Dólar sobe a R$ 4,96 com cenário negativo na China; Bolsa cai e perde os 116 mil pontos

Por MARCELO AZEVEDO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira registrou leve queda e fechou abaixo dos 116 mil pontos enquanto o dólar subiu nesta segunda-feira (25) após notícias negativas sobre a economia chinesa, que reacenderam temores sobre a desaceleração do país.

Como pano de fundo, a agência de classificação de risco S&P reduziu sua previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) chinês para 2023 e 2024, considerando a fraqueza do setor imobiliário do país. Além disso, a incorporadora Evergrande, uma das maiores da China, disse estar impossibilitada de emitir novos títulos de dívida.

"Ativos de risco estão iniciando a semana em tom predominantemente negativo, com a intensificação da preocupação com a economia chinesa se juntando a piora de sentimento que acompanhou mais uma rodada de decisões de política monetária na última semana", afirma a equipe da Guide Investimentos.

Com isso, o Ibovespa caiu 0,07%, ficando praticamente estável aos 115.924 pontos, enquanto o dólar teve alta de 0,68%, terminando o dia cotado a R$ 4,965.

Nesta segunda, a S&P reduziu sua previsão para o crescimento econômico da China em 2023 de 5,2% para 4,8%. Para 2024, a projeção foi de 4,8% para 4,4%.

Como justificativa, a agência afirmou que a flexibilização monetária e fiscal do país permaneceu limitada e que novos grandes estímulos econômicos do governo não devem ocorrer.

A projeção da S&P soma-se a notícias recentes sobre o mercado imobiliário chinês, um dos principais pilares de crescimento do país. A Evergrande, uma das maiores empresas do setor, abandonou no fim de semana um plano de reestruturação e anunciou nesta segunda que está impossibilitada de emitir novos títulos de dívida.

Com isso, as preocupações sobre a economia chinesa, que haviam esfriado nas últimas semanas, voltaram a impactar os ativos de risco globalmente. As ações da China, de Hong Kong e da Europa fecharam em queda.

Agora, o mercado busca pistas sobre uma possível recuperação da China, e um teste fundamental será o feriado nacional de uma semana marcado para começar na sexta, que deve mobilizar gastos de consumidores no país.

No câmbio, o dólar também é influenciado pela expectativa do mercado sobre novos dados de inflação nos Estados Unidos, que devem ser divulgados do fim da semana. Na última quarta, o Fed surpreendeu ao sinalizar que uma nova alta de juros neste ano pode ocorrer, o que fez o dólar ganhar força no mundo todo.

Juros maiores nos EUA fortalecem a moeda americana pois aumentam a rentabilidade dos títulos do Tesouro do país, atraindo recursos e, consequentemente, penalizando ativos de risco e papéis de países emergentes. Se os dados de inflação reforçarem a tese de que uma nova alta nas taxas do Fed são necessárias, a tendência é que o dólar continue em trajetória de alta.

"Os mercados parecem acreditar nesse cenário e, até vermos novas evidências de desaceleração da economia americana, os argumentos de baixa para o dólar são limitados" disse Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.

Nesta segunda, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, teve alta de 0,33%. A divisa

Apesar dos temores do mercado sobre uma nova alta de juros, os principais índices acionários fecharam em alta, com investidores ainda aguardado mais informações e pronunciamentos de autoridades do Fed sobre o futuro da política monetária americana.

No Brasil, o boletim Focus desta semana mostrou que as projeções para o PIB brasileiro neste ano aumentaram. Agora, os economistas consultados pelo BC esperam um crescimento econômico de 2,92% em 2023, ante 2,89% na semana anterior, na quinta elevação consecutiva de previsão para o indicador.

A revisão ocorre após o Copom (Comitê de Política Monetária) ter decidido reduzir em 0,50 ponto percentual a Selic (taxa básica de juros) na semana passada.

Nos mercados futuros, as curvas de juros tiveram alta firme, em especial as mais longas, acompanhando os títulos do Tesouro americano ainda sob impacto das sinalizações do Fed. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíram de 10,53% para 10,57%, enquanto os para 2027 foram de 10,51% para 10,60%.

Nesse cenário, o Ibovespa operou em baixa durante toda a sessão puxado por forte queda de 2,05% da Vale. A mineradora é a maior empresa da Bolsa brasileira e é mais ligadas às movimentações da economia chinesa, um grande importador de minério de ferro.

Os setores mais sensíveis aos juros brasileiros foram os que mais caíam.

No varejo, o Grupo Casas Bahia caiu 13,24% e liderou as baixas da sessão, enquanto a Magazine Luiza recuou 4,01%. O índice que reúne as empresas do setor teve baixa de 0,31%.

"Faltam compradores convictos para as duas empresas. São companhias que estão com dificuldade de entregar resultados e apresentaram prejuízo nos últimos trimestres. A falta de confiança derruba as ações, que estão em tendência de baixa há alguns meses", diz Leandro Petrokas, diretor de pesquisa e sócio da Quantzed.

As aéreas também seguiam o ritmo de baixa impactadas pela alta do dólar e pela recente subida do petróleo no exterior. A Gol caiu 3,57%, também pressionada por um relatório do Citi que reiterou "alto risco" para suas ações, e a Azul recuou 2,84%.

A MRV, do setor de construção, registrou queda de 4,12%, completando a lista de maiores tombos da sessão.

Na ponta positiva, a Petrobras teve alta de 0,64% e atenuou as perdas do Ibovespa, apoiada justamente pela alta do petróleo. A Weg, que ficou entre as mais negociadas da sessão, também deu fôlego ao índice com alta de 4,45% após ter anunciado que fechou um acordo para comprar ativos da americana Regal Rexnord.