Dólar cai frente ao real após Credit Suisse conseguir ajuda de BC suíço

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar abre em queda nesta quinta-feira (16), com os investidores ainda atentos à crise no setor bancário após a quebra do SVB (Silicon Valley Bank) nos Estados Unidos e os problemas enfrentados pelo Credit Suisse na Europa.

Neste contexto, a decisão do BCE (Banco Central Europeu) sobre juros ganha atenção especial do mercado. Nos Estados Unidos, destaque para os dados de pedidos de seguro-desemprego, que ganham relevância uma semana antes da reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre os juros no país.

Às 9h11 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,36%, a R$ 5,2753 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,25%, a R$ 5,2915.

Na véspera, a moeda norte-americana à vista fechou o dia cotada a R$ 5,2944 na venda, em alta de 0,70%.

Mesmo com o impacto da crise enfrentada pelo Credit Suisse nos mercados globais, a Bolsa brasileira ganhou um fôlego na quarta (16) à tarde, e fechou em queda mais moderada que o ritmo visto pela manhã.

O índice chegou a atingir o patamar de 100 mil pontos, o pior registrado desde julho de 2022. Mas a notícia de que o novo arcabouço fiscal já foi entregue para ao Planalto deixou os investidores locais menos pessimistas.

O Ibovespa fechou em baixa de 0,25%, a 102.675 pontos. Na mínima do dia, o índice bateu em 100.692 pontos. O dólar comercial à vista subiu 0,72%, a R$ 5,294. O câmbio é mais influenciado pelo noticiário envolvendo o Credit Suisse, e segue a tendência global. Mas na máxima do dia, a moeda chegou a R$ 5,32.

Os juros apresentaram baixas moderadas, com a percepção de que as políticas monetárias nos Estados Unidos e na Europa podem mudar, caso a crise bancária se prolongue e comece a ter efeitos na atividade econômica.

Nos contratos com vencimento em janeiro de 2024, a taxa recuou dos 13,05% do fechamento desta terça-feira (14) para 12,97% ao ano. Para janeiro de 2025, os juros caíram de 12,22% para 12,06%. Para janeiro de 2027, a taxa caiu de 12,58% para 12,51%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta quarta-feira (15) que a proposta da nova regra fiscal, que substituirá o teto de gastos, já foi entregue ao Planalto.

Mais tarde, Lula afirmou que ainda não viu a proposta de arcabouço fiscal preparada pela equipe econômica, mas que deve conversar nesta quinta-feira (16) sobre o tema com Haddad, e quer ter o projeto definido antes da viagem para a China, marcada para o próximo dia 24.

"Eu ainda não vi [o arcabouço]. Eu tive uma primeira conversa com Haddad, ele ficou de aprontar. Assim que aprontar eu vou ver", disse Lula ao sair de um almoço com o alto comando da Marinha. "Assim que eu vir vocês logo vão ver. A hora que for aprovado, vocês vão ver, os jornalistas serão as segundas pessoas a saberem do arcabouço. Deve ser antes da viagem, até porque Haddad vai viajar comigo."

O aval do presidente é a última etapa antes de a proposta seguir para o Congresso Nacional.

À Folha, membros do governo envolvidos no debate afirmaram que o arcabouço vai permitir que se alcance o objetivo de zerar o déficit primário já em 2024.

No exterior, o clima nos mercados ainda é de cautela. Os principais índices de ações europeus fecharam com fortes quedas. O Euro Stoxx 600 caiu 2,92%. O índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, fechou em baixa de 3,83. A ação do Credit Suisse, negociada na Bolsa de Zurique, caiu quase 25% nesta quarta.

O maior investidor do banco suíço afirmou que não poderia fornecer mais assistência financeira por questões regulatórias. "Não podemos, porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória", disse o presidente do conselho de administração do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy.

O banco saudita adquiriu uma fatia de quase 10% no ano passado depois de participar do aumento de capital do Credit Suisse e se comprometeu a investir até 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,5 bilhão, R$ 7,8 bilhões) na instituição.

O Credit Suisse disse no balanço de 2022 que identificou distorções em demonstrações financeiras e que ainda não conteve a saída de clientes de sua base.

"Em 31 de dezembro de 2022, o controle interno do grupo sobre os relatórios financeiros não era eficaz e, pelos mesmos motivos, a administração reavaliou e chegou à mesma conclusão em relação a 31 de dezembro de 2021", afirmou o banco suíço em comunicado divulgado nesta terça-feira (14).

Em conferência realizada nesta quarta-feira, os executivos do Credit Suisse tentaram acalmar o mercado. Segundo a agência Bloomberg, o presidente do conselho de administração do banco, Axel Lehmann, descartou uma eventual ajuda do governo suíço.

Ele também rechaçou qualquer comparação com os problemas enfrentados pelos bancos médios nos Estados Unidos.

No entanto, o BC da Suíça disse nesta quarta-feira que, se for necessário, fornecerá apoio financeiro ao Credit Suisse, e que a instituição atende aos requisitos para ser considerada sistematicamente importante.

Analistas projetam que a situação ainda pode piorar. Em relatório, a Guide Investimentos aponta que outros bancos europeus importantes, como o Deutsche Bank e o UBS, estão com suas taxas de risco, equivalente ao risco-país para empresas, em alta nos mercados.

No mercado americano, dados econômicos reforçam a perspectiva de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pode manter o ritmo de 0,25 ponto percentual de alta nos juros na reunião que será realizada na próxima semana.

As vendas no varejo nos Estados Unidos caíram 0,4% em fevereiro, de um crescimento de 3,2% em janeiro, enquanto economistas consultados pela Reuters esperavam uma contração de 0,3%.

Um relatório separado mostrou que os preços ao produtor dos EUA caíram inesperadamente em fevereiro e que o aumento dos preços em janeiro não foi tão grande quanto se pensava inicialmente, oferecendo alguns sinais positivos no combate à inflação.

Os dados chegam em um momento em que o colapso do SVB Financial e do Signature Bank já havia alimentado temores sobre a saúde de outros bancos, alimentando esperanças de que o Fed evitaria altas acentuadas nos juros em sua próxima reunião para garantir a estabilidade financeira.

Operadores agora veem chances iguais de uma alta de 0,25 ponto e de manutenção na reunião do Fed em março.

Em Nova York, os índices de ações seguiram a tendência de melhora na parte da tarde. O Dow Jones fechou em baixa de 0,87%, e o S&P 500 caiu 0,70%. O índice Nasdaq conseguiu reverter a tendência vista em todo o dia, e encerrou em alta de 0,05%.

No Brasil, no entanto, a visão mais geral é de que ainda é cedo para cravar uma alteração na trajetória do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, pelo menos no curto prazo.

Em teoria, um cenário de abrandamento do ritmo de aperto monetário do Fed e manutenção de juros altos no Brasil seria positivo para o real, já que a maior diferença de rentabilidade tende a tornar a moeda brasileira atraente para investidores estrangeiros.

No entanto, profissionais do mercado explicam que, se o Fed realmente for menos agressivo daqui para frente, isso sinalizaria que o banco percebe riscos elevados para a economia global, o que provavelmente alimentaria temores de recessão e impulsionaria a busca por ativos seguros, como o dólar.