Eletrobras corta mais de 20% dos empregados em um ano com PDVs

Por NICOLA PAMPLONA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - No primeiro ano após a sua privatização, a Eletrobras cortou em 21% seu quadro de funcionários, por meio de programas de demissão voluntária (PDVs). Ao todo, foram 2.348 desligamentos desde o terceiro trimestre de 2022, o primeiro totalmente sob gestão privada.

No quarto trimestre, é esperada a saída de mais 614 pessoas e a empresa anunciou que reabrirá o segundo plano de demissão voluntária, com mais 101 vagas. Neste primeiro ano de gestão privada, o número de empregados caiu de 10.476 para 8.209.

Os planos de demissão foram foco de atrito entre o governo e a gestão da empresa. O MME (Ministério de Minas e Energia) chegou a enviar duas cartas à presidência da Eletrobras solicitando a suspensão das demissões.

Em uma delas, o ministro Alexandre Silveira questionou a companhia sobre eventuais impactos da redução do quadro de pessoal no apagão que atingiu o país em agosto, que foi iniciado com a queda de uma linha de transmissão da Chesf.

"Sendo a União a maior acionista da empresa e o MME responsável por zelar pelo equilíbrio entre a oferta e demanda de energia elétrica no país é legítimo, racional e importante que esta Pasta tenha acesso à tais informações", escreveu Silveira.

Em teleconferência nesta quinta-feira (8) para detalhar o lucro de R$ 1,48 bilhão no terceiro trimestre, o presidente da companhia, Ivan Monteiro, disse que os programas de demissões têm um foco "muito claro de jamais colocar em risco a segurança das operações".

Segundo ele, a Eletrobras ainda mantém a redução de custos com pessoal, materiais e serviços entre suas prioridades. No terceiro trimestre de 2023, os custos com pessoal totalizaram R$ 972 milhões, queda de R$ 168 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior.

Foi um dos fatores a contribuir para o lucro do período, que reverte prejuízo de R$ 100 mil registrado no terceiro trimestre de 2022. Colaboraram também o aumento das receitas com transmissão de energia e a reversão de contingências para pagamento dos chamados empréstimos compulsórios.

Esses empréstimos foram cobrados de indústrias durante os anos 1970 para financiar investimentos no setor elétrico brasileiro. Após a privatização da companhia, em 2022, a solução desse problema se tornou uma das prioridades da nova gestão.

Nos últimos 12 meses, renegociações com grandes credores permitiram a redução do estoque de empréstimos a pagar em 26,1%, para R$ 19 bilhões. A expectativa é zerar o estoque em até dois anos.

Assim como seu antecessor, Wilson Ferreira Jr, Monteiro defende que a privatização da companhia foi fundamental para garantir a agilidade nas negociações. A troca no comando ocorreu em meio a desgastes com o governo sobre a falta de participação da União na gestão da empresa.

Em maio, a AGU (Advocacia-Geral da União) ingressou no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma ADI (ação direta de inconstitucionalidade) pedindo que o governo tenha voto proporcional à sua participação acionária.

O bloco que reúne União, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e seu braço de participações BNDESPar tem cerca de 35% das ações ordinárias, mas atua como um minoritário após a capitalização.

Nesta quinta, Monteiro disse que os investimentos da empresa começam a se acelerar, com a participação no último leilão de linhas de transmissão do país e presença já confirmada na próxima concorrência.

A empresa tem também comprado fatias em usinas em que tinha participação, como as hidrelétricas de Santo Antônio, no rio Madeira, e de Baguari, no rio Doce. "Mas não esperem da Eletrobras grandes aquisições. Isso não é a prioridade", concluiu.