Bolsa tem forte alta e dólar cai com alívio sobre juros nos EUA

Por MARCELO AZEVEDO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou mais uma forte alta e recuperou os 118 mil pontos nesta terça-feira (29), enquanto o dólar caiu aos R$ 4,85, após a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos, que vieram mais fracos que o esperado.

A sinalização de desaquecimento do mercado de trabalho americano endossou apostas de que a escalada de juros nos EUA está próxima do fim, trazendo otimismo ao mercado. Nesse cenário, a Bolsa brasileira teve apoio dos índices do exterior, que fecharam em alta, e o dólar recuou ante o real e outras divisas.

Com isso, o Ibovespa fechou em alta de 1,09%, aos 118.403 pontos, enquanto o dólar caiu 0,44%, terminando o dia cotado a R$ 4,853.

O Departamento de Trabalho dos EUA divulgou nesta terça que o número de vagas de emprego em aberto nos Estados Unidos caiu pelo terceiro mês consecutivo em julho, mostrando uma desaceleração gradual da atividade americana.

A resiliência do mercado de trabalho do país foi um dos motivos de preocupação do mercado nos últimos meses. O indicador é acompanhado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para a tomada de decisão sobre os juros no país, e um cenário de emprego aquecido é um dos fatores que podem levar o banco a manter o aperto monetário neste ano.

Com os números desta terça, a avaliação do mercado é de que as chances de uma nova alta de juros em 2023 diminuíram.

"Finalmente a esperada desaceleração no mercado de trabalho americano está dando sinais", escreveu Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.

Após a divulgação dos dados de emprego, as projeções de que o Fed deve manter os juros inalterados em sua próxima reunião, marcada para o início de setembro, aumentaram. Agora, o mercado vê 86,5% de chance de manutenção das taxas de empréstimo nos EUA no próximo mês, ante 78% na segunda (28), segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group.

Com a notícia, os índices acionários americanos tiveram altas significativas. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 1,45%, 0,85% e 1,74%, respectivamente.

Também na esteira dos dados, o índice do dólar frente a uma cesta de pares fortes caiu 0,60%, abandonando os fortes ganhos do início do dia.

Vários outros indicadores econômicos importantes estão agendados para esta semana nos EUA, incluindo um índice de inflação acompanhado de perto pelo Fed, o PCE.

Os próximos dados, inclusive, serão ainda mais relevantes para as apostas sobre a política monetária que os números de emprego, como aponta Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

"O contexto ainda é de ritmo forte na economia do país. Parafraseando o próprio presidente do Fed, serão necessários dados de mais de um mês para motivar mudanças de curso na política monetária. O mercado vai ter que segurar a ansiedade, pois os dados de agosto serão cruciais", diz Igliori.

No Brasil, o dia foi de agenda esvaziada. O mercado aguarda nesta semana a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, que deve ocorrer na sexta, enquanto digere uma medida provisória do governo para instituir uma tributação periódica sobre os rendimentos de fundos exclusivos de investimento.

Num geral, não se viu grande impacto da MP nos negócios desta terça-feira, uma vez que a medida já era esperada, enquanto a maioria dos investidores entende que esta é uma tentativa do governo de elevar as receitas de forma a conseguir atender às metas previstas no novo arcabouço fiscal.

Para a equipe de renda variável da XP Investimentos, a falta de agenda no Brasil tende a reduzir a liquidez dos mercados em geral, mas o sinal positivo no exterior ajudou o Ibovespa nesta terça.

Nesse cenário, a Bolsa operou em alta impulsionada pelas ações da Vale, que subiram 3,27%.

"A recente valorização do minério de ferro negociado no mercado internacional, bem como possíveis ações governamentais na China, tendem a beneficiar o setor [de mineração], que teve grande desvalorização neste ano", afirma Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

O setor financeiro também foi um dos pontos de apoio do Ibovespa nesta terça, em meio a expectativas relacionadas aos planos do governo relacionados à tributação de juros sobre capital próprio, que deve encaminhar um projeto sobre o tema nesta semana. Bradesco, Itaú e Banco do Brasil subiram 1,11%, 1,65% e 0,45%, respectivamente, e o índice que reúne empresas do setor teve alta de 1,13%.

A líder de ganhos da sessão foi a Marfrig, com alta de 10,25% após ter fechado um acordo de R$ 7,5 bilhões para vender instalações de abate de bovinos e ovinos à Minerva, que, por outro lado, encabeçou a lista de maiores perdas do pregão, registrado forte queda de 18,17%.

Nos mercados futuros, as curvas registraram baixa significativa e colaboraram para o bom desempenho do Ibovespa. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíam de 10,52% para 10,46%, enquanto os para 2027 iam de 10,21% para 10,11%.