Bolsa aprofunda perdas com quedas de Vale e Petrobras; dólar segue em alta

Por MARCELO AZEVEDO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira fechou em queda nesta terça-feira (30), ainda pressionada por perdas da Petrobras e da Vale. Ações do setor bancário também puxaram o Ibovespa para o negativo, após a divulgação de dados que mostram recuo na concessão de crédito e aumento da inadimplência no Brasil.

Já o dólar segue em alta, com investidores acompanhando a tramitação do acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos no Congresso americano e expectativas sobre as próximas decisões de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e do Banco Central (BC).

O Ibovespa caiu 1,24% nesta terça, a 108.967 pontos, enquanto dólar subiu 0,61%, a R$ 5,042.

Quedas nos contratos futuros do minério de ferro e do petróleo no exterior derrubaram as ações da Vale e da Petrobras, as mais negociadas da sessão, puxando a Bolsa para o negativo. A mineradora teve recuo de 2,35%, e a petroleira, de 1,12%.

"As commodities caíram por conta de preocupações com a demanda global, que sofre com as perspectivas de inflação e juros altos nas principais economias. Além disso, há sinais de fraca recuperação econômica da China, que pesou sobre o minério de ferro e afetou as ações da Vale", diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

O petróleo, que caiu mais de 4%, também foi afetado por incertezas sobre novos cortes na Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados).

Ações do setor bancário também caíram após a divulgação dados que mostram recuo nas concessões de empréstimos e aumento da inadimplência no Brasil. Papéis do Itaú e do Bradesco caíram 1,41% e 2,72%, respectivamente, e acompanharam Vale e Petrobras na lista dos mais negociados do pregão.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, além de afetarem as ações de bancos, os dados também sinalizam um risco para a economia do país.

"Apesar da previsão de um corte na Selic neste ano, seu efeito ser irrisório no mercado de crédito, que ainda pode comprometer a economia brasileira", diz ela.

Frigoríficos brasileiros também aprofundaram perdas nesta terça, após a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) anunciar que os bancos vão passar a checar as empresas que compraram gado proveniente de áreas desmatadas na Amazônia Legal antes de conceder crédito.

Na outra ponta, porém, altas do Banco do Brasil (0,85%), que anunciou a antecipação do pagamento de dividendos, da IRB Brasil (4,31%) e da Hapvida (4,10%) apoiaram o Ibovespa.

Ainda nesta terça, a FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou que a deflação do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) se intensificou em maio para 1,84% e marcou a maior queda na série histórica iniciada em 1989. Em paralelo, o IPP (Índice de Preços ao Produtor), do IBGE, caiu 0,35% em abril, a terceira taxa mensal negativa seguida.

Os novos dados somam-se ao IPCA-15, divulgado na semana passada, como sinais de alívio na alta de preços no Brasil.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou na segunda (29) que os núcleos de inflação estão perdendo força, embora de maneira mais lenta que o esperado. Ele diz, porém, que a queda deve se manter.

Nesse cenário, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2024 mantiveram-se estáveis em 13,20%, enquanto os para 2025 foram de 11,48% para 11,46%.

O mercado projeta o início de cortes na Selic (taxa básica de juros) em setembro deste ano, mas apostas de uma diminuição antecipada vêm ganhando força com a divulgação dos últimos dados de inflação.

Nos Estados Unidos, investidores acompanham a tramitação do acordo para elevar o teto da dívida no Congresso americano. Parlamentares de extrema direita já se manifestaram contra o texto, e o presidente Joe Biden precisa do apoio da maioria republicana na Câmara para a aprovação do acordo.

O projeto está sendo avaliado pelo Comitê de Regras da Câmara dos EUA nesta tarde e deve ser votado pelos parlamentares ainda nesta semana.

Além disso, o aumento das apostas de que o Fed pode promover uma nova alta nos juros dos Estados Unidos apoiava a moeda americana. Isso porque o dólar tende a se beneficiar em períodos de juros altos nos EUA, já que a renda fixa do país torna-se mais atrativa para recursos de investidores.

"O que a gente vê é o Fed muito comprometido com o patamar de 2% [de inflação], que ainda está muito distante. Há vários indicadores de que, se não mantiverem uma postura rígida, não conseguirão levar a inflação para a meta", diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

Pizzani diz que vê grandes chances de o banco central norte-americano pausar o aperto monetário na próxima reunião para avaliar o estado da economia e, depois, no encontro seguinte, voltar a subir os juros.

A perspectiva de queda nos juros no Brasil, por sua vez, também contribui para a alta do dólar com relação ao real, já que, na lógica inversa, os ativos locais teriam menor rendimento, o que tende a gerar saída de recursos.

No mercado de ações americano, o destaque do dia é a Nvidia, que chegou a atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado nesta terça impulsionada pelo crescimento da inteligência artificial. A fabricante de chips, porém, encerrou o dia fora do grupo de empresas trilionárias, e suas ações fecharam o dia com alta de 3,02%.

Com isso, o Nasdaq, mais sensível ao setor de tecnologia, subiu 0,32%. O Dow Jones, porém, teve queda de 0,15%, enquanto o S&P 500 manteve-se em estabilidade.