Bolsa cai em dia de ajustes após quatro altas seguidas; dólar sobe a R$ 4,90

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira recuava nos primeiros negócios desta terça-feira (21) após quatro altas seguidas, quando atingiu seu maior nível em mais de dois anos. As ações da Vale, no entanto, seguem subindo, apoiadas pelo avanço do minério de ferro no exterior e atenuando as perdas do Ibovespa.

"A gente veio numa alta sem nenhum descanso e estamos vendo o primeiro movimento de correção um pouco mais forte. É saudável, o mercado já estava esperando. Uma correção tende a trazer mais força para a Bolsa ganhar mais fôlego", afirma Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Às 17h17, o Ibovespa caía 0,38%, aos 125.467 pontos.

Já o dólar subiu 0,95% e terminou o dia cotado a R$ 4,897, também em correção após ter registrado forte queda na sessão anterior.

A moeda americana também foi beneficiada pela divulgação da ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que mostrou que as autoridades poderão adotar uma abordagem mais cautelosa para os juros dos EUA, diminuindo o otimismo sobre uma possível antecipação do início do ciclo de cortes das taxas.

"Os participantes destacaram que aperto adicional da política monetária será apropriado se informações recebidas indiquem que o progresso em direção à meta de inflação do Comitê é insuficiente", disse a ata.

Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital, afirma que a ata é compatível com sinalizações recentes de membros do Fed.

"Eles seguem sustentando um discurso de "higher for longer" [juros mais altos por mais tempo], tentando evitar que a curva de juros afrouxe ainda mais as condições financeiras. A economia americana deve seguir crescendo acima do potencial no início de 2024, o que torna mais provável o início do corte de juros no 2º semestre do próximo ano", diz Barbosa.

Já Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, diz que a ata aponta que os indicadores estão na direção certa, mas os números ainda não permitem descuidos por parte Fed.

"Apesar de deixar aberta a possibilidade de uma nova alta de juros, acredito que o conteúdo da ata reforça a visão que vem se consolidando no mercado e entre analistas de que o ciclo de alta provavelmente está encerrado, mas a política monetária deve permanecer restritiva por um bom tempo", diz Igliori.

Para além de razões técnicas e do exterior, há também alguma tensão local que contribui para a aversão a risco, ponderou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Mas o câmbio está muito mais dialogando com a questão internacional, primeiro com os investidores se preparando para feriado [do Dia de Ação de Graças], com menos movimentação de negócios no final da semana nos Estados Unidos", disse.

Entre os desconfortos do mercado no âmbito doméstico, Spiess citou o risco de nova "onda de ingerência política" em estatais depois de informação, noticiada pela Reuters, de que integrantes do governo têm conversado sobre possível substituição do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já que estão descontentes com os rumos da empresa.

A Petrobras, aliás, foi um dos destaques negativos do dia, registrando queda de mais de 1% após notícia sobre a troca de comando.

"A especulação traz um viés muito pessimista para o mercado, uma vez que hoje não há nenhum nome em discussão para assumir o comando da estatal, além de que o atual presidente tem conseguido realizar uma boa administração da empresa diante das pressões sofridas pelo governo", afirma Miguel Rodrigues, sócio da Matriz Capital.

Spiess, da Empiricus, também chama atenção ainda para um "contexto mais atribulado do ponto de vista fiscal", embora tenha reconhecido "vitória" da equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com manutenção, por ora, da meta de déficit primário zero para o ano que vem.

Na ponta positiva, as ações da Vale mantiveram-se em forte alta, acompanhando o minério de ferro no exterior e beneficiada por novas sinalizações do governo da China sobre estímulos ao setor imobiliário.