Argentina já foi mais rica do que Alemanha, Itália e França

Por FERNANDO CANZIAN

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Dramático como um tango, o estrangulamento orçamentário e o empobrecimento argentinos das últimas décadas contrastam com um passado de riqueza que ainda pode ser visto no agradável plano urbano de Buenos Aires, com suas avenidas e calçadas largas, edifícios afrancesados, restaurantes e cafés.

Nos primeiros 30 anos do século passado, a Argentina era um dos países que mais cresciam no mundo, atraindo imigrantes europeus ao exibir, em parte desse período, um PIB per capita maior do que de Alemanha, França e Itália.

Entre 1900 e 1916, as exportações de carne congelada da Argentina saltaram de 26 mil toneladas por ano para 411 mil e o país atraiu milhões de dólares em capital externo, embora sempre tenha mantido sua taxa de poupança interna baixa.

Em 1914, a então sofisticada rede britânica Harrolds escolheu a Argentina como primeiro país a ter uma filial fora do Reino Unido. Nos anos 1940 e 1950, suas vitrines exibiam obras de arte de artistas argentinos famosos.

Hoje, o imenso prédio da Harrolds em Buenos Aires está fechado desde 1998, encardido e abandonado na mesma rua Florida dos cambistas.

Quase vizinho ao edifício, um aviso na fachada de uma loja Renner brasileira comunica estar fechada temporariamente "pela falta de estoques de produtos por razões alheias às da empresa".

Com a escassez de dólares, cada vez menos produtos importados entram na Argentina. Empresários do comércio exterior reclamam da falta de critério do governo, além de um aumento da corrupção na área para a liberação de guias de importação.

Entre causas mais históricas da decadência argentina são apontados sobretudo seis golpes militares (1930, 1943, 1955, 1962, 1966 e 1976) que minaram a força e a independência das instituições; o baixo nível educacional secundário dos argentinos até o final dos anos 1940; e o fechamento da economia ao mercado externo que marcou a história argentina a partir da Grande Depressão de 1929.

No governo de Juan Domingo Perón (1946-1955) políticas protecionistas e nacionalistas foram aprofundadas, ao mesmo tempo em que uma nova era de populismo elevou o gasto estatal dirigido aos mais pobres, sem o correspondente aumento na arrecadação.

O mesmo tipo de política foi mantida pelo casal Nestor e Cristina Kirchner enquanto ocuparam a Presidência, entre 2003 e 2015, com a multiplicação de benefícios sociais, de empregos públicos e de aposentadorias sem a devida contribuição dos beneficiados.