BYD dá pontapé para fábrica de carros elétricos e promete 'Vale do Silício' na Bahia

Por JOÃO PEDRO PITOMBO

CAMAÇARI, BA (FOLHAPRESS) - A montadora chinesa BYD (Build Your Dreams) lançou nesta segunda-feira (9) a pedra fundamental do complexo industrial para a produção de veículos elétricos em Camaçari (50 km de Salvador). O investimento é R$ 3 bilhões com meta de iniciar a produção no quarto trimestre de 2024.

A BYD assume o parque industrial que era da Ford, montadora norte-americana que atuou na Bahia entre 2001 e 2021. As benfeitorias do complexo foram compradas pelo governo baiano em acordo estimado em R$ 200 milhões, informou o secretário estadual da Casa Civil, Afonso Florence.

Fundador e CEO da BYD, Wang Chuanf afirmou que a montadora pretende instalar na Bahia um centro de pesquisa e desenvolvimento para trabalhar em novas soluções para a transição energética: "Escolhemos Camaçari porque queremos fazer desse lugar um Vale do Silício."

Ele afirmou que o complexo industrial terá papel fundamental na transição energética e o classificou como um marco histórico para a indústria automobilística da América Latina.

"Vamos instalar centro de pesquisa nessa cidade, desenvolver novas soluções para a transição verde. O Brasil se tornará uma referência mundial no setor", disse.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, destacou o papel do Brasil na transição energética e disse que esta é uma das prioridades do governo Lula (PT).

O complexo industrial será composto por três fábricas. Uma será dedicada à produção de carros elétricos e híbridos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades.

A segunda fábrica vai produzir chassis para ônibus e caminhões elétricos. A terceira indústria será voltada ao processamento de lítio e ferro fosfato e atenderá ao mercado externo, utilizando-se da estrutura portuária da Bahia.

Uma das metas no curto prazo, informou a montadora, é desenvolver um veículo híbrido movido a etanol, classificado como "uma solução verde brasileira" pela CEO da BYD para as Américas, Stela Li.

As negociações entre o governo baiano e a BYD incluíram incentivos fiscais e benfeitorias nas vias de acesso à fábrica. O pacote de benefícios fiscais, semelhante ao que era concedido à Ford, prevê uma redução de 95% do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços).

A Bahia ainda concederá isenção de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para os proprietários de carros elétricos com valor até R$ 300 mil produzidos na Bahia. Para veículos acima desse valor, será fixado o percentual de R$ 2,5% para o IPVA, igual ao aplicado aos demais automóveis.

A montadora chinesa também pleiteia incentivos fiscais federais que dependem do texto da Reforma Tributária que ainda será analisado pelo Senado.

Um dos destaques feitos ao texto principal da Reforma Tributária na Câmara retirou da reforma o item que prorrogava, até 2032, a redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para montadoras de automóveis instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), destacou a geração de cerca de 5.000 postos de trabalho com o novo empreendimento e destacou que novos empregos devem ser gerados com a cadeia de empresas sistemistas e novas concessionárias de veículos.

O acordo entre o governo da Bahia e a Ford foi anunciado na última quarta-feira (4), permitindo uso imediato de seu complexo fabril paralisado em Camaçari pelo governo da Bahia, que em paralelo tem tratado da instalação de uma fábrica de carros elétricos da chinesa BYD no local.

Ford, BYD e governo da Bahia travaram discussões paralelas desde, pelo menos, o ano passado sobre a fábrica fechada pela montadora norte-americana em Camaçari em 2021.

A possibilidade de a empresa chinesa se instalar na Bahia já vinha sendo especulada desde o início de 2021, quando a montadora americana encerrou as atividades no estado. No ano passado, o governo da Bahia confirmou a assinatura de um protocolo de intenções com a montadora.

O compacto elétrico Dolphin deverá ser o primeiro automóvel nacional da marca chinesa. O modelo chega ao mercado brasileiro importado da China e custa a partir de R$ 149,8 mil ?o que o coloca entre os mais em conta do segmento no país.

A autonomia pode chegar perto de 400 quilômetros, mas as novas regras estabelecidas pelo Inmetro exigem uma redução de aproximadamente 30% nesse cálculo. Dessa forma, a marca chinesa afirma que o carro é capaz de rodar 291 km com uma carga completa de suas baterias.