Nunca falamos em acabar com o parcelado sem juros, diz presidente do Itaú

Por LUCAS BOMBANA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os presidentes do Itaú e do Santander afirmaram que um redesenho no modelo do mercado de cartões é necessário para que possa ser viável uma redução nos juros cobrados na modalidade do rotativo.

Enfatizaram, contudo, que não está em estudo um eventual fim do parcelado sem juros, prática apontada pelos bancos entre as causas para o juro alto do rotativo.

"Não existe pretensão de acabar com o parcelado sem juros. Nunca houve e nunca falamos de acabar com o parcelado sem juros", afirmou nesta terça-feira (22) o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, durante participação em evento promovido pelo Santander em São Paulo.

Mais cedo no mesmo evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, assinalou que o parcelado sem juros é um componente importante para o consumo no país e não pode sofrer "nenhuma ruptura".

O presidente do Itaú acrescentou que todos os atores envolvidos no ecossistema de cartões, que inclui as empresas adquirentes (responsáveis pelas máquinas de pagamentos), as bandeiras de cartões, os grandes bancos e os órgãos reguladores, estão sentados à mesa em busca de uma solução.

Presidente do Santander, Mário Leão afirmou que os bancos não estão "demonizando" a prática do parcelado sem juros, mas defendeu um "redesenho" no modelo praticado hoje no mercado de cartões.

"O redesenho não é sobre demonizar ou deixar de ter o parcelado sem juros, mas existe, sim, a necessidade de a gente transformar o hoje equilíbrio instável em relação ao financiamento do cartão para um equilíbrio mais estável, em que os riscos, os benefícios, os balanços associados ao financiamento do cartão de crédito sejam mais bem construídos entre os diferentes players", afirmou Leão.

Maluhy Filho endossou a fala do presidente do Santander e disse que é preciso discutir uma transição gradual em relação ao modelo atual.

"Se a gente realmente acredita que precisamos trazer o nível de juros para um patamar mais baixo, naturalmente precisamos sentar e discutir o que é essa transição gradual", afirmou o presidente do Itaú, acrescentando que cabe aos bancos elaborar estudos a respeito do tema, mas que a decisão fica a cargo do CMN (Conselho Monetário Nacional), composto pelo presidente do BC e os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

O presidente do Itaú disse ainda que, ao considerar as carteiras de cartão de crédito do sistema financeiro nacional, cerca de 75% não pagam juros, e apenas 25% pagam. Segundo ele, nos países desenvolvidos e mesmo entre os pares emergentes, a relação é inversa, com aproximadamente 70% das carteiras de crédito com incidência de juros.

"Vamos ter de lidar com visões muito individuais de autopreservação de um ou outro modelo. O que estamos fazendo é a construção para ter um produto que seja uma solução boa para a sociedade e para o país", afirmou Maluhy Filho.

Leão, do Santander, disse ainda que o setor se coloca contra qualquer tipo de tabelamento ou teto para os juros do rotativo. Ao limitar os juros de forma artificial, o maior efeito que a medida causaria seria excluir de uma camada da população a capacidade de consumir, argumentou o presidente do Santander.

"Ao tirar das pessoas a capacidade de consumir, obviamente não só diminui o consumo, diminui o emprego, diminui o PIB, e toda cadeia hoje financiada pelo cartão vai ser reduzida de forma material", afirmou Leão.