inicial de ações) e para fusões e aquisições de empresas, entre outros serviços.