Desinflação é lenta e convergência para meta deve ocorrer em 2025, diz diretora do BC
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diretora de assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos do BC (Banco Central), Fernanda Guardado afirmou nesta segunda-feira (14) que o processo de desinflação em curso no país tem ocorrido de maneira lenta e que uma convergência para a meta deve demorar mais dois anos.
"A economia está apresentando uma desinflação lenta, que a gente espera que traga a convergência para a meta de 3% no início de 2025", afirmou a diretora do BC durante transmissão online no canal da autoridade monetária no YouTube.
Ela assinalou que a perda de ímpeto da pressão inflacionária reflete o trabalho iniciado pelo BC em 2021, que levou a taxa básica de juros da mínima histórica de 2% ao ano para 13,75% no fim do ano passado.
No início do mês, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC anunciou o primeiro corte de juros no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a redução da taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual -de 13,75% para 13,25% ao ano. O tamanho do afrouxamento gerou divergências e o placar final ficou apertado (5 a 4), mas os diretores foram unânimes em antever novas quedas de 0,5 ponto nas próximas reuniões.
Já os dados mais recentes de inflação divulgados na sexta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,12% em julho, passando a acumular alta de 3,99% em 12 meses.
Fernanda, que divergiu da maioria e votou por uma alta de 0,25 ponto percentual na reunião de agosto do Copom, afirmou que o mercado de trabalho no país está aquecido, com uma taxa de desemprego "relativamente baixa" e que o BC trabalha com uma projeção de crescimento de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil neste ano.
"A economia tem tido um resultado bastante bom nos últimos três anos", afirmou a diretora do BC.
Ela acrescentou que o risco de um ambiente global de inflação persistentemente alta segue no radar da autoridade monetária, em um cenário de mercado de trabalho apertado em diversos países e com a guerra na Ucrânia que mantém as cadeias de suprimentos pressionadas. "O Brasil não é uma ilha e estamos expostos a esse tipo de pressão nos preços", disse Fernanda.
Já entre as oportunidades que se abrem ao país, a diretora do BC abordou o potencial de atração de recursos à região relacionados a projetos de sustentabilidade. "O Brasil tem uma grande vocação para a geração de energia limpa e de projetos que combatam o desmatamento ilegal".
DÍVIDA PÚBLICA E PRODUTIVIDADE IMPLICAM EM JURO BRASILEIRO MAIS ALTO QUE DOS PARES EMERGENTES
A diretora disse também que o BC estima que a taxa de juros neutra está hoje em 4,5% ao ano, em termos reais, ou seja, sem considerar a inflação. Levando em conta a meta de inflação de 3%, a taxa de juros neutra nominal chega a 7,5%, acrescentou.
A taxa de juros neutra é aquela que garante que a demanda está crescendo em linha com a oferta, de modo a não criar pressões inflacionárias na economia, explicou Fernanda.
A diretora do BC disse também que pares emergentes como México, Chile e Colômbia têm, historicamente, taxas neutras de juros mais baixas que o Brasil, entre 0,5% e 2% real. Segundo ela, a taxa mais alta no país se deve a fatores como o tamanho da dívida pública, o potencial de crescimento da economia e o grau de produtividade.