Bolsa cai com piora na percepção sobre atividade e realização de lucros; dólar também recua

Por RENATO CARVALHO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ibovespa opera em queda nesta sexta-feira (31), com uma combinação de fatores que facilita o movimento de venda por parte dos investidores. Depois de cinco altas seguidas, com ganho acumulado de quase 6%, há uma tendência para a realização de lucros. A piora nas projeções para a atividade econômica brasileira em 2023, por um grande banco americano, facilita esta realização.

O dólar cai também por questões técnicas, já que o final do mês marca o fechamento da taxa Ptax, cotação calculada pelo BC (Banco Central) que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Segundo Guilherme Esquelbek, da Correparti corretora, essa disputa deve gerar muita volatilidade nesta sexta, mas os vendidos, que apostam na queda do dólar, parecem se sobressair.

Às 13h00 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em baixa...

O Morgan Stanley revisou para baixo todas as suas projeções de indicadores econômicos do Brasil em 2023. O banco americano espera um crescimento de 1% do PIB (Produto Interno Bruto), ante previsão anterior de 1,4%.

Entre os dados acompanhados pelo banco, somente o consumo do governo foi revisado para cima, de um aumento de 1,1% para 1,4%. No consumo das famílias, o avanço projetado passou de 1,4% para 1%, e para os investimentos, o Morgan Stanley passou a projetar queda de 5%, ante previsão anterior de 2,7% de baixa.

"A desaceleração na oferta de crédito e a piora na confiança das empresas nos levaram a projetar um crescimento mais fraco para o Brasil em 2023", dizem os analistas.

O Morgan Stanley aponta outros episódios fora do ambiente macroeconômico que vão influenciar a capacidade de crescimento do Brasil em 2023. "A recuperação judicial da Americanas e a redução na taxa de juros do consignado podem deteriorar ainda mais o ambiente de crédito, mesmo que temporariamente", diz o Morgan Stanley

Investidores continuavam digerindo nesta sexta a proposta do governo para a nova regra fiscal, que terá uma trava para impedir que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, mas contará também com um limite mínimo para a evolução das despesas, que crescerão sempre acima da inflação.

"Sem entrar no tecnicismo da regra, ela tem dividido os analistas, mas nossa visão é que um limite das despesas por meio da receita passada pode ajudar a conter gastos excessivos", disse a equipe da Guide Investimentos em nota a clientes.

No caso do dólar, o desempenho no Brasil está na contramão da alta em relação a outras moedas globais. O índice DXY, que mede essa força da divisa americana em escala mundial, sobe cerca de 0,20%.

O índices de ações nos Estados Unidos estão em alta, depois da desaceleração da inflação ao consumidor em fevereiro.

O PCE, medida de preços preferida pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano), subiu 0,3% no mês passado, ante estimativa de 0,4% feita por economistas ouvidos pela Bloomberg. Os gastos dos consumidores caíram 0,1%, após a alta de 1,5% em janeiro. Em 12 meses, o PCE desacelerou de 5,4% para 5%.

Às 13h00 (horário de Brasília), o índice Dow Jones tinha alta de 0,82%. S&P 500 e Nasdaq avançavam 0,77% e 1,11%, respectivamente.