Crise dos ovos brasileiros derruba ministro da Agricultura de Taiwan

Por NELSON DE SÁ

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Uma semana depois da retirada de ovos brasileiros das prateleiras dos supermercados em Taiwan, o ministro da Agricultura, Chen Chi-chung, pediu demissão.

"Acredito que devo renunciar porque minha eficácia foi comprometida", afirmou ele em entrevista pela televisão, pouco antes de se curvar diante das câmeras.

"Os meus colegas do Ministério da Agricultura estarão mais capacitados para fazer o seu trabalho", acrescentou. Citou como motivo o tumulto em torno do programa de importação de ovos, mas não reconheceu erro, dizendo que foi criado por seus críticos.

O governo da ilha iniciou o programa em março, levando à compra de 145 milhões de ovos até julho, de nove países, sendo 80 milhões do Brasil. Mas uma série de percalços tornou a questão, durante meses, um dos focos da campanha para as eleições presidenciais de 13 de janeiro próximo.

A falta de ovos preocupava os consumidores, que sentem a pressão inflacionária, desde a virada do ano. Os taiwaneses consomem 24 milhões de unidades por dia, mas a produção interna diária é de 23 milhões e não cobre a demanda.

Os questionamentos à importação começaram com a revelação de que um lote havia sido identificado com um antibiótico veterinário, Florfenicol, de uso restrito em Taiwan, embora aceito em diversos países. O lote foi barrado na alfândega, segundo a agência de vigilância, mas a partir daí a crítica não parou.

Voltou-se em parte à gripe aviária reconhecida pelo Brasil no final de maio, período em que foram importados os ovos do país. "Que coincidência", ironizou então a deputada Wang Hunj-Huei, do maior partido de oposição, o KMT. "O governo só rotulou o Brasil [como zona com a doença] em junho."

A empresa importadora e distribuidora, Tai Nong Egg, respondeu que os ovos já haviam deixado o Brasil quando o surto começou, sem risco de contaminação.

Mas as compras externas não acabaram inteiramente com a falta de ovos e a pressão sobre os preços. No último dia 3, a comissão de tabelamento anunciou um aumento.

No mesmo dia, o KMT pediu investigação da Tai Nong Egg, criada há um ano e que concentra as importações de ovos, supostamente com subsídio governamental, falando em "empresa de fachada".

Na sequência, a crise se agravou com a revelação de erros da data de vencimento acrescentada a um dos lotes de ovos brasileiros, com apenas 20 mil unidades, mas levando à retirada das prateleiras, manchete de jornais e televisão na semana passada. Ainda estavam no prazo, mas com data errada.

Parlamentares oposicionistas afirmaram que continuariam a "perseguir o problema do ovo brasileiro".

Pouco depois, o ministério acabou reconhecendo ter destruído 54 milhões dos 145 milhões de ovos importados, estimulando críticas agora pelo suposto desperdício de recursos públicos, calculado em 200 milhões de dólares taiwaneses (R$ 30,3 milhões). Cercado, o ministro renunciou.