Nem sempre uma política fiscal com mais gastos gera mais crescimento, diz diretor do BC

Por JÚLIA MOURA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, defende a manutenção da meta fiscal de déficit zero em 2024 e pondera que um aumento de gastos do governo federal não necessariamente geraria uma melhora na atividade econômica.

"Nem sempre uma política fiscal mais expansionista gera mais crescimento. Acho que esse talvez seja um ponto que seja menos discutido. Mas políticas fiscais expansionistas, dependendo de como vai ser a reação, por exemplo, sobre condições financeiras, podem levar a uma redução de atividade", disse Guillen nesta quinta-feira (9) em evento do Itaú BBA.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defende equalizar as contas públicas no próximo ano, mas a ala política do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer um déficit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para evitar bloqueios orçamentários. A mudança na meta estabelecida pelo PLDO (projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias) passou a ser debatida nas últimas semanas após o presidente Lula afirmar que "dificilmente" o país iria atingir o objetivo de zerar o déficit no próximo ano.

Para Guillen, do BC, a manutenção da meta fiscal é tão importante quanto a da meta de inflação. "A condução da política tem que ter credibilidade e a meta tem que ter credibilidade. Todo mundo tem que concordar com o alvo. Ter credibilidade sobre o alvo e saber o que você está fazendo para atingir o alvo."

O economista diz ainda que o BC estuda quais seriam os impactos da incerteza fiscal na economia. Segundo ele, a mudança na meta pode gerar mais inflação, seja por meio da alta no dólar ou pelo aumento de gastos federais.

"A gente não gosta de incerteza. A meta de inflação foi um tema difícil, mas eu acho que terminou bem. A manutenção e a introdução de meta contínua tiram incerteza para os próximos anos", afirmou.

Ainda segundo Guillen, o compromisso com a saúde fiscal reduz o prêmio de risco nas taxas de juros de longo prazo, o que diminui o peso na dívida brasileira. "Olhando para a experiência brasileira, tem que ter o compromisso fiscal. Isso ajuda para o prêmio de risco, contribui para a política monetária e para a ancoragem de expectativas."