Treasuries despencam e dão alívio ao mercado, mas guerra segue no radar

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os chamados "treasuries", despencaram e deram alívio ao mercado nesta manhã, após autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) terem sinalizado que o aperto de juros no país pode ter chegado ao fim.

Depois de terem atingido seus níveis mais altos em 16 anos, os rendimentos dos títulos de dez anos americanos caíram 0,15 ponto percentual, para 4,65%, com a retomada das negociações após um feriado na segunda (9). Os rendimentos de dois anos também recuaram, caindo 0,12 ponto.

A queda dos treasuries tende a beneficiar ativos de risco em todo mundo pois reduzem os retornos da renda fixa americana, diminuindo sua atratividade e, consequentemente, fazendo investidores alocarem seus recursos em outros mercados, como a renda variável e países emergentes.

Apesar disso, a apreensão em relação ao conflito entre Israel e Hamas pesa sobre os negócios. Em momentos de incerteza econômica, investidores costumam alocar seus recursos em papéis mais seguros, como forma de proteção. Esse é o caso dos treasuries, que são considerados o investimento mais seguro do mundo.

Assim, o impacto positivo da queda dos títulos nesta manhã é limitado.

Já no Brasil, a Bolsa registrava forte alta mesmo em dia de declínio das commodities no exterior, que costumam penalizar suas maiores empresas: a Vale e a Petrobras. Segundo dados preliminares, o Ibovespa caminhava para terminar a sessão com avanço de 1,41%, aos 116.787 pontos.

O dólar, por sua vez, caiu 1,46% ante o real e fechou cotado a R$ 5,055, acompanhando o movimento global de depreciação da divisa justamente por conta da queda dos treasuries. A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,05 na mínima do dia, após ter atingido seus maiores valores desde março na semana passada.

Na segunda, os mercados globais começaram o dia em queda, com a aversão ao risco ditando o tom dos negócios após a eclosão do conflito no Oriente Médio.

Os discursos de autoridades de alto escalão do banco central dos EUA, no entanto, se sobrepuseram aos temores, e os ativos garantiram um dia positivo ao longo do dia.

O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, também aumentaram o otimismo no mercado. O diretor afirmou que a autoridade monetária deve "proceder com cautela" em suas próximas decisões de juros, destacando a disparada recente nos treasuries americanos.

Ele afirmou, ainda, que as autoridades precisam equilibrar riscos de não apertar o suficiente e de ser restritiva demais.

Seus comentários alinharam-se com os da presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, que também na segunda observou que condições financeiras mais restritivas atuais poderiam fazer com que o banco central americano promova um aperto monetário menor.

As falas deram alívio a investidores, que temem uma nova alta nas taxas americanas neste ano. Agora, analistas veem a probabilidade de as taxas de juro permanecerem inalteradas em novembro e dezembro em cerca de 86% e 72%, respectivamente, de acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group.

Apesar do alívio pontual Leonel Mattos, analista de inteligência de mercados da StoneX, afirma que o conflito no Oriente Médio segue sendo um risco grande para a estabilidade global.

"Não se sabe ainda quais serão as repercussões totais desse conflito, mas a gente pode adiantar que o contexto geopolítico do Oriente Médio é muito importante tanto para o sistema global, quanto também para a produção de petróleo. Todo esse contexto de incerteza e desigualdade numa região geopoliticamente importante, traz uma maior aversão aos mercados."

No cenário local, as negociações são apoiadas por um forte aumento na projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) para o crescimento da economia brasileira neste ano. O Fundo passou de 2,1% para 3,1% sua estimativa de alta para o PIB (Produto Interno Bruto do Brasil).

Na Bolsa brasileira, as principais altas eram de Vale e Petrobras, as mais negociadas do pregão.