Bolsa e dólar sobem após dados fracos sobre economia da China e do Brasil
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Numa sessão volátil, a Bolsa brasileira fechou em alta e recuperou os 118 mil pontos nesta segunda-feira (17) após a divulgação de dados sobre o crescimento econômico da China e do Brasil, que indicaram desaceleração nos dois países. No mercado local, porém, os números endossaram as apostas de um corte na Selic (taxa básica de juros) em agosto, o que beneficiou os ativos de risco.
Já o dólar começou o dia em forte alta, mas desacelerou os ganhos ao longo da sessão, com investidores repercutindo os dados da China enquanto seguem à espera das próximas decisões de política monetária de bancos centrais globais.
Com isso, o Ibovespa fechou o dia com alta de 0,43%, aos 118.219 pontos, enquanto o dólar subiu 0,25%, cotado a R$ 4,807.
Nesta segunda-feira, o Departamento Nacional de Estatísticas da China divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto do País) do país cresceu 6,3% no segundo trimestre deste ano, acelerando de 4,5% nos primeiros três meses de 2023, mas ficando abaixo da expectativa de crescimento de 7,3%.
Dados também mostraram que as vendas de imóveis na China entre maio e junho apresentaram a maior queda mensal deste ano, com base nas comercializações por área útil, e o investimento em propriedades também caiu.
Os números apontam que a recuperação econômica chinesa está enfraquecida, com as exportações caindo ao ritmo mais lento em três anos devido à demanda desacelerada no mercado interno e externo, além de uma queda prolongada no mercado imobiliário, o que aumenta as expectativas de que os formuladores de políticas precisarão fazer mais para fortalecer a segunda maior economia do mundo.
"Os mercados estão ensaiando um começo de semana mais negativo, à medida que as preocupações com a economia lenta da China crescem", disse equipe da Guide Investimentos em nota a clientes.
No Brasil, o Banco Central (BC) divulgou que seu IBC-Br (Índice de Atividade Econômica) recuou 2% em maio em relação ao mês anterior, registrando o pior resultado em pouco mais de dois anos, sob os efeitos da escalada de juros promovida pela autoridade monetária.
A desaceleração do indicador, porém, reforçou as apostas de um corte da Selic na próxima reunião Copom (Comitê de Política Monetária), e os mercados futuros registraram queda significativa. Os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2024 caíram de 12,84% para 12,79%, enquanto os para 2025 saíram de 10,89% para 10,79%.
Nesse cenário, o Ibovespa abriu em queda e chegou a operar abaixo dos 116 mil pontos na mínima do dia, mas passou a registrar alta, apoiada pela queda nas curvas de juros futuros e por otimismo no mercado americano, que também teve um dia positivo.
"A curva de juros brasileira fechou e trouxe fluxo para empresas locais. Ao longo dia, percebemos mais apetite ao risco, com os investidores voltando a comprar ativos que caíram na semana passada", afirma João Piccioni, analista da Empiricus Research.
A Bolsa brasileira foi beneficiada principalmente por altas da Renner (1,00%) e do Itaú (1,73%), que ficaram entre as mais negociadas da sessão.
O setor bancário, aliás, teve um pregão positivo com o início do programa Desenrola Brasil, que promove renegociação de dívidas para clientes de ao menos oito bancos. Além do Itaú, registraram alta as ações do Bradesco (1,59%) e do Banco do Brasil (0,88%).
Apoiaram o Ibovespa, ainda, as "small caps", empresas menores e mais sensíveis à queda das expectativas de juros. O índice que reúne essas companhias subiu 0,65% nesta segunda.
As maiores altas do dia ficaram com Raízen (3,68%), BTG (3,13%) e MRV (2,96%).
Na outra ponta, o índice sofreu pressão com a queda de 1,16% nas ações da Vale, impactadas pelo recuo do minério de ferro no exterior após a divulgação dos dados sobre a economia chinesa. Também registraram perdas IRB Brasil (3,15%), BRF (2,70%) e Weg (1,94%).
Os principais índices de ações dos Estados Unidos tiveram alta com expectativa sobre a divulgação de balanços corporativos trimestrais de grandes empresas do país ao longo da semana, como Tesla, Bank of America, Morgan Stanley e Netflix.
Com isso, o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiam 0,39%, 0,22% e 0,93%, respectivamente, dando impulso ao Ibovespa.
No câmbio, o dólar tinha alta ante o real enquanto apresentava estabilidade frente a outras moedas fortes no exterior. Operadores seguem na expectativa pela reunião de política monetária do Federal Reserve do final deste mês, depois que sinais de arrefecimento da inflação nos Estados Unidos reduziram temores sobre a postura do banco central.
"Acreditamos que o Fed irá subir a taxa de juros em julho; no entanto, outro aumento depois disso dependerá dos indicadores relativos à inflação e à atividade econômica, embora seja improvável no momento", disse Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.
Operador ouvido pela Reuters ponderou que, com a chegada do recesso parlamentar, também há uma calmaria maior nos negócios no Brasil. Segundo ele, a divulgação do IBC-Br chegou a contribuir para a alta mais forte do dólar ante o real pela manhã, em meio a certo mal-estar com o resultado, mas a influência do exterior acabou se sobressaindo.