Japão mantém juro negativo, e moeda se desvaloriza mais
TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - O banco central do Japão manteve a taxa básica de juros em -0,1% nesta sexta (22), derrubando ainda mais a cotação do iene, que chegou a 148,32 em relação ao dólar no início da noite, na Ásia. Pela manhã, antes da decisão, estava em 147,50.
Kazuo Ueda, presidente do Banco do Japão, nome da instituição, deu coletiva no final da tarde e procurou refutar os rumores de que apertaria os juros para resgatar a moeda japonesa. Houve também sinais de pressão política, com o ministro do Comércio dizendo na terça que a atual política do BC eventualmente chegaria ao fim.
Os rumores haviam começado após outra entrevista do próprio Ueda, duas semanas atrás ao jornal Yomiuri Shimbun, quando ele falou que "não é zero" a chance de ter dados de inflação estabilizada até o fim do ano. Entendeu-se como indício de mudança na política monetária.
Na coletiva desta sexta, ele disse ter usado a expressão "não é zero" apenas para indicar que as reuniões do BC não têm efeito predeterminado. Acrescentou que a economia segue apresentando "grau elevado de incerteza", citando especificamente a falta de perspectiva de estabilidade nos preços.
Com isso, sublinhou, fica "impossível presumir um cronograma para uma mudança de política". No mercado, passou-se a trabalhar com a projeção de que os juros japoneses só deixam o campo negativo no ano que vem.
A decisão da equipe de Ueda, no cargo há seis meses, contrasta com a do Fed, o banco central americano, que também manteve a sua taxa básica em reunião na quarta, mas em faixa extremamente elevada, a maior em 22 anos, entre 5,25% e 5,5%.
O aperto monetário americano começou há um ano e meio, para conter a inflação persistente, e não há mais perspectiva de quando será abandonado. A sinalização das autoridades do Fed foi de um novo aumento nos juros até o final deste ano.
No mercado financeiro japonês, a expectativa de quatro cortes ao longo do ano que vem, na taxa americana, teria caído para duas, segundo o financeiro Nikkei.
A desvalorização para 148,32 ienes por dólar neste final de sexta foi considerada contida, com agentes trabalhando com 150 como número de referência para uma intervenção. A expectativa agora é de que ela aconteça diretamente no câmbio, com o uso de dólares para comprar ienes, como aconteceu no ano passado, quando a cotação chegou a 152.
No início desta semana, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmou em conversa com jornalistas, paralelamente à Assembleia Geral da ONU, que seu governo compreenderia se o governo japonês decidisse intervir no mercado cambial, desde que fosse apenas para "suavizar a volatilidade".
De sua parte, o vice-ministro das finanças do Japão, Masato Kanda, declarou em seguida estar em "comunicação extremamente próxima, diária, com autoridades dos EUA", e que os dois lados concordam sobre a necessidade de evitar "volatilidade excessiva".
A atenção às ações do Japão vêm sendo maior, diante da redução de sua participação nos títulos da dívida dos EUA. Embora continue sendo o maior credor externo, o país está agora na menor proporção histórica, o que é creditado à disparada na emissão de títulos do Tesouro americano.