Musk compara usuários do Twitter a produtos e diz que bots foram subestimados

Por GUSTAVO SOARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para Elon Musk, usuários do Twitter são como mercadorias dentro de um armazém. Algumas delas, contudo, não servem, estão quebradas. Durante as negociações para comprar a rede social, a grande questão era: qual a proporção desse estrago?

Em rara entrevista veiculada nesta quarta-feira (12), o bilionário fundador da SpaceX e da Tesla falou sobre diversos aspectos da gestão da plataforma após a conclusão do acordo de compra, em outubro de 2022.

"A analogia é boa. Existe um armazém, cheio de bens [goods, em inglês]. Te dizem que menos de 5% do que está no armazém está quebrado. Você entra no armazém e vê que são 25%. Então você pode comprar o que está no armazém, mas por um preço menor, e não comprar as coisas [stuffs] que estão quebradas", disse.

O empresário admitiu que seguiu com a compra da rede social por US$ 44 bilhões porque acreditava que perderia o processo legal para tentar desistir dela -por um momento, o bilionário recuou no acordo por não saber exatamente a proporção de usuários falsos, robôs.

À BBC, Musk ainda comentou questões como moderação de conteúdo na plataforma, a saúde financeira da empresa e a discussão sobre o banimento do TikTok nos Estados Unidos.

Elon Musk disse que o Twitter está muito bem, obrigado, e que recusaria uma proposta para vendê-lo pelos mesmos US$ 44 bilhões que pagou pela rede social há seis meses -a não ser que encontre alguém que "persiga a verdade tão rigorosamente" quanto ele. Hoje, a rede social é avaliada em US$ 20 bilhões.

Segundo o bilionário, a rede social esteve próxima da falência no fim do ano passado, mas pode ficar no azul em questão de meses. Anunciantes que haviam deixado a plataforma estão quase todos de volta, afirma.

"Se a Disney se sente confortável em anunciar seus filmes para crianças e a Apple se sente confortável em anunciar iPhones, isso indica que o Twitter é um bom lugar para se anunciar", disse Musk.

Sobre a moderação de conteúdo na rede social, Musk afirma que não é papel do Twitter julgar o que é verdade ou não. "Eu acredito que há menos [desinformação] hoje porque eliminamos muitos dos bots que estavam publicando golpes e spams", disse.

Ele reforça a ideia da rede social como uma praça pública digital que promove a liberdade de expressão, e cita como exemplo o retorno do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à plataforma.

Contudo, o cenário idílico descrito pelo bilionário na entrevista contrasta com a experiência de usuários e especialistas na plataforma nos últimos meses. Mudanças erráticas, lentidão, bugs, falta de moderação de conteúdo e um sistema de assinatura caro e com poucas vantagens marcam a imagem pública da plataforma desde a aquisição.

Além disso, a transição para o comando de Musk envolveu a demissão de cerca de 80% dos funcionários da empresa, muitos deles por email e sem aviso prévio. De cerca de 8.000, a força de trabalho caiu para 1.500 empregados.

Enquanto de um lado Musk brinca que a rede social é gerida por seu cachorro, de outro a rede social faz vista grossa para conteúdos violentos e pornográficos.

Nesta semana, por exemplo, o Twitter se negou a tirar do ar conteúdo que faz apologia da violência nas escolas brasileiras sob o argumento de que o termo de uso da plataforma permite a divulgação do material. O posicionamento da empresa causou mal-estar em reunião promovida pelo Ministério da Justiça nesta segunda-feira (10).

A resposta automática dada pelo email press@twitter.com, voltado para a comunicação com a imprensa, é um emoji de cocô.

Veja os principais tópicos da entrevista de Elon Musk à BBC.

 Gestão do Twitter Elon Musk disse que ser dono do Twitter tem sido "muito doloroso" e "uma montanha-russa". Ele ainda admitiu que seguiu com a compra por US$ 44 bilhões porque acreditava que perderia o processo legal para tentar desistir dela.

"O nível de dor tem sido extremamente alto, não tem sido nenhum tipo de festa", afirmou.

Demissões Hoje há cerca de 1.500 funcionários no Twitter, ante "pouco menos de 8.000" quando Musk assumiu. Na entrevista, ele defendeu as demissões em massa e disse que a empresa estava a quatro meses de ir à falência

"Eu não diria que foi indiferente. Se o navio inteiro afundasse, ninguém teria emprego", disse.

Saúde financeira "Podemos ser lucrativos ou, para ser mais preciso, ter fluxo de caixa positivo neste trimestre se as coisas continuarem indo bem", disse Musk. Ele acrescentou que quase todos os anunciantes voltaram ou disseram que vão voltar para a plataforma.

Discurso de ódio e liberdade de expressão na plataforma Elon Musk rebateu as alegações de que houve um aumento do discurso de ódio na plataforma desde que assumiu a empresa. Ele disse que sua missão é tornar o Twitter o mais preciso possível e que o número de bots na plataforma caiu, sem citar números.

Uma das mudanças adotadas no Twitter, por exemplo, criou dificuldades para pesquisadores com extração e análise de dados da plataforma. Além disso, na última semana a rede social passou a mirar postagens relacionadas a seu rival Substack.

No início do ano, o Twitter reduziu ainda mais sua equipe de moderação de conteúdo global. Trabalhadores em equipes que lidam com políticas de desinformação, assuntos globais e mídia estatal na plataforma também foram cortados, segundo reportagem da Bloomberg.

TikTok O bilionário disse que não tem "opiniões fortes" sobre o banimento do TikTok nos EUA. Contudo, ele afirmou que, embora o bloqueio pudesse ajudar o Twitter a aumentar o número e o engajamento de usuários, geralmente é "contra banir coisas".

Tuítes controversos Elon Musk disse que precisa parar de tuitar após as 3h da manhã. "Já atirei no meu próprio pé diversas vezes? Sim", afirmou.