Fintech de brasileiros bilionários ganhou 5.000 clientes após quebra do SVB
CAMBRIDGE, ESTADOS UNIDOS (FOLHAPRESS) - Enquanto o mundo das startups e todo o sistema bancário se desesperava com a falência do Silicon Valley Bank (SVB), uma fintech de dois brasileiros viu uma oportunidade: lançou uma linha de crédito para companhias afetadas e, em dois dias, ganhou 5.000 clientes e recebeu US$ 2,3 bilhões (R$ 11,7 bilhões) em depósitos.
"Em retrospectiva, parece que foi uma oportunidade ótima. Mas no calor do momento, foi muito arriscado", diz Pedro Franceschi, que é um dos cofundadores Brex, fintech de cartões corporativos no Vale do Silício avaliada no ano passado em US$ 12,3 bilhões.
Um dos bilionários mais jovens do planeta na lista da Forbes, Franceschi, 26, contou a história em palestra nesta sexta-feira (31) na Brazil Conference, evento organizado por alunos das universidades Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Cambridge, na região de Boston, nos EUA. "Eu não dormi muito na época e provavelmente não dormi até agora também", brincou ele.
Maior banco em depósitos do Vale do Silício e 16º maior dos Estados Unidos, com US$ 209 bilhões em ativos, o SVB entrou em colapso em 10 de março. Dois dias depois, o Fed (banco central americano) e o FDIC (fundo garantidor de créditos) anunciou que honraria os depósitos do banco, de US$ 175,4 bilhões, para evitar uma corrida bancária no país.
"Um dos nossos maiores competidores estava nessa área há 40 anos e estavam saindo do negócio", disse Franceschi, que afirmou que cerca de 40% dos clientes da Brex também usavam serviços do SVB. Segundo ele, quatro horas após o anúncio da falência a Brex lançou a linha de crédito emergencial para todos os clientes do SVB.
Para o empresário, o resgate do Fed foi importante, caso contrário a falência do banco seria um "evento de extinção" para muitas startups.
Nascido no Rio, Franceschi fundou a Brex em 2017 enquanto estudava ciência da computação em Stanford (faculdade que abandonou um semestre depois) com Henrique Dubugras, após venderem a startup de pagamentos online Pagar.me para a Stone.
Apesar do sucesso, o empresário afirmou que a dupla cometeu alguns erros com a ascensão meteórica da empresa, um unicórnio, que, contou ele, chegou a receitas de US$ 10 milhões apenas seis meses após o lançamento no Vale do Silício, em 2018, e a US$ 100 milhões no ano seguinte. "Internamente, sua cultura muda. 'Nós somos invencíveis, podemos fazer tudo ao mesmo tempo e sermos bem-sucedidos'".
"No fim de 2019, vimos que tudo estava funcionando e resolvemos dobrar tudo. Vamos focar em coisas diferentes. Startups eram nossa estratégia, mas comecemos a fornecer serviços para pequenos e médios negócios. De pequenos clientes como cafés até a DoorDash (plataforma de entregas), AirBnB e Google. Essa era a escala que estávamos operando e não funcionou", recordou.
O empresário afirma que não foi possível manter o foco no serviço aos clientes quando tinham uma carteira tão diversa e foi preciso escolher que caminho seguir. No ano passado, afirma, teve que abrir mão de 40 mil clientes de negócios menores, uma "decisão muito dolorosa, com muito resultado ruim em termos de relações públicas", descreveu ele.
A Brex está contratando no Brasil, afirmou Franceschi, em um movimento de descentralização da sede da empresa após a pandemia, quando abriram escritórios em Nova York, Salt Lake City e Vancouver (Canadá).