Bancos chineses anunciam primeiro empréstimo comercial em yuan no Brasil

Por NELSON DE SÁ

TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - O Bocom (Banco de Comunicações da China), que atua no país através do BBM, e o ICBC (Banco Industrial e Comercial da China) realizaram o primeiro empréstimo transfronteiriço em moeda chinesa no Brasil.

A Usina Hidrelétrica de São Simão, também ligada a um grupo chinês, SPIC Brasi, recebeu 1,3 bilhão de yuans (R$ 886 milhões) das duas instituições, sendo 1 bilhão de yuans do Bocom e 300 milhões de yuans do ICBC.

A usina, adquirida pela SPIC há seis anos, fica na divisa de Minas Gerais e Goiás. O grupo tem também parques eólicos na Paraíba, no Ceará e no Piauí e detém 33% da GNA (Gás Natural Açu), no Porto do Açu, no Rio.

A estimativa é que o empréstimo direto em yuan ou renminbi (RMB), outro nome da moeda, resulte numa economia de mais de 60 milhões de yuans nos custos de financiamento da empresa. O vencimento é em três anos.

Há três semanas, também pela primeira vez, segundo o Banco da China, foi realizada uma operação de comércio bilateral em circuito fechado, com transações financiadas e liquidadas em yuan e convertidas para real.

Foi uma venda de celulose da Eldorado Brasil, empresa paulista com representação em Xangai. O produto partiu em agosto, as transações financeiras ocorreram em setembro, até a finalização em moeda brasileira no dia 28.

Os presidentes do Brasil e da China chegaram a um acordo em abril, em Pequim, para desenvolver o comércio nas moedas locais, culminando medidas tomadas desde o início deste ano, inclusive pelos bancos centrais.

Lula havia visitado dias antes o Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics, em Xangai, quando defendeu buscar alternativas para as trocas feitas hoje em dólar, em declaração com repercussão internacional.

David Cohen, tesoureiro do BBM, afirma que o segundo semestre vem apresentando um crescimento acentuado no volume de operações em real e yuan realizadas pela instituição. "E não é só a gente", acrescentou.

No caso, o banco saltou de US$ 50 milhões em todo o primeiro semestre para US$ 760 milhões no terceiro trimestre. O BBM foi o primeiro participante local do CIPS, o sistema de liquidação em moeda chinesa, em março.

"Isso foi um diferencial grande, facilitou muito", diz. Por exemplo, "o CIPS é um sistema que funciona 24 horas, então você consegue liquidar em qualquer horário. Sempre foi uma dificuldade essa questão do fuso".

Nas operações até então, "os participantes são mais importadores brasileiros", já que os exportadores chineses "preferem receber em RMB, dado que seus passivos são em RMB". Os empréstimos são um novo passo.

"A China hoje é um lugar em que os juros estão muito baixos, se comparados aos dos países desenvolvidos", descreve ele. "É interessante para a empresa, em vez de emitir dívida nos Estados Unidos, captar na China."

Enquanto nos EUA "a gente está falando de uma taxa de 5,5%, na China está em 2%".