Empresa que divulga resultados falsos tem que ser punida, diz CEO da BB Asset
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da BB Asset, gestora do Banco do Brasil, Denísio Liberato, afirmou nesta quinta-feira (23) que empresas que divulgam números errados, que acabam prejudicando os investidores, devem receber punição.
Sem citar diretamente a Americanas, Liberato afirmou que quando uma empresa divulga, em um dia, uma dívida de R$ 20 bilhões e depois declara R$ 40 bilhões, ela acaba minando a confiança dos investidores estrangeiros, essenciais para dinamizar a economia do país, segundo o executivo.
"Se a empresa apresentou um balanço falando que tem R$ 20 bi de dívida, não pode um dia depois falar que tem R$ 40 bi. Mostrou para todo mundo os números, as demonstrações contábeis, a gente tem que acreditar", afirmou Liberato durante evento em São Paulo com investidores institucionais, organizado pela Trígono Capital.
A fala foi feita uma semana após a Americanas divulgar a revisão das suas demonstrações contábeis referentes a 2021 e 2022, quando declarou dívidas de R$ 42,3 bilhões e prejuízo de R$ 12,9 bilhões apenas no ano passado.
Contudo, quando o ex-presidente da varejista, Sergio Rial, escancarou "inconsistências contábeis" nos balanços da companhia, depois reconhecidas como fraude, o rombo inicialmente divulgado foi de cerca de R$ 20 bilhões.
"A gente tem que pegar um balanço de uma empresa e tem que acreditar. Não pode ter pegadinha, não pode ter surpresa, porque isso mina a confiança dos investidores em relação ao país. E se era R$ 20 bi de dívida e alguns dias depois não era R$ 20 bi, era R$ 40 bi, tem que ter punição exemplar para que isso não ocorra de novo, para que isso não se repita", completou.
Segundo o CEO da BB Asset, fica difícil explicar para o grande investidor estrangeiro "um revés" nos investimentos por causa de um erro em balanço contábil.
"Estou falando dos maiores fundos de pensão do mundo, dos maiores fundos soberanos de riqueza do mundo. Eles não alocam pouco. Quando eles fazem um cheque, o cheque é grande", disse Liberato.
Segundo o executivo, é importante para o Brasil "organizar a casa" e conseguir atrair com mais força esses investidores, para que a economia brasileira passe por uma virada. "O brasileiro poupa pouco. A capacidade do setor público não é de poupar, é de 'despoupar'. Então, a gente precisa da poupança internacional, que vem desses capitais internacionais, para nos ajudar a crescer".
'MAIS NEGROS EM CONSELHOS'
As ponderações ocorreram enquanto o executivo do Banco do Brasil falava da importância do fortalecimento no Brasil da governança como um braço da agenda ESG --que trata de práticas nas empresas voltadas para a promoção dos pilares ambiental, social e de governança.
Ainda nesse assunto, Liberato também falou sobre a importância da inclusão social e da diversidade nas empresas --inclusive em cargos de liderança e onde ocorrem as tomadas de decisões-- para a redução da desigualdade social e a promoção de um crescimento econômico sólido do país, que também leve em conta o capital humano.
"Você gerar mais igualdade de oportunidade, dar mais acesso àqueles que não tiveram oportunidade, que estão ficando para trás nessa corrida da renda, das oportunidades do mercado de trabalho, faz todo sentido na economia brasileira, que é tão desigual, tão desequilibrada", declarou Liberato.
"Se você atacar esse pilar social, dando oportunidades para as pessoas, as empresas incorporando mais diversidade, trazendo mais negros para o conselho, para as diretorias, para os diversos níveis, isso tem um efeito em cadeia absurdo para reduzir esse 'gap' [buraco] de renda que a gente tem e gerar dinamismo para a economia", completou.
Segundo Liberato, as pessoas que estão no topo da cadeia da renda no Brasil não dinamizam a economia do país, mas acumulam muito e até mesmo evadem as riquezas, consumindo fora do país.