Bolsa volta a subir após dados positivos de inflação e com foco no CMN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira quebrou uma sequência de quedas e voltou a subir nesta quinta-feira (29), após a publicação do Relatório Trimestral de Inflação, pelo BC (Banco Central), e com foco na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), além de dados positivos de inflação divulgados pela manhã.
Já o dólar abriu em alta e chegou a bater os R$ 4,87 na máxima do dia, mas fechou praticamente estável, ainda apoiado por um movimento global de aversão ao risco e impactado pela formação da taxa Ptax, que ocorrerá na sexta-feira (30).
Com isso, o Ibovespa subiu 1,45%, a 118.382, enquanto o dólar teve queda de 0,04%, praticamente estável cotado a R$ 4,848.
Nesta terça, o CMN fixou a meta de inflação para 2026 em 3%, e o governo decidiu alterar o sistema para adotar uma metodologia de "meta contínua", com um horizonte móvel para seu cumprimento, a partir de 2025.
O modelo atual, chamado de "ano-calendário", que está em vigor há mais de 20 anos no Brasil, considera a inflação acumulada relativa ao período de janeiro a dezembro de cada ano. A mudança já era esperada pelo mercado.
Na prática, o novo modelo dará ao BC mais tempo para colocar a inflação na meta, sem precisar necessariamente bater no alvo a cada um dos anos. Mais do que alongar o prazo, o colegiado transformaria a busca pela meta em um objetivo permanente e oficializaria uma regra já adotada pela autoridade monetária na prática e já vigente nas grandes economias.
"No final das contas, a alteração do regime não mexe na condução da política monetária, e a confirmação do alvo e bandas deverá gerar alívio nas expectativas longas", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Mais cedo, em seu relatório trimestral de inflação, o BC revisou a estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2023 para 2,0%, ante 1,2% em sua última projeção, divulgada em março. A autoridade diz, no entanto, que o cenário ainda é de desaceleração da atividade econômica neste ano.
Em relação à inflação, o BC avaliou que o comportamento recente nos preços no atacado, tanto na parte de alimentos quanto na parte de industriais, sugere continuidade do movimento de diminuição da inflação nos próximos meses.
Ainda nesta quinta, a FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou que o IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como "inflação do aluguel", caiu mais do que o esperado em junho e marcou as taxas de deflação recorde.
O índice registrou queda de 1,93% em junho, após baixa de 1,84% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, a baixa é de 6,86%, recorde da série histórica iniciada em 1989.
**JUROS FUTUROS FECHAM EM QUEDA**
Nos mercados futuros, os juros tiveram forte queda. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 foram de 12,96% para 12,91%, enquanto os para 2025 caíram de 10,97% para 10,87%. Para 2026, a expectativa de juros foi de 10,34% para 10,25%.
"Temos os juros calmos pois o risco que existia no mercado, que seria o CMN alterar a meta de inflação, foi eliminado. Todos [do conselho] entenderam que não era o momento propício para isso. Esse cenário faz com que juros e dólar, que poderiam apresentar um movimento de estresse caso uma alteração fosse feita, fiquem sob controle", afirma Leandro Petrokas, diretor de pesquisa da Quantzed
Nesse cenário, a Bolsa teve alta e recuperou 118 mil pontos, impulsionada por ganhos das ações da Vale (1,39%) e da Petrobras (0,64%), que foram beneficiadas pela subida das commodities no exterior.
A maior alta do dia foi do GPA, que disparou 13,24% após receber uma oferta para aquisição de sua participação no colombiano Éxito. Altas de Localiza (2,86%), Itaú (1,52%) e Bradesco (0,55%), que se recuperaram de quedas em pregões recentes, também apoiaram o Ibovespa.
No câmbio, o dólar ficou estável após ter começado o dia em alta, com impacto da formação da Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo BC que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.
A moeda também vem ganhando força nos últimos dias com o aumento da aversão ao risco no exterior, após chefes de bancos centrais globais terem sinalizado que novas altas de juros para combater a inflação podem estar a caminho. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, teve alta de 0,43% nesta tarde.
Nos Estados Unidos, os índices acionários registraram alta depois que os principais bancos do país passaram pela avaliação de saúde anual do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que mostrou que eles têm capital suficiente para enfrentar uma crise econômica. Ações do Bank of America, JPMorgan Chase, Goldman Sachs e Wells Fargo subiram entre 2,10% e 4,50%.
Com isso, o Dow Jones e o S&P 500 tiveram alta de 0,80% e 0,45%, respectivamente, enquanto o Nasdaq ficou estável.