Bolsa perde força após ata do Fed, mas fecha em alta; dólar fica abaixo de R$ 4,95
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de chegar a superar os 108 mil pontos, a Bolsa fechou com uma alta mais moderada nesta quarta-feira (12). Os investidores tiraram o pé do acelerador na compra de ações após a ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) que definiu a alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros nos Estados Unidos.
Analistas classificaram como duro o tom da ata do FOMC (o comitê responsável pela política monetária nos Estados Unidos). Um dos pontos destacados foi o apoio de alguns membros do comitê a uma alta de 0,50 ponto percentual nos juros.
O Ibovespa fechou em alta de 0,64%, a 106.889 pontos. Na máxima do dia, atingido pouco antes da divulgação da ata do FOMC, o índice bateu a máxima de 108.277 pontos. O dólar comercial à vista caiu 1,31%, a R$ 4,941, depois de bater em R$ 4,91 na mínima. Este é o menor fechamento para a moeda americana ante o real desde o dia 9 de junho de 2022.
No mercado futuro, os juros fecharam com altas moderadas. Nos contratos para janeiro de 2024, as taxas saíram de 13,12% do fechamento desta terça-feira (11) para 13,14%. Para janeiro de 2025, os juros subiram de 11,76% para 11,81%. No vencimento em janeiro de 2027, as taxas saíram de 11,73% para 11,76%.
Vários membros do Fed consideraram, na reunião sobre juros realizada no mês passado, interromper os aumento da taxa até que ficasse claro que a falência de dois bancos regionais não causaria maior estresse financeiro. Mas mesmo estes diretores acabaram concluindo que a inflação alta ainda era a prioridade.
"Alguns participantes destacaram que teriam considerado um aumento de 0,50 ponto percentual (nos juros), na ausência dos desdobramentos recentes no setor bancário", disse a ata.
"De forma geral, o tom me pareceu mais duro. Na ata, foi sinalizado que 'nem mesmo uma crise bancária fará o Federal Reserve deixar de procurar cumprir a sua meta'", afirma Lucas Schwarz, analista da VG Research.
Schwarz apontou o termo "recessão" usado na ata, apontando que a atividade econômica americana pode ter uma retração em 2023. "Não descartaria novos aumentos de juros em 2023, a depender dos dados de inflação", diz o analista da VG.
As projeções dos membros do Fed para os juros indicam uma nova alta de 0,25 ponto na reunião de maio. Mas alguns membros do banco central americano disseram nesta quarta-feira que a desaceleração da economia pode ser suficiente para controlar a inflação.
A presidente do Fed San Francisco, Mary Daly, disse que, embora a força econômica dos Estados Unidos, o aperto do mercado de trabalho e a inflação muito alta sugiram que há "mais trabalho a fazer" em relação aos aumentos dos juros do Fed, outros fatores, incluindo as condições de crédito, podem exigir uma pausa.
Os preços ao consumidor nos Estados Unidos tiveram leve alta em março com a queda do custo da gasolina, mas os aluguéis altos mantiveram as pressões inflacionárias.
O índice de preços ao consumidor subiu 0,1% no mês passado, após avançar 0,4% em fevereiro, informou o Departamento do Trabalho nesta quarta-feira (12).
Nos 12 meses até março, o índice avançou 5,0%, o resultado mais fraco desde maio de 2021. Em fevereiro a inflação havia subido.
Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice de preços ao consumidor aumentou 0,4% no mês passado, após alta de 0,5% em fevereiro. Os aluguéis continuaram a impulsionar o chamado núcleo do índice
Apesar desta desaceleração na inflação, analistas acreditam que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vai decidir por mais uma alta de 0,25 ponto percentual nos juros na reunião marcada para maio. Além disso, espera-se que o início do ciclo de cortes demore mais para começar, já que o índice de preços ainda está longe da meta de 2% ao ano.
Em relatório sobre o indicador, o Bank of America afirma que a maior contribuição para o núcleo da inflação ao consumidor americano em março foi dos preços de moradia, com alta mensal de 0,6%. Para os analistas do banco, vai desacelerar com mais força somente no segundo semestre deste ano.
Ao pesar todas as informações, os investidores nos EUA decidiram pela cautela. O índice Dow Jones fechou em baixa de 0,11%. O S&P 500 caiu 0,41%, enquanto o Nasdaq, mais sensível às projeções sobre juros e crescimento, caiu 0,85%.
Sobre o comportamento dos juros no Brasil, a percepção começa a mudar. Lucca Ramos, assessor de renda variável da One Investimentos, afirma que há uma perspectiva mais clara de que os juros podem começar a cair em breve, o que ajuda setores como bancos, varejo e construção.
"Em termos de preços, a Bolsa brasileira está barata, quando olhamos a relação entre o valor das ações e os lucros das companhias. Isso ajuda a manter esse bom momento, mesmo após a forte alta de ontem", diz Ramos.
Entre as cinco maiores altas do dia no índice, ficaram as ordinárias do Banco do Brasil (6,96%), as preferenciais do Banco Pan (4,19%) e as ordinárias da Petz (3,68%).
Jennie Li, estrategista de ações da XP, também enxerga diferenças entre os momentos das bolsas americanas e a brasileira. "Por lá, os investidores tentam balancear suas decisões olhando para inflação, juros e recessão. Por aqui, o mercado já havia colocado nos preços um cenário bastante pessimista. E depois da inflação de março, essa perspectiva começa a mudar."
Outro dado de inflação que ajuda o desempenho da Bolsa nesta quarta-feira é a primeira prévia do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) de abril, com deflação de 0,9%, ante queda de 0,2% na mesma prévia de março, como ressalta a equipe da Mirae Asset em relatório.
Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, lembra que um ambiente de juros menos elevado que o anteriormente projetado e economia mais fraca nos Estados Unidos beneficia o fluxo de recursos estrangeiros para os mercados emergentes.
"Isso também refletiu no dólar, que já está deixando o patamar de R$ 5 para trás. Isso vai elevar a pressão para que o BC (Banco Central) comece a cortar os juros aqui no Brasil. Mas é provável que faça isso somente no segundo semestre", afirma Bento.
O novo arcabouço fiscal também continua sendo um dos fatores que contribuem para este bom momento da Bolsa.
Presidente do conselho de administração e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves diz enxergar de maneira positiva a apresentação do arcabouço fiscal pelo governo.
Segundo o banqueiro, a proposta da nova regra fiscal afasta o risco de o país caminhar em direção ao modelo da Argentina, com uma trajetória insustentável da dívida, e tende a contribuir para mudar o patamar do mercado brasileiro em termos de preços dos ativos na Bolsa, no dólar ou nos juros.
"Eu gostei do arcabouço fiscal. E acho que tem algumas sutilezas que, para mim, são mais importantes ainda do que a medida em si", afirmou Esteves, durante evento promovido pelo BTG Pactual nesta quarta-feira (12).