Bolsa cai e fica abaixo dos 116 mil pontos pressionada por exterior e cenário fiscal

Por MARCELO AZEVEDO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou forte queda de 1,14% e fechou aos 115.985 pontos nesta quarta-feira (6), acompanhando os índices americanos e em meio a cautela na véspera de feriado no Brasil. As preocupações com o cenário fiscal brasileiro ainda pesam nos negócios e reforçaram o viés negativo do Ibovespa.

Já o dólar teve uma sessão volátil, mas firmou leve alta após a divulgação de dados de atividade de econômica os Estados Unidos, com o mercado ainda refletindo temores sobre novas altas de juros no país. A moeda americana terminou o dia com avanço de 0,16%, cotada a R$ 4,984.

A equipe da corretora Commcor afirma que "é notório que existe um compreensível desconforto de investidores com a capacidade de o governo entregar as metas do novo marco fiscal, com destaque ao déficit zerado em 2024", de acordo com relatório enviado a clientes.

Isso, acrescenta, "penaliza ?em segundo momento? a disposição do investidor se considerado o risco de novas manobras do governo federal no âmbito da arrecadação ?sem esse aumento de receita o novo marco fiscal não se sustenta".

O cenário de pessimismo se repetiu no exterior, em meio a preocupações sobre a desaceleração econômica da China e da zona do euro.

Nesta quarta, porém, as negociações foram por dados de serviço dos EUA, que vieram mais fortes que o esperado e reacenderam alertas sobre possíveis novas altas de juros no país.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI) final de serviços dos EUA ficou em 50,5 em agosto, mais fraco que a leitura preliminar de 51,0 e próximo do limiar que separa crescimento de contração.

Por outro lado, uma pesquisa privada separada, do Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês), mostrou que o setor de serviços dos Estados Unidos ganhou força inesperadamente em agosto, com firmeza dos novos pedidos e com as empresas pagando preços mais altos por insumos ?possíveis sinais de pressões inflacionárias ainda elevadas.

O mercado americano também repercute a divulgação do Livro Bege, um relatório periódico do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) que analisa as condições econômicas dos Estados Unidos. O documento apontou um crescimento "modesto" da economia do país nas últimas semanas, enquanto o aumento do emprego foi "moderado" e a inflação arrefeceu na maior parte dos EUA.

"O Livro Bege mostra que a economia americana vem desacelerando de forma gradual. Até o momento, tudo indica que a política monetária está funcionando, e as apostas de que não haverá aumento de juros em setembro serão renovadas", avalia Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Apesar das sinalizações positivas, a recente subida do petróleo, cujo barril vem sendo negociado acima de US$ 90, pesou na direção contrária e aumentou receios de pressões sobre a inflação que poderiam obrigar o Fed a manter o aperto nos juros.

Assim, o clima permaneceu negativo nos negócios americanos. As apostas de que o aperto monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pode ser mantido por mais tempo não foram descartadas e impulsionaram os rendimentos dos títulos americanos, dando força ao dólar.

O movimento também derrubou os índices acionários americanos, que registraram forte queda. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq recuaram 0,70%, 0,57% e 1,06%, respectivamente.

No Brasil, a FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou que o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) registrou leve variação positiva em agosto, subindo 0,05%, abaixo da expectativa do mercado. Com esse resultado, o índice reduziu a baixa acumulada em 12 meses para 6,91%, contra perda de 7,47% registrada em julho.

Mesmo vindo melhor que as projeções do mercado, o IGP-DI teve impacto nas curvas de juros futuros, como aponta Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.

"A divulgação do IGP-DI é o principal impacto na curva de juros hoje, que cai nos vencimentos futuros curtos e sobe nos vencimentos longos. Isso porque, apesar de uma divulgação abaixo da expectativa, este foi o primeiro mês de índice no campo positivo após cinco meses de quedas consecutivas", afirma Castro.

Nesta quarta, os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2025 caíram de 10,64% para 10,61%, enquanto os para 2027 permaneceram estáveis em 10,52%. As curvas mais longas, porém, tiveram alta: os para 2029 subiram de 10,98% para 11,02%, e os para 2031 foram de 11,24% para 11,30%.

Nesse cenário, o Ibovespa registrou queda pressionado principalmente pelas ações da Vale, que recuaram 1,73%.

A maior queda do dia, porém, foi da Vamos, empresa de locação de caminhões que fez sua estreia no Ibovespa nesta semana. As ações da companhia caíram 7,10% após um corte de recomendação de compra pelo JPMorgan.

Quedas de IRB Brasil (4,49%), CVC (4,93%), Arezzo (4,34%) e Carrefour (3,57%) completaram a lista de maiores tombos do pregão.

"O principal fator de queda para hoje é a contaminação com o cenário negativo no exterior, principalmente pela incerteza com relação a decisão de taxa de juros nos EUA. Além disso, a baixa liquidez e o feriado de amanhã reduzem o ímpeto ao risco pelos investidores", diz Castro.

De acordo com o analista da Terra Investimentos Luis Novaes, a ausência de pregão na quinta-feira, quando a Bolsa estará fechada pelo feriado de 7 de Setembro, corroborou o viés mais vendedor determinado pela perspectiva negativa no exterior.

Atenuou a queda do Ibovespa, por sua vez, a Petrobras, que teve alta de 0,48% em suas ações preferenciais e 0,44% nas ordinárias impulsionada justamente pela subida do petróleo no exterior. Além disso, a petroquímica Braskem subiu 5,56% e registrou o maior ganho do dia.