Homens voltam ao escritório antes das mulheres nos EUA

Por DOUGLAS GAVRAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os homens estão deixando o home office em um ritmo mais rápido do que as mulheres nos Estados Unidos, segundo dados de junho do BLS (agência de estatísticas do trabalho, na sigla em inglês).

Em 2022, as mulheres tinham mais probabilidade de trabalhar a partir de casa do que seus colegas homens --41% delas e 28% deles. Um ano antes, esses percentuais eram de 41,5%, para as mulheres, e de cerca de 35,3% para os homens.

Em um dia comum, as mulheres se dedicaram muito mais às atividades domésticas e ao cuidado dos filhos do que os homens. 22% dos homens disseram ter feito algum trabalho doméstico, como limpeza ou lavar a roupa. Ao mesmo tempo 47% das mulheres disseram ter feito o mesmo.

Elas também direcionaram, em média, 2,7 horas do dia nos serviços do lar, enquanto os homens disseram ter dedicado 2,2 horas.

A Fisher College of Business da Universidade de Ohio fez um estudo recentemente mostrando que quando um casal trabalha em casa, o homem tende a ter mais produtividade do que a mulher, que geralmente se sente sobrecarregada com as atividades domésticas. As mulheres também diziam se sentir mais culpadas caso tivessem de ficar menos tempo com a família e mais tempo no escritório.

De forma geral, 34% dos trabalhadores norte-americanos trabalharam de casa ao menos parcialmente em 2022, enquanto 69% trabalharam no escritório.

O percentual de trabalhadores em home office caiu em relação a 2021, quando era de 38%, mas ainda permanece mais alto do que era antes da pandemia, em 2019 (24%).

Em média, os trabalhadores que estavam em home office ou no sistema híbrido no ano passado trabalharam cerca de 5,5 horas por dia, e os que estavam no escritório empregaram 7,9 horas por dia em suas atividades.

As modalidades mais flexíveis de trabalho também refletem um cenário desigual: os empregados com maiores níveis educacionais são aqueles com maior oportunidade de executarem suas tarefas de casa.

Entre os trabalhadores com 25 anos ou mais, 54% dos que tinham nível superior puderam trabalhar de casa ao menos durante alguns dias da semana -enquanto apenas 18% dos que não eram graduados tinham a mesma oportunidade.

Apesar do avanço da vacinação e do arrefecimento da pandemia de Covid-19, boa parte dos trabalhadores têm resistido a deixar formas mais flexíveis de trabalho.

Os centros de cidades como San Francisco (Califórnia) têm refletido o impacto do home office no ecossistema urbano. Segundo a empresa de segurança Kastle, em qualquer dia da semana, os prédios comerciais da cidade que concentra inovação dos EUA estão com 40% do nível de ocupação pré-crise sanitária.

Ao mesmo tempo, algumas das mais importantes empresas do país, como o Goldman Sachs, a Apple e a Amazon, têm cobrado que seus funcionários voltem ao escritório ao menos parcialmente. A Disney estipulou quatro dias presenciais por semana, a Meta (dona do Facebook) planeja que o retorno aconteça até setembro.

Reportagens recentes publicadas pela imprensa norte-americana também têm buscado retratar a queda de braço entre trabalhadores e chefes na batalha pelo retorno ao escritório.

O atual momento, dizem os analistas, vai exigir uma revisão das estratégias de lideranças e será preciso que as empresas reformulem as dinâmicas do trabalho para os dias em que as que equipes estiverem no escritório.

Para eles, vai ser preciso fazer com que as pessoas sintam que é importante enfrentar o trânsito e abram mão de mais tempo com a família e não adianta forçar o retorno.

O JP Morgan, por exemplo, circulou um memorando em que dizia que os gestores deveriam estar cinco dias por semana e que poderiam consideram ações corretivas, caso a presença das equipes no escritório se mantenha baixa --a resposta foi uma chuva de críticas dos funcionários nos fóruns internos da companhia.

O New York Times considera que o retorno ao escritório entrou em uma espécie de "fase de desespero", em que as empresas têm recorrido a incentivos para reocupar as suas baias.

Há desde recompensas -como a doação de US$ 10 para uma instituição de caridade da escolha do empregado (feito pela fabricante de softwares Salesforce)-- até consequências negativas, como avaliações de desempenho ruins para quem não voltar ao escritório, conforme sinalizou o Google recentemente.