Galípolo diz que ata do Copom vira campeonato mundial de interpretação na Faria Lima

Por THAÍSA OLIVEIRA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Indicado pelo governo Lula (PT) para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo afirmou nesta quarta-feira (4) que, a cada ata do Copom (Comitê de Política Monetária), a Faria Lima inicia um campeonato mundial de interpretação de texto.

"Eu já vejo que o Banco Central vem levantando essa preocupação [de melhorar a comunicação]. Iniciou com um programa de lives e com seus diretores também vindo falar, porque realmente existe ali uma linguagem própria", disse.

"Você sabe, senador, que cada vez que sai uma ata do Copom, na Faria Lima, se inicia um campeonato mundial de interpretação de texto: o que cada vírgula quer dizer, o que cada palavra quer dizer. Isso acontece há muito tempo, mas, hoje em dia, cada vez mais, dada a velocidade da comunicação nas redes sociais", completou.

A declaração ocorreu durante sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, onde Galípolo foi aprovado por 23 votos a 2. O nome dele ainda deve ser confirmado pelo plenário da Casa nesta quarta, mas a expectativa é que não haja obstáculos.

O Copom é o órgão do BC responsável pela definição da taxa básica de juros, a Selic. O comitê se reúne oito vezes por ano, a cada 45 dias, e publica as atas até quatro dias úteis após as reuniões.

Em meio às críticas de Lula e de integrantes do governo ao patamar atual da taxa Selic -mantida em 13,75% ao ano-, senadores apontaram problemas na comunicação do Banco Central.

Até mesmo parlamentares de oposição, como o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), criticaram a autarquia pela linguagem usada em documentos formais.

"Eu perguntaria aqui se não teria como vocês divulgarem numa linguagem mais popular, mais simples, para que toda população entendesse exatamente essas questões que estão acontecendo na economia do Brasil", questionou.

O servidor do BC Ailton de Aquino Santos, indicado pelo governo para comandar a área de Fiscalização da autarquia, também afirmou que a "comunicação do Banco Central precisa melhorar". Ele foi aprovado pela CAE por 24 votos a 1.

"A linguagem do Banco Central é uma linguagem muito hermética, muito difícil, e a gente precisa fazer um trabalho muito claro sobre isso, sobre melhorar a linguagem. Até na própria ata, eu escuto sempre, por estar na casa, que a gente tem um dever de nos comunicarmos melhor", disse.

"A comunicação do Banco Central precisa melhorar. Então, isso está na agenda do dia e, com certeza, caso meu nome seja aprovado, esse é um tema que eu vou defender internamente, senador."

Interlocutores do governo afirmam que a indicação de Galípolo é uma maneira de "marcar território" dentro do BC, que hoje tem a diretoria composta integralmente por nomes escolhidos por Bolsonaro. A postura rígida do colegiado em defesa da manutenção dos juros em 13,75% ao ano tem sido um terreno fértil para críticas fomentadas pelo governo.

Futuramente, a aposta é que ele seja o escolhido de Lula para suceder Campos Neto, cujo mandato na presidência do BC termina em dezembro de 2024.