Bolsa cai e dólar sobe às vésperas de decisão de juros no Brasil
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou queda nesta terça-feira (20) impactada por um movimento de realização de lucros, quando investidores vendem ações que se valorizaram rapidamente para efetivar os ganhos com os papéis.
Já o dólar teve um dia de recuperação frente ao real, após ter atingido seu menor valor em mais de um ano, com a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que vai definir a nova taxa básica de juros brasileira nesta quarta (21), no radar dos investidores.
Com isso, o Ibovespa caiu 0,19% nesta terça, a 119.622 pontos, enquanto o dólar subiu 0,43%, a R$ 4,797.
A queda do Ibovespa era puxada principalmente pelas ações da Vale e da Petrobras, que caíam 2,75% e 0,78%, respectivamente, em dia de fraqueza das commodities no exterior. Perdas da Embraer (3,06%) e da Braskem (2,45%), que passam por correção após fortes altas nos últimos pregões, também pressionavam a Bolsa.
Na outra ponta, a maior alta era da JBS, que subia 3,28% após ter aprovado o pagamento de dividendos intermediários no valor de R$ 2,2 bilhões. Ações da BRF e da Renner também apoiavam o Ibovespa, com altas de 3,56% e 2,11%, respectivamente.
As expectativas sobre a definição da Selic (taxa básica de juros do Brasil) nesta semana continua sendo o foco dos investidores. A previsão é que a taxa seja mantida em 13,75% ao ano na reunião de quarta-feira, mas analistas esperam uma mudança de tom do Copom, com sinalização de que o início de um corte nos juros está próximo.
O boletim Focus desta semana mostrou que, após a divulgação do IPCA (índice oficial de inflação do Brasil), analistas passaram a projetar que o primeiro corte da Selic deve ocorrer em agosto, uma antecipação ante o consenso anterior, de que a redução de juros seria iniciada em setembro.
A decisão sobre juros no Brasil vem após o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) ter mantido as taxas dos EUA em 5,25% ao ano, em sua primeira pausa no aperto monetário iniciado em março de 2022, o que pressionou o dólar, que vem operando em seus menores patamares em um ano nos últimos pregões.
Isso porque a moeda americana é beneficiada por juros maiores nos EUA, pois a renda fixa americana gera maiores retornos e, consequentemente, atrai recursos para o país. Na lógica inversa, um diferencial de juros menor tende a repelir investimentos estrangeiros.
Nesta segunda, porém, o dólar opera em alta, num movimento atribuído a um movimento de ajuste após as fortes baixas registradas nos últimos pregões.
A recuperação do dólar também estava em linha com o exterior, onde a moeda subia contra várias divisas emergentes ou sensíveis às commodities, depois que a China frustrou os mercados com um corte de juros menos intenso do que o esperado.
O banco central da segunda maior economia do mundo baixou suas taxas referenciais de empréstimo (LPR, na sigla em inglês) de um ano e cinco anos em 0,10 ponto percentual cada, a primeira redução em dez meses, à medida que as autoridades buscam sustentar uma recuperação em desaceleração.
Apesar da alta desta sessão, a expectativa é que o dólar volte a cair no Brasil.
Isso porque o real tem sido favorecido ante a moeda americana pela melhora nas perspectivas econômicas para o país, em especial de redução da inflação e crescimento do PIB. A inflação menor, aliás, faz com que os juros reais do Brasil, que descontam o IPCA, fiquem mais altos.
Assim, mesmo que a Selic seja mantida em 13,75% nesta semana, o que normalmente pressionaria o real, a tendência é que o dólar continue sua trajetória de queda nas próximas semanas.
"Há possibilidade de o dólar cair ainda mais, principalmente com o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil. O país vive um bom momento e está atraindo muito capital, principalmente pelos juros altos e pela melhora no ambiente econômico com o novo arcabouço fiscal e a possibilidade de uma reforma tributária. O momento é bom para o real", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Nos mercados futuros, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2024 caíam de 13,02% para 12,97%, enquanto os para 2025 iam de 11,13% para 11,04%.
Limitando ainda mais o apetite por risco global, o mercado se mostrava nervoso antes de depoimento de Powell ao Congresso norte-americano na quarta e na quinta desta semana, depois que comentários recentes mais duros do que o esperado de seus colegas do Fed reduziram esperanças de que o banco central estaria próximo de encerrar seu ciclo de aperto monetário.
"O mau humor externo e a decepção com China podem limitar o otimismo local", disse o Banco Inter em nota a clientes nesta terça-feira.
Com isso, os principais índices acionários dos EUA registravam queda. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq tinham baixas de 0,90%, 0,78% e 0,56%, respectivamente.