Campos Neto diz que BC apoia que governo insista em meta fiscal

Por JÚLIA MOURA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de vista como "irreal" pelo mercado financeiro, o Banco Central apoia que o governo mantenha seu objetivo de cumprir a meta fiscal estabelecida no novo arcabouço, diz Roberto Campos Neto.

"Temos apoiado bastante o governo no sentido de persistir na meta fiscal, é muito importante persistir", disse o presidente do BC em evento da Abracam (Associação Brasileira de Câmbio) nesta segunda-feira (2).

Ele destacou que é importante o país "ter um arcabouço fiscal, no qual o mercado acredite que vai gerar uma situação fiscal mais equilibrada à frente."

A declaração vem após o encontro com o presidente Lula na semana passada. Na ocasião, Campos Neto disse que busca construir uma relação de confiança com governo.

A meta do governo Lula é zerar o déficit primário em 2024, o que demanda um aumento de 2,2% do PIB (Produto Interno Bruto) projetado na arrecadação, segundo cálculos do BC.

"Precisamos observar esses projetos que estão no Congresso. Eles precisam passar porque vão trazer uma arrecadação adicional. No final das contas, o que estamos olhando, no médio e no longo prazo, é a estabilidade na base da trajetória de dívida, e isso é muito importante persistir", disse Campos Neto.

O presidente do BC ainda disse reconhecer que "é difícil cortar gasto de forma estrutural no Brasil [...] é importante entendermos essa dificuldade".

RISCOS EXTERNOS

Com relação aos riscos internacionais à economia, Campos Neto destacou a crise fiscal dos Estados Unidos e a crise imobiliária da China.

"É muito difícil a gente entender o que está acontecendo na China no detalhe. O que a gente percebe, em relação à linha de tendência da pandemia, é um dos países que não conseguiu se recuperar em quase nenhum setor", disse o economista.

Em 2021, a segunda maior economia do mundo mergulhou em uma crise após a incorporadora Evergrande deixar de arcar com suas obrigações. Até então, o setor imobiliário era o motor do crescimento chinês.

Campos Neto destacou ainda que o impacto da crise sobre o consumo chinês pode ser ainda maior, visto que 70% das riquezas das famílias do país estão investidas no setor.