Presidentes de Itaú e Bradesco defendem reforma tributária

Por LUCAS BOMBANA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Presidentes de bancos defenderam nesta terça-feira (27) a reforma tributária, classificada por eles como uma "oportunidade única" para o Brasil.

Presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior afirmou que o país tem condições de entrar no radar do capital financeiro global, se conseguir avançar com medidas importantes como a reforma tributária, o arcabouço fiscal e a redução dos juros.

"A reforma tributária está no forno e talvez seja a melhor oportunidade dos últimos 20, 30 anos que a gente tem de fazer uma reforma tributária que ajuste o custo das empresas brasileiras para gerir esse tributário que é extremamente elevado e que está no custo Brasil", afirmou durante o evento FebrabanTech, organizado pela federação dos bancos, em São Paulo.

Lazari Junior acrescentou que há um grande volume de capital disponível nos mercados globais, e que o país precisa ajustar algumas coisas que "ainda não estão muito bem ajustadas" para competir por esses recursos.

"Reforma tributária, arcabouço fiscal, redução da taxa de juros, tudo isso vai ser fundamental para que a gente esteja definitivamente nesse mapa de investimentos", afirmou o executivo.

"Temos oportunidade muito grande de atrair investimentos estrangeiros, o mundo está olhando quais são as oportunidades de investimento, porque tem muito capital para alocar", acrescentou. "E o Brasil se destaca como um dos principais destinos, mas ainda precisa ajustar coisas. É uma oportunidade que talvez demore mais 20 anos para aparecer de novo."

Presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho endossou o discurso do concorrente e também defendeu a aprovação da reforma tributária no Congresso. "O país está passando por uma oportunidade única e a gente tem que aproveitar essa oportunidade. Essas janelas não aparecem todos os dias", afirmou.

O executivo qualificou a reforma tributária como "superimportante" e pontuou que o país está às vésperas de uma votação sobre o tema na Câmara. "Temos que ter visão coletiva de país, e não de cada setor", defendeu ao tratar da reforma tributária.

Em vídeo gravado para o evento, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que o setor financeiro tem ajudado o governo nas discussões de pautas importantes no campo econômico, referentes ao novo arcabouço fiscal e à reforma tributária.

"O setor financeiro tem sido um grande parceiro para difundirmos na sociedade brasileira a importância do novo regime fiscal e de uma reforma tributária que estimule a produção e desonere completamente o investimento e também desonere completamente as exportações do nosso país", afirmou Alckmin.

O vice-presidente lembrou ainda que recentemente o BNDES se filiou à Febraban, uma aproximação que, segundo ele, permitirá que governo e iniciativa privada concebam uma política de crédito equilibrada e consistente com as necessidades de consumo e investimento no Brasil.

Também durante a abertura do evento, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, fez uma defesa do papel dos bancos na economia brasileira e de sua importância na área social. E tratou rapidamente do nível dos juros no país.

"Juros são consequência de problemas da economia", afirmou, em um discurso que vem sendo adotado pela Febraban ao tratar das taxas cobradas de famílias e empresas. "Investimentos não dialogam com incertezas", acrescentou.

De acordo com Isaac, o país precisa "urgentemente baratear custo do crédito". "Precisamos atacar as causas dos custos da intermediação financeira", disse.

Em sua fala, Lazari também tratou rapidamente dos juros. Segundo ele, o país está "quase" na redução da taxa de juros.

Atualmente, a taxa básica Selic está em 13,75% ao ano e, no mercado financeiro, a expectativa majoritária é de que o Banco Central promova um primeiro corte de 0,25 ponto percentual no encontro de agosto.

PRESIDENTE DA FEBRABAN CRITICA FINTECHS

Sidney também fez críticas às fintechs, que têm ganhado espaço no mercado nos últimos anos.

"Somos, por vezes, qualificados pela concorrência recém-chegada como instituições tradicionais, os bancões, geralmente acompanhado de um tom de demérito, quase acusatório. Aqui cabe uma reflexão, o tom jocoso da concorrência revela algo que aqueles que nos criticam não têm: eles não têm história. Nós temos uma bela história", afirmou o presidente da Febraban.

"Não é depreciativo ter história, presença física em todos os estados do país e estar no dia a dia de milhões de empresas e pessoas", disse o dirigente.

Ele acrescentou que alguns entrantes da indústria financeira no país surgem "do nada" e se intitulam modernos, baratos e inovadores. "Nós, bancos, não nascemos agora e não atuamos fazendo marketing e publicidade", disse Sidney.

Segundo ele, inovações como o Real Digital e o Open Finance estão em plena fase de evolução e serão os bancos que irão consolidar esse processo.

"O Pix, criado pelo Banco Central e incorporado com orgulho ao nosso cotidiano bancário, é um sucesso nacional e um exemplo internacional. Não é à toa que o DOC, com 37 anos de uso, sucumbiu a essa modernidade e será descontinuado em 2024", disse Sidney.

BANCOS SERÃO PROTAGONISTAS NA FRENTE DE MELHORES PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE E POLÍTICAS VERDES, DEFENDE SETOR

O presidente da Febraban afirmou também que os bancos seguirão sendo protagonistas na frente de melhores práticas de sustentabilidade e políticas verdes.

"Há poucas semanas, depois de mais de um ano de conversas com toda a industria bancária, com o setor de carnes, ONGs e vários órgãos do governo, anunciamos a autorregulação para cadeia de carnes na região da Amazonia Legal e Maranhão", afirmou Sidney.

Presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho afirmou que a intenção do banco é contribuir para a transição dos clientes para a adoção de práticas mais sustentáveis em suas operações. "A gente quer ser o banco da transição, apoiar os nossos clientes nesse processo", disse o executivo.

Ele acrescentou que o Itaú aprovou no ano passado um projeto que prevê a concessão de créditos da ordem de R$ 400 bilhões em projetos de clientes que promovam práticas sustentáveis até 2025. Até aqui, R$ 300 bilhões já foram liberados. A expectativa é que o montante previsto seja revisado conforme as metas forem alcançadas, disse Maluhy Filho.

Presidente do BTG Pactual, Robertou Sallouti afirmou que o banco prepara a estruturação de um fundo voltado ao reflorestamento no valor de US$ 1 bilhão. Cerca da metade do valor já está reservado por grandes investidores internacionais e governos, incluindo o dos Estados Unidos.

O projeto prevê o reflorestamento de 280 mil hectares de área de pasto desmatado, com a área recuperada servindo para comercializar créditos de carbono.

"Se a gente botar a nossa capacidade de originação, de distribuição, de ideias, para alocar recursos eficientes, conseguimos combinar uma boa rentabilidade para os investidores com uma atividade que realmente ajuda o meio ambiente, o Brasil e o mundo", afirmou Sallouti.

Presidente da Caixa, Maria Rita Serrano disse que a sustentabilidade ocupa um papel de destaque dentro do plano estratégico do banco para os próximos anos.

"Não existe nenhuma dicotomia entre a sustentabilidade, o investimento na bioeconomia e os compromissos com a descarbonização que são tão presentes hoje no nosso país e tão urgentes no mundo", afirmou a presidente da Caixa.