Impactos econômicos da guerra, vencedora do Nobel de Economia e o que importa no mercado

Por ARTUR BÚRIGO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Impactos econômicos da guerra, vencedora do Nobel de Economia e o que importa no mercado.

*PRIMEIROS EFEITOS DA GUERRA HAMAS-ISRAEL CHEGAM AO MERCADO*

Os primeiros efeitos econômicos do conflito entre Hamas e Israel começaram a aparecer nesta segunda-feira.

O principal deles foi no petróleo, cujo preço do barril do tipo Brent, referência para a Petrobras, subiu 4,2%, para US$ 88,15.

Como o Brasil é um importante exportador da commodity, a Bolsa fechou em alta de 0,86%, aos 115.156 pontos, enquanto o dólar caiu 0,58%, a R$ 5,131.

Sim, mas... Os impactos da guerra na economia global devem ser limitados, analisam os especialistas. O cenário muda, porém, se o Irã, importante produtor de petróleo, entrar no conflito.

E aqui? Nesta segunda, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que a política comercial da estatal tem condições de suportar cenários de grande volatilidade.

Ele não descartou, porém, aumentos nos preços internos caso as cotações do petróleo permaneçam muito tempo em elevados patamares.

Uma alta nos preços dos combustíveis traria também uma pressão inflacionária, justamente num momento em que os EUA avaliam manter os juros mais altos por mais tempo.

O combo acabaria respingando nas decisões do Banco Central no Brasil, que vive um ciclo de queda da Selic graças à queda nos índices de preços.

*A VENCEDORA DO NOBEL DE ECONOMIA 2023*

O prêmio Nobel de Economia de 2023 foi dado à americana Claudia Goldin, 77, por suas pesquisas sobre mulheres no mercado de trabalho.

A vencedora: nascida em 1946, é doutora pela Universidade de Chicago e professora na Universidade Harvard, onde se tornou a primeira mulher a ser titular do departamento de Economia.

A pesquisa: Goldin fez o primeiro levantamento abrangente, com mais de 200 anos de dados dos EUA, sobre os ganhos das mulheres e a participação no mercado de trabalho ao longo dos séculos.

Entre seus trabalhos, destaca-se o que mostrou a importância dos contraceptivos na decisão das mulheres em relação à entrada no ensino superior e na escolha da idade do primeiro casamento, analisa Lorena Hakak, professora da FGV.

A economista também mostra que, apesar de as mulheres americanas terem, em média, mais anos de escolaridade do que os homens, elas ainda têm uma menor participação no mercado de trabalho e ganham menos.

A solução é apontada em um artigo de 2014: seria preciso que as empresas deixassem de incentivar tanto os indivíduos que trabalham por muitas horas e em horários específicos, ou seja, que a diferença salarial entre longas jornadas e trabalhos mais flexíveis fosse menor.

"Nunca teremos igualdade de gênero até que também tenhamos igualdade entre casais", disse a vencedora do Nobel de Economia ao New York Times, após o anúncio do prêmio.

Nobel que não é Nobel: apesar de possuir a mesma importância e prestígio que as outras áreas, o prêmio de ciências econômicas é o único que não fez parte do testamento de Alfred Nobel (1833-1896).

Goldin é a terceira mulher a obter o Nobel de Economia. Antes dela, Elinor Ostrom (2009) e Esther Duflo (2019) foram premiadas.

*STARTUP QUER LEVAR EXAME DE SANGUE PARA (QUASE) TODOS OS LUGARES*

A startup curitibana Hilab quer levar seus exames de sangue rápido para consultórios, hospitais, farmácias e até empresas.

Para isso, ela aposta em três equipamentos desenvolvidos e fabricados pela própria empresa.

Os dispositivos usam uma IA também desenvolvida em casa para fazer o diagnóstico e gerar o resultado, que passa por uma análise de um profissional de saúde antes de chegar no email do usuário.

A Hilab usa três equipamentos para fazer exames diferentes:

? Um está em clínicas e hospitais e entrega um hemograma completo em até 30 minutos.

Eu topei ter meu dedo furado para esse teste, mas tive que refazê-lo porque a mesa onde estava o dispositivo foi levemente movida enquanto a análise era feita, o que acabou invalidando a amostra.

? Outro está nas farmácias e é mais procurado para identificar gravidez e medir colesterol e diabetes;

? O terceiro, recém-lançado, usa reações eletroquímicas para gerar resultados em até cinco minutos. Com mais tipos de exames, é direcionado a hospitais, onde diagnósticos rápidos podem agilizar a triagem.

A empresa: fundada por dois egressos da Engenharia da Computação, a startup já levantou quatro rodadas de investimentos, em que participaram fundos como Monashees, Península (Abilio Diniz) e eB Capital (Pedro Parente), além de um investimento inicial da Positivo.

Ela começou a crescer no setor point-of-care (testagem conduzida próximo ao local de cuidado ao paciente) alguns anos depois que a maior empresa da indústria se comprovou uma fraude.

Estamos falando da Theranos, de Elizabeth Holmes. Com uma gota de sangue, a empreendedora tida como a "próxima Steve Jobs" prometia mais de 200 exames diferentes e complexos com apenas um equipamento ?esta foi a raiz dos problemas da startup americana, me explicou Marcus Figueredo, CEO da Hilab.

Sem conseguir desenvolver um equipamento que cumprisse o que prometia, Holmes passou a usar, de forma escondida, dispositivos de outras empresas para entregar as centenas de testes.

A fraude foi descoberta em 2014 por uma reportagem do Wall Street Journal, e hoje Holmes cumpre sua pena de 11 anos em uma prisão estadual do Texas.

*Viajei a Curitiba para conhecer a sede da Hilab a convite da startup.

*BYD QUER 'VALE DO SILÍCIO' BAIANO*

A montadora chinesa BYD deu o pontapé para a produção de veículos elétricos em Camaçari (50 km de Salvador).

Ela irá investir R$ 3 bilhões no complexo industrial que pertencia à Ford e foi comprado pelo governo baiano por R$ 220 milhões.

A unidade será repassada à BYD por meio de uma concessão, e a produção é esperada para começar no fim de 2024.

"Vale do Silício baiano": é dessa forma que o fundador e CEO da BYD, Wang Chuanf, se referiu aos planos da montadora em Camaçari, onde ela também pretende montar um centro de pesquisa e desenvolvimento para a transição energética.

Uma das metas no curto prazo, informou a montadora, é desenvolver um veículo híbrido movido a etanol. A possibilidade também já foi citada por outras montadoras, dada a competitividade brasileira no biocombustível.

Subsídios: o pacote do governo será parecido ao que era concedido à Ford e prevê uma redução de 95% do ICMS. A Bahia ainda concederá isenção de IPVA para os proprietários de carros elétricos com valor até R$ 300 mil produzidos no estado.

O complexo industrial será composto por três fábricas:

Uma irá produzir carros elétricos e híbridos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades;

Outra irá fabricar chassis para ônibus e caminhões elétricos;

A terceira será voltada ao processamento de lítio e ferro fosfato e atenderá ao mercado externo, aproveitando a estrutura portuária da Bahia.